Um filme de vozes

A melhor das três longas-metragens de Ivo M. Ferreira, bastante hábil no modo como se apropria do texto de António Lobo Antunes

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Cartas de Guerra explora a relação entre portugueses e africanos

É de caras a melhor das três longas-metragens de Ivo M. Ferreira, bastante hábil no modo como se apropria do texto de António Lobo Antunes como âncora narrativa sem com isso impedir que ele funcione, também, como um varandim para uma vista mais abrangente – sobre os miúdos feitos soldados, sobre as relações entre portugueses e africanos, sobre, enfim, a própria paisagem africana (um achado, aquele plano final, com o pôr-do-sol a recortar-se na montanha como se estivéssemos num território de ficção científica).

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É de caras a melhor das três longas-metragens de Ivo M. Ferreira, bastante hábil no modo como se apropria do texto de António Lobo Antunes como âncora narrativa sem com isso impedir que ele funcione, também, como um varandim para uma vista mais abrangente – sobre os miúdos feitos soldados, sobre as relações entre portugueses e africanos, sobre, enfim, a própria paisagem africana (um achado, aquele plano final, com o pôr-do-sol a recortar-se na montanha como se estivéssemos num território de ficção científica).

Mas no coração está essa variação sobre o filme epistolar, género em desuso, que tem pelo menos um momento muito belo (aquela torrencial declaração de amor, em si mesma belíssima) e em geral se assume, sem se esconder, como aquilo que é: um filme de “leitura”, um filme de vozes (o que é diferente de ser um filme de “texto”). É aí que o filme toca o seu limite, por bem que o faça, pois nem sempre a articulação som/imagem atinge a densidade que certos momentos pediam ou sugeriam. Mas sai-se com a sensação de se ter assistido a um baile de fantasmas portugueses, tão magoado como eufórico.