MOTELx, dez anos sempre a crescer com o cinema de terror
Um festival old school, feito para o público e sempre “em esforço”, celebra a partir desta terça-feira os seus dez anos, pela primeira vez com uma secção competitiva de longas-metragens.
Dez anos... “é muito tempo”, trauteia entre risos João Monteiro, evocando um velho êxito de Paulo de Carvalho e levando à gargalhada geral os quatro directores do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. “A partir de certo momento, fazes seis edições e começas a pensar que um dia vai acabar, ou até onde podemos crescer. Mas a verdade é que até ao nono ano estivemos sempre a crescer. Ficamos um bocado atordoados quando vemos uma sala completamente cheia. É uma experiência que as pessoas procuram, e gosto de pensar que é para isto que os festivais ainda existem.”
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Dez anos... “é muito tempo”, trauteia entre risos João Monteiro, evocando um velho êxito de Paulo de Carvalho e levando à gargalhada geral os quatro directores do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. “A partir de certo momento, fazes seis edições e começas a pensar que um dia vai acabar, ou até onde podemos crescer. Mas a verdade é que até ao nono ano estivemos sempre a crescer. Ficamos um bocado atordoados quando vemos uma sala completamente cheia. É uma experiência que as pessoas procuram, e gosto de pensar que é para isto que os festivais ainda existem.”
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Dez anos é, então, o número redondo celebrado este ano pelo MOTELx, numa edição que arranca oficialmente esta noite com a antestreia de Nem Respires, de Fede Alvarez, sucesso-surpresa do Verão americano que chega esta quinta-feira às nossas salas. Ao longo de seis dias, até 11 de Setembro, o evento iniciado em 2007 pelo Cine-Clube de Terror de Lisboa ocupa as salas do São Jorge, do Tivoli e do Palácio Foz (Cinemateca Junior) com meia centena de longas-metragens (entre as quais o documentário de Noah Baumbach e Jake Paltrow sobre Brian de Palma ou o mais recente filme de Olivier Assayas, Personal Shopper, com Kristen Stewart), retrospectivas dedicadas a Ruggero Deodato (o autor de Holocausto Canibal, convidado do festival) e ao polaco Walerian Borowczyk, a primeira secção competitiva de longas-metragens da história do festival e os habituais laboratórios criativos e actividades paralelas. (O programa completo pode ser consultado no site oficial).<_o3a_p>
João Viana, que com Monteiro, Carlos Pontes e Pedro Souto dirige o MOTELx desde o primeiro ano, fala de um “contínuo”, de uma “roda que se vai agigantando” – “Nunca deixamos cair aquilo que já fomos fazendo. Os nossos objectivos não são estanques no tempo; é mais sabermos para onde queremos ir e não perder o Norte, e por mais que cresçamos manter sempre o espírito de partilha e de convívio, estarmos atentos e próximos do público.” “Não há uma barreira entre a organização e o público”, reforça Monteiro. “O próprio género subentende essa abertura, não é um festival formal. Nunca escondemos os convidados, sempre houve um espaço para os espectadores poderem pedir autógrafos, falar com as pessoas.”<_o3a_p>
É por isso que o festival tem continuado a crescer em espectadores ao longo da década, contrariando as tendências do mercado. Em 2007, a primeira edição do MOTELx atraiu 4000 espectadores; em 2015, a nona teve 17400 (o seu recorde de sempre e, de acordo com os números fornecidos pelo ICA, uma assistência superior até ao Fantasporto desse ano, que contabilizou apenas 16 mil). Nenhum outro festival nacional se pode gabar, ao longo da última década, de um crescendo contínuo de espectadores (a única “quebra”, ainda assim mínima, deu-se em 2014). “Mas nunca vivemos com essa obsessão do crescimento”, explica Carlos Pontes. “Claro que vemos os números, mas aquilo que nos move é reinventar o festival. Há sempre o risco de cair em fórmulas, e o nosso desafio é proporcionar novas experiências.” Viana fala de um “festival old school, em esforço, que está sempre no limite”; Monteiro atribui o sucesso ao facto de o público (já fiel) reconhecer uma dimensão de empenho pessoal em quem o faz, quase de “carolice” (“porque ninguém ganha a vida com o cinema de terror”). “Fizemos sempre o festival sem objectivo comercial. Se um dia o fizermos para ganhar dinheiro, vamos enterrar-nos completamente”, ri-se. <_o3a_p>
Desde 2011 representante português na Federação Europeia dos Festivais de Cinema Fantástico, o MOTELx recebe em 2016 a sua primeira competição de longas, o Prémio Longas de Terror Europeia, atribuído por um júri formado pelos realizadores Ruggero Deodato e Mick Garris e pelo vocalista dos Moonspell, Fernando Ribeiro. Souto diz que a direcção "queria uma competição que expressasse a variedade de países e de abordagens ao filme de terror": "Estávamos ligeiramente preocupados com um possível excesso de filmes ingleses ou espanhóis. Felizmente, vieram ter connosco filmes de muitos países diferentes, e todos excelentes.” Os sete títulos a concurso tanto vêm de países regulares no género como a Espanha (a animação Psiconautas) e o Reino Unido (K-Shop) como de origens menos habituais, como a República Checa (com The Noonday Witch, de Jiri Sádek) ou a Turquia (Baskin, de Can Evrenol).<_o3a_p>
A esse respeito, é necessário falar daquele que tem sido o grande “cavalo de batalha” do MOTELx ao longo dos anos: a aposta no cinema de género feito em Portugal. É por essa razão que o certame tem celebrado António de Macedo, talvez o único cineasta português a apostar consistentemente no fantástico, mostrando inclusive um filme inédito do realizador (O Segredo das Pedras Vivas, título que esconde o director’s cut de O Altar dos Holocaustos, mini-série realizada em 1992 para a RTP). É também por isso que o MOTELx mantém intacta a competição de curtas de terror feitas em Portugal que arrancou em 2009 (este ano com dez obras a concurso, entre as quais Por Diabos, de Carlos Amaral, um dos melhores títulos do Curtas Vila do Conde 2016, e A Caverna, de Edgar Pêra). <_o3a_p>
Num país onde não existe verdadeiramente uma indústria nem um mercado que sustente uma produção regular de cinema, Carlos Pontes fala da necessidade de “escrever a história” para evitar que as coisas caiam no esquecimento. “Se não há esse trabalho, as coisas ficam sempre como fogacho. O festival acaba por ser aglutinador de uma produção que vai começando a existir, e o nosso papel passa por estimulá-la, por ter um espaço de criação.” “O avanço [na produção] não é extraordinário”, complementa João Monteiro, “mas existe, e acreditamos nele. Constituimo-nos um bocado como uma escola de cinema de terror, e esperamos que ao fim deste tempo as coisas possam ter algum efeito. Daqui para a frente é que vamos começar a ver se o festival pode ter algum papel. A continuidade do fogacho é que é importante.”
Encontro marcado para daqui a dez anos? <_o3a_p>