Mais duas mulheres mortas pelos maridos
Homicídios deram-se em dois dias seguidos. O primeiro foi no domingo, em Chaves, e o segundo em Aljustrel, na segunda-feira. Maridos suicidaram-se
Dois dias antes a GNR tinha ido à vivenda do casal e levara consigo duas armas de fogo, pertença do marido. Os guardas tinham indicação de que o seu portador “era muito agressivo” e também sabiam dos antecedentes de confronto entre o casal.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Dois dias antes a GNR tinha ido à vivenda do casal e levara consigo duas armas de fogo, pertença do marido. Os guardas tinham indicação de que o seu portador “era muito agressivo” e também sabiam dos antecedentes de confronto entre o casal.
A diligência das autoridades não evitou, porém, mais uma vítima mortal de homicídio conjugal. Nesta segunda-feira ao final da manhã, o homem de 55 anos matou a mulher de 49 anos a tiro com uma caçadeira que a GNR não sabe onde foi arranjar e “suicidou-se logo de seguida”, descreve o porta-voz do Comando Territorial de Beja da GNR.
O caso apanhou de surpresa a pequena comunidade de Aldeia de Baixo, no concelho de Aljustrel, onde poucos saberiam o que se passava portas dentro. Vários habitantes asseguram mesmo que o casal vivia em “boa harmonia não havendo nada a dizer deles”. “Nunca a ouvi dizer mal do marido, ou que era violento”, garante uma antiga colega de trabalho da vítima, que com ela tinha dividido funções na copa de um restaurante em Aljustrel.
“Ninguém estava à espera de uma coisa destas” corrobora um membro da família em que tudo aconteceu. “Ficou tudo de boca aberta”, acrescentou, frisando este era um homem que trabalhava em tudo o que lhe aparecesse: “Era agricultor, pedreiro e o que mais aparecesse, e tomava conta de uma herdade”. O casal deixa três filhos maiores de idade, um dos quais, uma mulher, estava na residência dos pais quando ouviu os disparos fatais, e ainda três netos.
É quase impossível este homicida tê-lo sabido, mas na véspera outro marido tinha posto fim à vida da mulher e depois também à sua. Este outro caso deu-se em Vilarelho da Raia, no concelho de Chaves, no domingo, mas só foi conhecido nesta segunda-feira também, depois de a vizinhança estranhar o desaparecimento do casal. Aqui, um homem de 71 anos terá assassinado a mulher, seis anos mais nova, suicidando-se de seguida. “Tudo aponta para que tenha matado a esposa recorrendo ao uso de gás”, explicou um porta-voz da GNR de Vila Real .
Elementos do destacamento da GNR de Chaves deslocaram-se à residência do casal, onde sentiram “um forte cheiro a gás” que os impediu de entrarem. Só os bombeiros da corporação de Chaves conseguiram penetrar na casa, “munidos de máscaras”. Deram com os dois corpos estendidos no chão.
O porta-voz da GNR adiantou que também aqui havia registo de antecedentes de violência doméstica. A investigação destes casos foi entregue à Polícia Judiciária. A União de Mulheres Alternativa e Resposta ainda não compilou os dados dos homicídios conjugais ocorridos este ano, mas entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2015 registou 29 mulheres mortas às mãos de familiares, na maioria das vezes os seus companheiros, e 39 vítimas de tentativa de femicídio. Elisabete Brasil, do Observatório de Mulheres Assassinadas desta associação, explica que embora estes números sejam inferiores em relação ao ano imediatamente anterior o número de homicídios cometidos em ambiente conjugal não tem registado uma descida consistente: se num ano os assassinatos deste tipo baixam, logo no seguinte se dá uma subida.
Apesar de a UMAR não ter dados compilados, logo em Janeiro uma mulher que tinha abandonado o marido desempregado veio a ser morta por este com um tiro na cabeça numa rua Barreiro, onde morava. Meses antes tinha-se escondido dele num telhado e tentara matar-se. Ainda nesse mês, um antigo militar da GNR degolou a mulher e matou-se em seguida, atirando-se ao mar, junto ao porto de Leixões. Ainda nesse mês, na ilha do Porto Santo, foi igualmente degolada uma professora do ensino especial de 60 anos. O seu ex-namorado, com cerca de 40 anos, entregou-se às autoridades. Foram os três primeiros casos do ano. Outros se lhes seguiram.