Maduro, porque não te vais?
O Presidente da Venezuela bem pode gritar que “a culpa é dos americanos!”. Mas quase só os militares estão do seu lado, enquanto o país se desmorona.
A Venezuela vive tempos desesperados. A economia entrou em colapso e, com ela, o mais vago sentido de normalidade.
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A Venezuela vive tempos desesperados. A economia entrou em colapso e, com ela, o mais vago sentido de normalidade.
As lojas não têm comida. Há falta de todo o tipo de medicamentos. Os tribunais não funcionam. A procuradoria-geral da República é hoje um centro de distribuição de alimentos para os funcionários públicos. As pilhagens de lojas são a regra. Para poupar electricidade, a administração pública só funciona dois dias por semana e as escolas fecham às sextas. A água é racionada. Nos subúrbios da capital só chega uma vez por semana e em muitas zonas do país já não chega de todo. A água que há é castanha e está a gerar doenças. É cada vez mais difícil fazer chamadas telefónicas internacionais. O aeroporto de Caracas está quase sempre deserto. Muitas companhias aéreas, até a LATAM, cancelaram voos nos últimos meses. A Coca-Cola deixou de produzir bebidas no país por causa da falta de açúcar. As pessoas saem à rua em grandes manifestações organizadas não para pedir mais democracia, mas para pedir comida. Há muitos presos políticos. Um líder da oposição foi preso no sábado. Chegaram à sua casa às 3h da manhã, tiraram-no da cama e levaram-no numa ambulância, dizendo à mulher que o marido precisava de fazer “um exame médico”. O país está em estado semiconstante de emergência. As previsões indicam que no fim do ano o PIB tenha caído 8% e a inflação subido 500%.
O Presidente, Nicolás Maduro, está cada vez mais isolado. Dentro e fora. Vários líderes internacionais de esquerda quebraram o verniz e condenam-no publicamente e há propostas formais para suspender a Venezuela do Mercosul e da Organização dos Estados Americanos por violação da cláusula da democracia.
Traumatizados por décadas de ditaduras militares violentas e por intervenções americanas erradas, há, no entanto, um pudor, mesmo regional, em intervir de forma mais clara.
A mudança terá de vir de dentro. Maduro ainda tem os militares na mão. Mas sabe que pode ser apenas uma questão de tempo.