Quem quer ser um consumidor responsável?
Produção intensiva de óleo de palma está a destruir o habitat natural de espécies como os orangotangos. É usado em milhares de produtos mas são poucos os que conhecem o seu impacto no ambiente.
O óleo de palma pode parecer exótico para o mundo ocidental, mas está em milhares de produtos nos supermercados e despensas das famílias. Da margarina aos gelados, das bolachas aos detergentes de roupa, nas velas, nos cremes e batons, este produto surge muitas vezes nos rótulos escondido na designação “óleos e gorduras vegetais”. A sua produção intensiva, através da extracção da polpa dos frutos que nascem nas palmeiras, está a substituir florestas tropicais e a destruir habitats de espécies animais, incluindo orangotangos, à medida que a procura mundial se intensifica.
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O óleo de palma pode parecer exótico para o mundo ocidental, mas está em milhares de produtos nos supermercados e despensas das famílias. Da margarina aos gelados, das bolachas aos detergentes de roupa, nas velas, nos cremes e batons, este produto surge muitas vezes nos rótulos escondido na designação “óleos e gorduras vegetais”. A sua produção intensiva, através da extracção da polpa dos frutos que nascem nas palmeiras, está a substituir florestas tropicais e a destruir habitats de espécies animais, incluindo orangotangos, à medida que a procura mundial se intensifica.
É o óleo mais barato, o que consegue maiores volumes de produção face à colza, óleo de girassol ou soja e a sua produção não tem parado de aumentar. O departamento de agricultura do governo americano estima que este ano se atinjam as 65,5 milhões de toneladas, mais 10,25% do que em 2015. A Indonésia e a Malásia fornecem 85% deste produto e, no caso da Indonésia, o único ano desde 1964 em que não se registou um aumento homólogo anual da produção foi em 1997. As taxas de crescimento são quase sempre expressivas: 14% em 2008, 11% em 2011, 6% em 2016.
Quem faz a sua lista de compras estará muito longe de pensar no impacto que a produção intensiva deste produto tem no ambiente e o efeito directo na sobrevivência de espécies animais. E o mesmo é válido para milhares de outros alimentos que consumimos diariamente. O consumo responsável é um caminho ainda por desbravar para a maioria das pessoas. “Os consumidores portugueses quando vão fazer compras estão longe de pensar se o produto que estão a adquirir teve algum impacto a nível da sustentabilidade, no ambiente, em quem o produziu e em que condições. Ainda estamos muito no início da sensibilização para esta realidade”, diz José António Rousseau, presidente do Fórum do Consumo que vai lançar, em Outubro, a segunda edição do Observatório de Consumo Consciente.
O factor preço ainda domina a escolha, sobretudo, depois dos efeitos da crise económica que trouxeram maior racionalidade ao acto de consumir. Mas Luísa Schmidt, socióloga e investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, acredita que quanto mais informação o consumidor tiver ao seu alcance, mais consciente será a sua escolha. Um estudo recente feito pelo ICS para a Missão Continente revela que 34,5% dos 1500 inquiridos estariam dispostos a mudar hábitos de consumo tendo em conta questões de justiça sócio-ambiental. E quase 57% defende que um consumo responsável passa por “evitar a produção e importação de produtos e serviços com impactos negativos no ambiente e nos direitos sociais”.
“Se perceberem os processos de produção e os impactos negativos ambientais e sociais, pensam duas vezes. O problema é que a rotulagem raramente indica qual o processo de produção ou se o produto é local”, começa por dizer a investigadora. Os dados revelados pelo estudo mostram que a preocupação com o que se come é cada vez maior, mas Luísa Schmidt admite que “há um afastamento entre a preocupação” e o resultado prático. O “consumidor ético” existe e está em emergência, contudo, ainda é um nicho. “São, sobretudo, os mais jovens e escolarizados e quem tem filhos os que pensam mais no impacto que a sua opção terá”, explica.
José António Rousseau sublinha que há uma “componente de egoísmo” no acto de consumidor, mas acredita que “a tendência é ir encontrando os pontos de equilíbrio necessários”. “Quanto mais empresas, pessoas e cidadãos forem tomando conhecimento destas preocupações, mais tarde ou mais cedo iremos encontrar a maneira certa de fazer as coisas”, sustenta.
Mas será tarde demais? “A urgência é enorme e os processos de mudança cultural e social são lentos. As pessoas foram obrigadas a racionalizar o seu consumo e lazer, olham cada vez mais para a rotulagem, preocupam-se com a saúde. Perante as adversidades, arranjam-se soluções que vêm para ficar”, diz por seu lado Schmidt. A consciência sobre os problemas vem, às vezes, “de um abanão”.