A felicidade é um lugar em África
Maliano Malick Sidibé é o nome central da edição deste ano dos Encontros da Imagem, que começam a 20 de Setembro em Braga. Por lá estarão também Brian Griffin e Cristina de Middel.
O Mali tornou-se um país independente em 1960, e Malick Sidibé (1936-2016) estava lá para o fotografar. A partir do seu estúdio, ou nas incursões em festas e outros lugares de lazer, registou a alegria das pessoas ou a sua curiosidade por tudo o que de novo se passava à sua volta. Isso fez dele um dos mais reconhecidos artistas do seu país e um nome incontornável da fotografia feita em África. Os Encontros da Imagem, que começam a 20 de Setembro, em Braga, homenageiam-no, numa edição em que o continente africano é peça fundamental para uma reflexão sobre os lugares da felicidade.
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O Mali tornou-se um país independente em 1960, e Malick Sidibé (1936-2016) estava lá para o fotografar. A partir do seu estúdio, ou nas incursões em festas e outros lugares de lazer, registou a alegria das pessoas ou a sua curiosidade por tudo o que de novo se passava à sua volta. Isso fez dele um dos mais reconhecidos artistas do seu país e um nome incontornável da fotografia feita em África. Os Encontros da Imagem, que começam a 20 de Setembro, em Braga, homenageiam-no, numa edição em que o continente africano é peça fundamental para uma reflexão sobre os lugares da felicidade.
O Estúdio Malick, localizado no bairro popular de Bagadadji, na capital do Mali, Bamako, abriu dois anos após a independência do país. Foi ali que Sidibé desenvolveu a sua actividade como retratista, que é uma parte fundamental da exposição La vie en rose, que estará no Museu da Imagem de Braga, no âmbito dos Encontros da Imagem. A exposição tem curadoria de Laura Serani e Laura Incardona, e apresenta uma selecção de cerca de 50 fotografias tiradas entre 1960 e 1970. Além dos retrados, reúnem-se fotografias das noites de Bamako e as tardes de férias passadas nas margens do rio Niger, registos de um país que reagia às novidades que chegavam da Europa, da Índia e dos Estados Unidos no cinema, mas principalmente na música.
A escolha de Sidibé para uma das exposições de maior destaque dos Encontros da Imagem deste ano é “uma homenagem” do festival de Braga ao fotógrafo falecido em Abril. E foi também a forma de convocar um nome fundamental da fotografia em África e trazer os seus registos da felicidade de um país que se liberta para uma edição que tem precisamente esse tema.
Os Encontros da Imagem – que se prolongam até 5 de Novembro – propõem “uma reflexão sobre a felicidade”, explica a sua directora, Ângela Ferreira. O festival quis juntar-se ao movimento que está a dominar os principais eventos do género em termos internacionais, que têm vindo a dedicar as últimas edições às questões das guerras e das migrações, com especial enfoque na crise dos refugiados. “Nós estamos a fazer isso, mas com um colorido especial”, promete Ângela Ferreira.
O festival mantém a sua matriz festiva – o subtítulo A place in the sun volta a ser pedido emprestado a uma canção, desta vez de Stevie Wonder – e um conjunto de propostas assumidamente kitsch. Mas entre as dezenas de exposições que se propõe no programa da edição deste ano encontra-se uma coerência em torno do tema e uma presença muito forte de trabalhos fotográficos relacionados com África.
A incursão africana prossegue na Casa dos Crivos, com Lexicon, de Viviane Sassen, artista holandesa multipremiada – entre outros galardões, recebeu no ano passado a medalha David Octavius Hill, da Academia Alemã de Fotografia. Na mostra reunida em Braga são apresentadas imagens das publicações Flamboya (2008) e Parasomnia (2011), bem como algumas outras fotografias mais antigas e que ainda não tinham sido publicadas. As fotografias de Sassen foram feitas a partir de muitas das suas viagens a países como África do Sul, Zâmbia, Quénia, Uganda, Tanzânia, Gana e Senegal.
Felicidade em português
A reflexão sobre a felicidade faz-se também em português. Em Aceita-O – Um Álbum Português 1919-1979 (Museu Nogueira da Silva), Céline Gaille, fotógrafa francesa que vive em Lisboa há dois anos, inventou um álbum de uma família de ficção a partir de fotografias encontradas na Feira da Ladra que retratam a presença colonial portuguesa nos países africanos durante o século XX, para colocar em causa a narrativa colectiva em torno da vida dos colonos.
Arquipélago, ensaio fotográfico de João Ferreira nas ilhas de São Vicente e Santo Antão, em Cabo Verde, foi feito em 2015 como projecto de documentação da realidade de um país a comemorar 40 anos de independência.
A exposição de João Ferreira é uma das seleccionadas para os Prémios Descoberta, a mostra de 20 “autores-descoberta” escolhidos pelo festival, que pode ser vista no Mosteiro de Tibães. Este monumento é um dos dois pontos nevrálgicos da programação dos Encontros da Imagem deste ano, juntamente com a Casa Esperança, uma vidraria centenária, encerrada desde 1999, situada na Rua de Janes, no centro histórico da cidade, onde o festival reúne obras de 16 artistas.
É aqui que encontramos a última paragem do périplo africano que o festival propõe, com Pony Congo, uma série de Vicente Paredes que põe em confronto duas infâncias africanas. As crianças da elite branca, de caras censuradas, a aprenderem a montar os seus póneis, em contraste com os sorrisos dos pobres negros. Um cliché que é aqui explorado com ironia.
Será também na Casa Esperança que vamos encontrar o mais recente trabalho de Cristina de Middel, que regressa ao festival depois de no ano passado ter apresentado This is what hatred did. A fotógrafa espanhola prossegue a investigação sobre a relação entre a fotografia e a verdade para contar a “história real” de uma expedição em 1911 a Jan Mayen, uma ilha ao largo da Gronelândia. Os exploradores nunca lá terão chegado, e De Middel mostra como as fotografias que existem dessa expedição terão sido, afinal, dramatizadas na Islândia.
Cristina de Middel é um dos grandes nomes da edição deste ano dos Encontros da Imagem, a que se junta Brian Griffin. O fotógrafo britânico traz a Braga uma retrospectiva da carreira iniciada nos anos 1970 e que mudou a forma como a fotografia trabalha o retrato, criando imagens icónicas de políticos e homens de negócios, mas sobretudo de artistas, com destaque para a indústria musical. No festival veremos, entre outros, os retratos de Siouxsie e de Nick Turner.
Cristina de Middel e Brian Griffin são também dois dos convidados do simpósio Repensar a fotografia: Pode a fotografia fazer a diferença, que é uma das novidades do programa dos Encontros da Imagem deste ano. “Era tempo de o festival ser também um espaço de reflexão sobre a fotografia e o seu lugar na actualidade”, justifica Ângela Ferreira. O encontro acontece no Museu Nogueira da Silva, no dia 23 de Setembro, durante a semana de abertura do festival (que vai dos dias 20 a 25).
Essa iniciativa reúne outros fotógrafos presentes em Braga, como Bruno Morais (Nada é o que parece, Casa Esperança) e Karen Knorr (The Lanesborough, Casa Esperança), bem como artistas e curadores como o brasileiro Luiz Carlos Felizardo, a portuguesa Teresa Siza e Neal Slavin, norte-americano que fez uma série histórica no Portugal do final dos anos 1960 e está de regresso ao país para preparar um documentário.