Mais de mil detidos em violência pós-eleitoral no Gabão
Pelo segundo dia houve confrontos nas ruas de Libreville, em protesto contra resultados que dão a reeleição ao Presidente Ali Bongo.
Pelo segundo dia consecutivo Libreville, a capital do Gabão, foi palco de violentos protestos contra a reeleição do Presidente Ali Bongo, numa votação renhida que os apoiantes do candidato rival, o antigo Presidente da União Africana Jean Ping, dizem ter ficado manchada por fraudes.
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Pelo segundo dia consecutivo Libreville, a capital do Gabão, foi palco de violentos protestos contra a reeleição do Presidente Ali Bongo, numa votação renhida que os apoiantes do candidato rival, o antigo Presidente da União Africana Jean Ping, dizem ter ficado manchada por fraudes.
A Reuters noticiou que ao amanhecer havia registo de tiroteios e saques em pelo menos nove bairros da capital. Um jornalista da AFP conta que na avenida frente ao Parlamento nacional, incendiado quarta-feira por manifestantes, vários edifícios e automóveis foram também destruídos pelas chamas. Os habitantes adiantam ainda que o acesso à Internet foi cortado, horas depois de as redes sociais terem sido bloqueadas.
Segundo o ministro do Interior, mais de mil pessoas foram detidas desde quarta-feira – mais de 600 só em Libreville – e há registo de pelo menos três mortos, cujas identidades não revelou.
Em entrevista à BBC, Ping afirmou que um helicóptero da guarda presidencial bombardeou a sede da sua campanha, provocando a morte de dois ocupantes. Um responsável do Governo respondeu que a operação foi lançada para eliminar os “criminosos” responsáveis pelo incêndio no Parlamento.
“A democracia não se dá bem com os sucessos autoproclamados, com grupúsculos formados para a destruir. A democracia não convive bem com um assalto ao parlamento”, reagiu Bongo, num discurso em que garantiu que “os eleitores já emitiram o seu veredicto”.
Segundo os resultados oficiais, divulgados quarta-feira à tarde, Ali Bongo – que em 2009 sucedeu ao pai, o veterano Omar Bongo, que durante 42 anos presidiu aos destinos do país –, foi reeleito por 49,8% dos votos, contra 48,23% atribuídos a Ping. O veterano diplomata, que foi próximo do antigo chefe de Estado, venceu em seis das nove províncias do país, e exigiu de imediato a divulgação completa dos resultados na província natal de Bongo, onde a participação eleitoral superou oficialmente os 99% e o Presidente obteve 95% dos votos.
França, a antiga potência colonial, e as Nações Unidas lançaram um apelo à calma, na mesma altura em que vários países defenderam uma recontagem dos votos, que o Governo não parece disponível a aceitar. “Fazemos eleições em função das leis do Gabão. As pressões internacionais devem ter em conta a nossa lei e não o contrário”, reagiu um porta-voz do Presidente.