Baixo risco de eleições antecipadas leva Cristas a avançar para Lisboa

PSD já deu sinais de que não apoiará a candidatura da líder do CDS-PP. PS acusa líder do CDS de querer apenas “consolidar a sua liderança” no partido.

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Assunção Cristas surpreendeu com o anúncio da candidatura daniel rocha

A convicção de que há um baixo risco de eleições legislativas antecipadas até às autárquicas de 2017 contribuiu para a tomada de decisão da líder do CDS-PP avançar como candidata em Lisboa. Assunção Cristas já recebeu sinais de que não terá o apoio do PSD, apesar de Passos Coelho estar informado, há semanas, da forte inclinação da líder centrista para uma candidatura na capital. O PS não perdeu tempo e acusa Cristas de querer apenas “consolidar a sua liderança”.

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A convicção de que há um baixo risco de eleições legislativas antecipadas até às autárquicas de 2017 contribuiu para a tomada de decisão da líder do CDS-PP avançar como candidata em Lisboa. Assunção Cristas já recebeu sinais de que não terá o apoio do PSD, apesar de Passos Coelho estar informado, há semanas, da forte inclinação da líder centrista para uma candidatura na capital. O PS não perdeu tempo e acusa Cristas de querer apenas “consolidar a sua liderança”.

Assumindo que o PSD e o CDS têm “agendas e calendários próprios”, Assunção Cristas antecipou-se aos sociais-democratas e arriscou o anúncio da sua candidatura, mesmo depois de ter ouvido algumas preocupações por parte dos seus dirigentes sobre essa hipótese. Uma delas é o risco de a "geringonça" falhar e o Governo cair, precipitando-se eleições legislativas. Entre os mais altos dirigentes do CDS, há a convicção de que esse risco é muito baixo e que a aliança entre as esquerdas está bastante cimentada.

Só a aplicação das sanções a Portugal por parte de Bruxelas poderia ter sido um pretexto para demissão do primeiro-ministro. Como não aconteceu nem uma coisa nem outra, os centristas acreditam que muito dificilmente existirá uma crise política nos próximos meses.

Sem o domínio da Câmara Municipal de Lisboa há muitos anos, a líder do CDS-PP deverá avançar sozinha, sem o apoio do PSD. Apesar de os sociais-democratas remeterem uma decisão sobre uma eventual coligação para mais tarde, o líder da concelhia de Lisboa, Mauro Xavier, já veio descartar a hipótese de apoiar um cabeça-de-lista centrista. "O PSD de Lisboa desde sempre recusou qualquer tipo de coligação que não fosse liderada por um militante social-democrata", afirmou à TSF Mauro Xavier. "E, portanto, não há nenhuma potencial coligação em cima da mesa", salientou.

A decisão cabe, no entanto, ao líder do partido que considera ainda ser cedo para anunciar escolhas para as autárquicas. Passos Coelho e Assunção Cristas já tiveram oportunidade de debater as autárquicas, e o caso de Lisboa em particular, até porque em 22 câmaras (como Cascais e Aveiro) os dois partidos partilham o poder. Ficou acertado que só depois de Outubro os dois partidos assinariam o acordo-chapéu para as coligações em todo o país.

Candidata “postiça”

No dia seguinte ao do anúncio, o líder do PS/Lisboa, Duarte Cordeiro, foi duro nas críticas. "Cristas é uma candidata postiça, é uma candidata faz de conta, e apenas apresenta motivações internas para a sua candidatura", disse o socialista citado pela Lusa.

A "única preocupação" de Cristas "parece ser consolidar a sua liderança e ganhar notoriedade numa altura em que o CDS aparece muito fraco nas sondagens", acrescentou o vice-presidente da autarquia.

O local escolhido para o anúncio – Oliveira do Bairro, onde aconteceu a reentreé do CDS – também não foi esquecido. Duarte Cordeiro considera “estranho” uma candidatura a Lisboa ser lançada a 250 quilómetros de distância. “Há um total vazio de ideias. O CDS está apenas preocupado com jogadas internas”, apontou o dirigente socialista, acusando também o PSD de parecer "esgotado" e apenas "discutir soluções do passado" para Lisboa.

Muito mais contido nas palavras, o actual presidente da Câmara, o socialista Fernando Medina, disse transmitir uma “saudação democrática” e “dar as boas-vindas ao debate político para Lisboa à candidata do CDS”, mas lembrou que as eleições ainda estão “a mais de um ano” e que “ainda tem um quarto mandato para cumprir”.

A nível interno, a decisão de Cristas foi elogiada por um dos seus críticos, o ex-deputado Raul Almeida, pela sua “coragem”. Mas não sem reparos. Numa nota publicada no Facebook, Raul Almeida lembrou que o “CDS tem nomes de altíssima qualidade para Lisboa”. E referiu mesmo que “a par de Assunção Cristas, Adolfo Mesquita Nunes e João Gonçalves Pereira [o único vereador em Lisboa] tinham e têm o perfil, a qualidade, a força e o reconhecimento público para encabeçar uma lista CDS que possa ambicionar um resultado histórico”.

No mesmo sentido, o líder da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, também elogia a “coragem e o desassombro” de Cristas, declarando o apoio à candidata. Mas lembra que Assunção é “a cereja no topo do bolo” da “proverbial liderança da oposição ao socialismo de Medina protagonizada por João Gonçalves Pereira [também presidente da distrital de Lisboa]”.