Arrumadores de carros: o único emprego com futuro
O facto é que, além desta classe profissional não ser taxada, não ter livro de reclamações e ser uma forma de "bullying social", não fazemos ideia para onde vai o dinheiro, ou já agora quanto é que um consultor de estacionamento facturará por dia
Muito antes do empreendedorismo ser moda em Portugal, já existia uma classe profissional dedicada à criação do próprio emprego. Sem subsídios, incubadoras ou "start-ups". Foram os arrumadores de carros. Mais do que empreendedores, os arrumadores de carros são verdadeiros "marketeers", pois onde a necessidade não existia, foram eles que a criaram.
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Muito antes do empreendedorismo ser moda em Portugal, já existia uma classe profissional dedicada à criação do próprio emprego. Sem subsídios, incubadoras ou "start-ups". Foram os arrumadores de carros. Mais do que empreendedores, os arrumadores de carros são verdadeiros "marketeers", pois onde a necessidade não existia, foram eles que a criaram.
Isto porque a maioria dos condutores tem, regra geral, a capacidade de perceber onde existem lugares para estacionar, sendo a generalidade dos lugares explorados pelos arrumadores obviamente perceptível. E desses alguns têm parquímetro e outros são simplesmente de estacionamento ilegal.
Não obstante, está lá sempre o (cada vez menos jovem) empreendedor, com a sua "start-up-one-man-show" a prestar assistência ao estacionamento, qual técnico da aviação aérea no pista de aterragem.
Ainda assim, quase todos os condutores tendem a aceitar o lugar que lhes é sugerido e uma vez finalizado o estacionamento com a redundante, quando não prejudicial e incomodativa, intervenção do consultor de estacionamento. E no fim, o serviço é, claro está, remunerado, ou porque o pagamento é feito voluntariamente ou porque surge um queixume imperceptível acompanhado de uma mão estendida.
Considerando que a mais-valia e utilidade do serviço em causa é tanta como a das parcerias público-privadas nas quais o contribuinte sai sempre a perder, a única justificação para continuarmos a financiar esta área de negócio tem de ser o medo. O medo de que risquem o carro ou de que o assaltem, o medo que partam um vidro ou furem um pneu. No fundo não será muito diferente da razão porque continuamos a alimentar tantas das falidas políticas governamentais. Ou talvez hoje em dia o hábito tenha superado o medo, o que no fundo resulta no mesmo.
O facto é que, além desta classe profissional não ser taxada, não ter livro de reclamações e ser uma forma de "bullying social", não fazemos ideia para onde vai o dinheiro, ou já agora quanto é que um consultor de estacionamento facturará por dia.
Não estará já na hora de haver um CAE para esta classe profissional, a fim de que comecem a passar recibos-verdes? Porque, senão, portuguesas e portugueses precários, sub-empregados, trabalhadores não remunerados, desempregados e assalariados explorados esqueçam as licenciaturas, as promoções, os mestrados, os estágios, os anúncios de emprego e a criação do próprio posto de trabalho. Este sim, é o único emprego de sonho que oferece futuro, por isso, como dizia o outro, é bater punho minha gente.