Finalmente, Uzbequistão anuncia a morte do seu Presidente
Após dias de expectativa, e vários outros países terem anunciado o óbito e feito planos para ir ao funeral, foi feito anúncio oficial.
Finalmente, é oficial: Islam Karimov, o Presidente do Uzbequistão, morreu com 78 anos de idade. Após vários dias de especulação sobre se estaria vivo ou morto, desde que foi levado para o hospital, devido a uma hemorragia cerebral, as autoridades uzbeques reconheceram o óbito do Presidente que há 27 anos governava o país, ainda antes de a União Soviética se ter desfeito.
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Finalmente, é oficial: Islam Karimov, o Presidente do Uzbequistão, morreu com 78 anos de idade. Após vários dias de especulação sobre se estaria vivo ou morto, desde que foi levado para o hospital, devido a uma hemorragia cerebral, as autoridades uzbeques reconheceram o óbito do Presidente que há 27 anos governava o país, ainda antes de a União Soviética se ter desfeito.
Estava a tornar-se impossível manter o segredo, depois de o primeiro-ministro turco ter expressado as condolências do Governo de Ancara, esta sexta-feira, gesto seguido por vários outros países, que fizeram também preparações para os seus governantes irem assistir ao funeral no sábado.
Assim, o Parlamento e o Governo do Uzbequistão emitiram um comunicado conjunto, lido na televisão estatal, anunciando a morte. Shavkat Mirziaev, primeiro-ministro desde 2003, dirige uma comissão que preparará as cerimónias do funeral, no sábado, em Samarcanda, a cidade natal de Karimov. Durante o dia, as autoridades repetiam apenas que o estado do Presidente era “crítico”.
A agência noticiosa russa Interfax deu a notícia do óbito, mas voltou atrás, dizendo que tinha havido "um erro técnico". Só depois do anúncio oficial Vladimir Putin expressou as suas condolências.
O Uzbequistão é um regime autoritário, onde o uso da tortura é “frequente”, segundo as Nações Unidas. Karimov governava o país desde 1989. Foi o último líder do Partido Comunista da então República Socialista Soviética do Uzbequistão e fez a transição para a nova república independente, em 1991, mantendo-se no poder.
Os seus críticos descrevem-no como um déspota autoritário, que controlou totalmente todos os níveis da administração do país mais populoso da Ásia Central, com 30 milhões de habitantes; os que o defendem salientam a relativa estabilidade económica do país, que se constituiu como uma barreira ao avanço do islão radical.
A falta de informação sobre a vida ou morte de Karimov assumiu proporções ridículas. Houve quem chamasse a Karimov o Presidente Schrödinger, numa alusão a uma experiência mental do gato de Schrödinger, que ilustra um princípio da física quântica: só quando se abre a caixa é que se sabe se o gato está vivo ou morto. Outras piadas a circular nas redes sociais dão-no como convidado especial numa série de zombies, ou então no elenco do filme Fim de Semana com o Morto.
Repressão e violência
Os 27 anos de governação de Karimov, no entanto, têm muito pouco de divertido. Há muito criticado no Ocidente e por grupos de defesa dos direitos humanos pela sua liderança autoritária, Karimov, reeleito em 2015 com 90% dos votos, não tem um sucessor óbvio. A sucessão deve ser decidida nos bastidores, por um grupo restrito de familiares e dirigentes políticos.
Em 2005, reprimiu violentamente uma revolta popular na cidade de Andijan, no Leste do país, que temeu ser uma revolução como as que afastaram governos pró-soviéticos na Geórgia e na Ucrânia, as chamadas "revoluções coloridas". Pelo menos 300 a 500 pessoas terão morrido, quando o Exército disparou sobre a multidão, numa avaliação feita pela Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
A revolta começou quando um grupo armado libertou centenas de detidos de uma prisão de alta segurança da cidade e se apoderou da sede da sede da administração regional. A insurreição que tinha como objectivo libertar empresários locais, acusados de ligações a grupos fundamentalistas islâmicos, mas rapidamente se transformou emcontestação ao Presidente uzbeque.
No ano seguinte, o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), dirigido então pelo português António Guterres, recebeu ordem do Governo do Uzbequistão para deixar o país no prazo de um mês. De então para cá, tem tentado uma lenta reaproximação à comunidade internacional, oscilando entre os pólos Rússia e Washington. Em 2011, Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia, foi muito criticado por tê-lo recebido.
Durante anos, a preferida para a sucessão de Karimov era a sua filha mais velha, Gulnara, de 44 anos. Mas em 2013, entrou em colisão com o pai, que comparou a Estaline. Gulnara, que tentou ser uma cantora pop e chegou a ser embaixadora do país nas Nações Unidas, gostava de se apresentar ao lado do actor francês Gérard Depardieu, e controlava um grande número de empresas. É hoje procurada por fraude no Ocidente. Mas julga-se que está em prisão domiciliária, depois de ter entrado em conflito com a família.
A irmã mais nova, Lola Karimova-Tilliaeva, embaixadora do Uzbequistão na UNESCO, em Paris. Numa rara resposta aos media, em 2013, disse não ter ambições políticas. Mas dificilmente não terá uma palavra a dizer na escolha do sucessor do pai.
Os candidatos mais óbvios à sucessão são o primeiro-ministro desde 2003, Shavkat Mirziaev, e o director dos serviços de segurança desde 1995, Rustam Inoiatov. “Se houver um desentendimento ou conflito entre diferentes pessoas em jogo, vão tentar mantê-lo atrás de portas. Os riscos multiplicam-se se não forem capazes de passar para fora uma máscara de unidade”, declarou Deidre Tynan, director da organização não-governamental International Crisis Group na Ásia Central.
Há pouca esperança de haver uma transição democrática.