Funcionários europeus estão “chocados” com Durão Barroso
Carta aberta de trabalhadores das instituições europeias tece duras críticas à entrada do ex-presidente da Comissão nos quadros da Goldman Sachs.
Um grupo de funcionários das instituições europeias diz estar “chocado” com a contratação de Durão Barroso pela Goldman Sachs e teme que a decisão venha a “provocar danos no projecto europeu”.
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Um grupo de funcionários das instituições europeias diz estar “chocado” com a contratação de Durão Barroso pela Goldman Sachs e teme que a decisão venha a “provocar danos no projecto europeu”.
Numa carta aberta enviada esta terça-feira às redacções, os funcionários — que não se identificam por se encontrarem “vinculados ao dever de confidencialidade e de discrição profissional” — caracterizam de forma dura a entrada do ex-presidente da Comissão Europeia num “dos bancos mais envolvidos na crise do subprime e, em particular, na crise da dívida grega”.
Os trabalhadores das instituições da União Europeia consideram a decisão de Durão Barroso “moralmente repreensível”. “Julgamos ser altamente prejudicial para o projecto europeu e para as instituições europeias que um ex-presidente da Comissão esteja associado aos valores desenfreados e antiéticos que a Goldman Sachs representa.”
O ex-primeiro-ministro português foi contratado pela Goldman Sachs em Julho para exercer o cargo de consultor na sequência do processo de separação do Reino Unido da União Europeia, conhecido como “Brexit”.
Para os funcionários europeus, o cumprimento do período mínimo de 18 meses em que Barroso não poderia exercer cargos no sector privado não é suficiente. E, por isso, saúdam a decisão do actual líder da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de ter pedido a abertura de um inquérito pelo Comité de Ética sobre o trabalho de Durão Barroso.
“No entanto”, continuam os funcionários, “esta notícia chega dois longos meses depois de a informação se ter tornado pública, e surge como consequência da forte pressão política e da opinião pública ocorrida nas últimas semanas. Perguntamos então porque não foi imediata e automaticamente lançada tal investigação?”
Os funcionários lançaram uma petição online em Julho que já foi subscrita por mais de 140 mil pessoas. O objectivo final é o de, caso o Comité de Ética concluir que Barroso não respeitou os deveres de “integridade e discrição” previstos pelos tratados, assegurar que sejam tomadas “medidas apropriadas, fortes e exemplares” contra o ex-presidente da Comissão, “como a suspensão da sua pensão e a negação de todos os títulos honoríficos possíveis ligados às instituições europeias”.
Os subscritores pedem ainda o reforço das “regras éticas de combate à prática da ‘porta giratória’ por parte de ex-membros da Comissão Europeia”.