Professores de Português também querem flexibilidade nos programas do secundário

Ministério da Educação diz que "nada ainda está em curso" nesse sentido.

Foto
Os portugueses depositam maior confiança nos professores do que no sistema de ensino ADRIANO MIRANDA

Os professores de Português defendem que os programas da disciplina no ensino secundário devem ser corrigidos para dar maior liberdade ao docente e adequar a matéria ao tempo de aulas previstas na carga lectiva.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os professores de Português defendem que os programas da disciplina no ensino secundário devem ser corrigidos para dar maior liberdade ao docente e adequar a matéria ao tempo de aulas previstas na carga lectiva.

"Chegámos à conclusão que o programa não era exequível. É de tal forma extenso que não o conseguimos cumprir", disse à agência Lusa a presidente da Associação de Professores de Português (APP), ao comentar o programa do 10.º ano, que entrou em vigor no ano passado.

Edviges Antunes Ferreira sublinhou que o número de aulas previstas para o programa é "três ou quatro vezes superior" às que estão previstas na carga lectiva para a disciplina.

"Este é um programa só de literatura. Não há tempo para algo fora do texto literário. Temos um cânone que espartilha o professor", lamentou.

Só com literatura, frisou, o aluno "não se prepara para ter uma perspectiva crítica" sobre outras questões.

Também a presidente da Associação Nacional de Professores de Português (ANPROPORT) admitiu que no 10.º ano alguns objectivos "não foram alcançados".

"Em algumas escolas não foi assim tão fácil. Deixaram conteúdos para o 11.º ano", afirmou Rosário Andorinha.

Para a responsável pela ANPROPORT, devem ser feitos ajustes, com uma reavaliação de todos os programas.

"Há uma necessidade de fazer reajustes, saber o que correu mal em cada escola", indicou, acrescentando: "Somos defensores deste programa, mas sem fundamentalismos".

Rosário Andorinha defendeu que o êxito passa também por "um grande trabalho de planificação" por parte do docente.

"Recusamos totalmente a mudança por mudar. É preciso conhecer os factos primeiro", sublinhou.

Edviges Ferreira antecipou, por seu lado, que o programa do 12.º ano -- que entrará em vigor no ano lectivo 2017 - 2018) deveria ser "corrigido antes de os livros serem feitos.

"Temo que possa acontecer com o 12.º ano o que aconteceu com as provas de aferição do 8.º ano, que foi um desastre", declarou.

Sobre o programa do 11.º ano, prestes a iniciar-se, afirmou que por vezes não leva os alunos a ler a obra completa: "Dizem os capítulos que devemos ler com os alunos".

"Os Maias" ou "A Ilustre Casa de Ramires" são obras obrigatórias, quando em anos anteriores os professores podiam escolher entre outros livros de Eça de Queiroz, referiu.

Em Cesário Verde, por exemplo, "a temática da mulher desaparece".

"Dão-nos uma lista de poemas e só podemos leccionar aqueles. Mesmo que queiramos ir mais longe, não há tempo", desabafou.

De acordo com a professora, em 2017-18 sairá do programa do 12.º ano o livro "Memorial do Convento" e entrará "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago.

"Mas depois de dois anos os professores já podem escolher outra obra. Porquê dois anos?, não confiam nos professores para conhecerem outros livros logo de início", questionou.

"Sentimos absoluta necessidade de reajustes para maior liberdade ao professor, retirar este ou aquele conteúdo", sustentou. No fundo, permitir que o docente "não esteja obcecado em cumprir cento e tal metas para cada aluno".

À semelhança do que aconteceu com os programas e metas de matemática no ensino básico e secundário, os professores de Português gostariam de ver alguma flexibilização na gestão das matérias que têm de leccionar.

Porém, contactada pela Lusa, fonte do Ministério da Educação afirmou que, neste momento, "nada ainda está em curso" nesse sentido.