Alfama quer manter a alma lisboeta livre da invasão de casas para turistas
O autarca de Santa Maria Maior denuncia a perseguição diária das imobiliárias aos moradores do centro histórico da cidade.
Por ocasião da inauguração da exposição fotográfica Alma de Alfama da artista Camilla Watson, que decorreu na segunda-feira ao final do dia, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, deixou alguns recados à câmara municipal e ao Governo. Miguel Coelho lembrou a importância de manter os lisboetas no centro dos bairros típicos da capital e de controlar o crescimento do alojamento local, que está a empurrar os moradores portugueses para fora da cidade.
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Por ocasião da inauguração da exposição fotográfica Alma de Alfama da artista Camilla Watson, que decorreu na segunda-feira ao final do dia, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, deixou alguns recados à câmara municipal e ao Governo. Miguel Coelho lembrou a importância de manter os lisboetas no centro dos bairros típicos da capital e de controlar o crescimento do alojamento local, que está a empurrar os moradores portugueses para fora da cidade.
“Queremos mostrar os nossos rostos, as nossas caras, as pessoas da freguesia, as pessoas do bairro de Alfama, as pessoas que fizeram História e as que continuam a fazer História. Queremos mostrar as pessoas que lutam todos os dias para que Alfama continue a ser Alfama”, defendeu. É este um dos objectivos da exposição, que o o autarca elogia destacando a importância de mostrar a quem visita Alfama, quer aos turistas portugueses quer aos turistas estrangeiros, “as figuras extraordinárias que dão vida ao bairro”.
Na exposição que perpetua alguns dos rostos mais conhecidos de um dos mais tradicionais bairros lisboetas, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior sublinhou a importância de preservar as tradições e quotidiano destas ruas, garantindo, para isso, que as suas portas sejam de quem lá vive e não de quem lá vai passar férias.
Miguel Coelho dirigiu-se ao presidente da câmara de Lisboa, também presente na cerimónia, sublinhando a certeza de que também Fernando Medina “quer preservar a qualidade de vida das pessoas que moram na cidade de Lisboa”. Ainda assim, Miguel Coelho não se cansou de repetir que, apesar das vantagens trazidas pelo alojamento local, tais como "a recuperação do edificado", o fenómeno “está a ter um efeito muito perverso na cidade”. Medina evitou abordar o assunto.
Ao PÚBLICO, o autarca de Santa Maria Maior reforça que o alojamento local "está a contribuir de uma forma muito acelerada para expulsar as pessoas que aqui moram há dezenas de anos e aos seus descendentes”.
Miguel Coelho denuncia uma “actividade completamente desregulada”, onde, no caso de Alfama, exemplifica, “várias imobiliárias estão permanentemente à caça de pessoas e andares inteiros”. “Passam o dia a intimar as pessoas a sair, sob as mais variadas propostas e argumentações, para poderem transformar os imóveis em alojamento local”, conta. O alojamento turístico "é função dos hotéis, não dos bairros”, assevera.
“Esse fenómeno conjugado com a lei das rendas, que permite que a simples assinatura do técnico de obra obrigue à desocupação de quem lá está dentro, é o suficiente e tem sido aproveitado para expulsar as pessoas, dizendo que o contrato acabou”, critica.
Miguel Coelho afirma que esta gentrificação “é uma forma imoral de correr com pessoas que têm o direito de passar o resto dos dias no sítio onde moraram”. Além disso, os jovens do bairro não conseguem arrendar ou comprar casas, face a este negócio “extraordinariamente rentável que ficou acessível apenas para os turistas estrangeiros”.
“As juntas de freguesia não têm nenhum tipo de poder neste capítulo, mas podemos denunciar, apresentar propostas e manter posição firme em relação à matéria”, explica o autarca. O apelo segue por isso para o Governo, para que legisle “rapidamente” sobre estas matérias e que “não se limite a constituir grupos de trabalho”.
“A câmara de Lisboa tem de reflectir muito bem sobre eventuais medidas de travão e controlo, à semelhança do que aconteceu em Barcelona e Berlim. Temos de analisar a nossa própria realidade e encontrar o nosso caminho para corrigir esta situação”, conclui o presidente da Junta de Freguesia.