Guia para ser um teimoso do caraças
O meu plano era desafiante mas simples: pôr os melhores humoristas portugueses a falar sobre o seu ofício
Aquelas pessoas que não têm auto-conhecimento suficiente, ou são umas preguiçosas do caraças para enriquecer o vocabulário, dizem sempre que o seu maior defeito é ser teimoso. Não é dessa teimosia que vos quero falar: quero falar-vos daquela característica que poderá ter muitos outros nomes: resiliência, perseverança, superação, sorte d'um raio, o que quiserem chamar-lhe. Não é que esteja para aqui a mostrar-vos a fórmula da Coca-Cola e que esteja a revelar uma novidade maior que a descoberta de vida em Marte, mas gostava de partilhar uma experiência pessoal com essa lição subliminar: ser teimoso compensa.
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Aquelas pessoas que não têm auto-conhecimento suficiente, ou são umas preguiçosas do caraças para enriquecer o vocabulário, dizem sempre que o seu maior defeito é ser teimoso. Não é dessa teimosia que vos quero falar: quero falar-vos daquela característica que poderá ter muitos outros nomes: resiliência, perseverança, superação, sorte d'um raio, o que quiserem chamar-lhe. Não é que esteja para aqui a mostrar-vos a fórmula da Coca-Cola e que esteja a revelar uma novidade maior que a descoberta de vida em Marte, mas gostava de partilhar uma experiência pessoal com essa lição subliminar: ser teimoso compensa.
Costumamos dar muito ênfase ao sucesso (ao dos outros e ao nosso próprio) porque a vida tende para o desastre, o falhanço, a hecatombe. E, por isso, quando alguém alcança um objectivo, só o podemos glorificar. Mas antes de iniciar a jornada, somos (demasiado?) cautelosos e enchemos a boca daqueles tenebrosos "não vais conseguir", "só vais perder tempo". Sim, eu também já falhei — e muito — mas desta vez acertei, com um estrondo do camandro. Depois de andar a esgravatar a possibilidade de escrever um livro sobre um determinado assunto, possibilidade essa gorada, atirei-me a um plano ainda mais ambicioso e aparentemente impossível. Naturalmente, os "não vais conseguir" sucederam-se.
O meu plano era desafiante mas simples: pôr os melhores humoristas portugueses a falar sobre o seu ofício. Houve quem me dissesse que, com sorte, haveria de conseguir uns quantos medianos, mas nunca os mais consagrados. Essas pessoas enganaram-se porque subestimaram a minha — lá está — teimosia. E é verdade que a sorte é uma parcela muitíssimo importante na equação, mas também vos digo que, se tivesse decidido ficar com o traseiro abancado no sofá, não haveria sorte que me valesse.
Assim sendo, pus contactos e vontade de trabalhar a mexer e, daí a meses, estava metido em contextos com que podia apenas sonhar: estive em casa do senhor Herman José, do Nuno Markl (que escreveu um filme extraordinário chamado Refrigerantes e Canções de Amor, vão vê-lo!) e do João Quadros, tomei um pequeno-almoço com o Ricardo Araújo Pereira e bebi gin com o Rui Sinel de Cordes, entre tantos outros (ao todo, falei com 26 humoristas), tudo em prol destas entrevistas deliciosas que consegui. E é verdade que o gozo está todo na partilha destas experiências, mas só o facto de ter passado por elas já me faz possuir aquela sensação de dever cumprido.
Até na execução do trabalho é preciso ter resiliência, resistência até, perante a hercúlea tarefa de escrever quase 400 páginas em quatro meses. Tive de dizer adeus às noites de sexta-feira e às manhãs de sábado, mas compensou — e muito. Tudo isto para vos dizer que, se têm um sonho ou uma vontade profunda, não deixem de lutar por ela por causa das vozes que querem contrariar-vos. Mexam-se até às últimas consequências e não tombem à primeira nega. E, quando estiverem a atravessar um momento de maior desmotivação, apraz-me apenas citar aquele mago das artes chamado Shia LaBoeuf: DO IT!
Ah, o livro? O livro está quase a sair. Acompanhem-me aqui e saberão de todas as novidades em primeira mão.