ONG suspendem cooperação com Nações Unidas contra “manipulação” de Assad

“Os sírios sofrem ainda mais como resultado da manipulação síria e da complacência das Nações Unidas”, acusam 73 destes grupos.

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Uma foto oficial do regime onde se vêem viaturas da ONU e do Crescente a levar ajuda a Homs AFP

Activistas e opositores, membros de organizações não-governamentais a operar na Síria ou junto das suas fronteiras, na Turquia, muitas têm sido as vozes a falar contra a indulgência das agências da Organização das Nações Unidas face à utilização da fome como arma de guerra por parte do regime sírio ou à manipulação mais genérica que Damasco faz da ajuda humanitária. A ONU defende-se e diz ser imparcial, mas ter as escolhas limitadas. Para 73 ONG, a resposta já não chega.

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Activistas e opositores, membros de organizações não-governamentais a operar na Síria ou junto das suas fronteiras, na Turquia, muitas têm sido as vozes a falar contra a indulgência das agências da Organização das Nações Unidas face à utilização da fome como arma de guerra por parte do regime sírio ou à manipulação mais genérica que Damasco faz da ajuda humanitária. A ONU defende-se e diz ser imparcial, mas ter as escolhas limitadas. Para 73 ONG, a resposta já não chega.

Num texto enviado em exclusivo ao diário britânico The Guardian (que recentemente divulgou a atribuição de contratos de dezenas de milhões de dólares da ONU a próximos de Bashar al-Assad), os grupos explicam a decisão de suspender a colaboração com as Nações Unidas por não poderem mais “tolerar a manipulação dos esforços de ajuda humanitária pelos interesses políticos do Governo sírio, o que priva outros sírios em áreas cercadas dos serviços desses programas”.

Entre as 73 ONG que assinam este texto – e assim se retiram do programa de partilha de informação conhecido por "Toda a Síria" – está a Defesa Civil da Síria (“Capacetes Brancos”) ou a Sociedade Médica Sírio-Americana, que ajudam seis milhões de pessoas. Na prática, isto significa que a ONU vai perder os “olhos” no Norte da Síria e em todas as áreas sob controlo de grupos da oposição, onde a maioria destas ONG opera.

“O Governo sírio interferiu com a distribuição de assistência humanitária em múltiplas ocasiões, incluindo o bloqueio de ajuda a áreas cercadas, a retirada de ajuda médica dos camiões carregados com material de várias agências, a escolha de ignorar os relatórios de necessidades e a informação vinda de actores humanitários em fases críticas do planeamento de resposta à crise”, escrevem os representantes das ONG na carta enviada ao Gabinete de Coordenação Humanitária (OCHA) da ONU, após uma reunião em Gazientep, na Turquia.

Este ultimato chega depois de meses de frustrações e críticas à estratégia das Nações Unidas para ajudar os milhões de sírios que permanecem dentro do seu país, incluindo 600 mil que vivem em zonas completamente cercadas. O alvo das ONG não se chama apenas ONU; tão criticado é o Crescente Vermelho Árabe Sírio, o seu principal parceiro. Muitas vezes, explicam os responsáveis destes grupos, as suas contribuições são retiradas dos relatórios pelo OCHA em Damasco, que toma todas as decisões finais em conjunto com o Crescente Vermelho.

Os gémeos Moaz e Nawras

As ONG explicam ter “perdido a esperança que as agências da ONU ou o Crescente Vermelho tomem medidas concretas para responder às violações dos direitos humanos na Síria de forma a poderem proteger os sírios ou a porem fim às evacuações forçadas de certas zonas”, assim como desistiram de ver a resposta da ONU acontecer “independentemente das prioridades políticas do Governo” ou de ver a ONU ajudar a pôr fim à fome como arma de guerra.

“Também isto falhou [as pressões para as Nações Unidas contribuírem para o fim do uso da fome como arma]. A manipulação deliberada do Governo andou a par com a complacência da ONU. Como resultado, os sírios sofreram ainda mais”, escrevem estes grupos de ajuda.

Infelizmente, não faltam exemplos para comprar as afirmações. Como o dos gémeos siameses Moaz e Nawras Hashash, que morreram com um mês em Damasco, à espera de viajarem para ser operados. “As ONG sírias enviaram uma proposta completa [à ONU e ao Crescente Sírio] a oferecerem tratamento médico. Não recebemos resposta e ficámos em alerta, à espera, até sabermos das mortes”, descrevem, um caso em que “a inacção resume a ineficácia e a inércia dos actores humanitários em Damasco”.