Bayreuth vai debater relação do nacional-socialismo com Wagner
Directora do festival anunciou realização de simpósio de dois dias na edição de 2017.
O Festival de Bayreuth, que há mais de um século vem celebrando a obra operática de Richard Wagner (1813-1883), vai promover no próximo ano a realização de um simpósio para debater as relações do nacional-socialismo e de Adolf Hitler (1989-1945) com a obra do compositor, a sua família e o próprio evento que anualmente se realiza naquela cidade do sul da Baviera.
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O Festival de Bayreuth, que há mais de um século vem celebrando a obra operática de Richard Wagner (1813-1883), vai promover no próximo ano a realização de um simpósio para debater as relações do nacional-socialismo e de Adolf Hitler (1989-1945) com a obra do compositor, a sua família e o próprio evento que anualmente se realiza naquela cidade do sul da Baviera.
O anúncio foi feito pela bisneta do compositor de O Anel do Nibelungo, Katharina Wagner, que desde 2008 é directora do festival. “No próximo ano, terá lugar um simpósio intitulado Wagner e o Nacional-socialismo para a questão do pecado original”, disse Katharina Wagner, na conferência de imprensa de encerramento e de balanço da 105.ª edição do Festival de Bayreuth – que fechou na segunda-feira com a sexta récita da ópera Parsifal, a mesma que tinha aberto a edição deste ano, a 25 de Julho.
As relações do nazismo, e do próprio Hitler, com a herança musical e também com os descendentes de Richard Wagner são um tema polémico e objecto de um debate recorrente na história da música alemã, e não só. A música de Wagner e o facto de o compositor ter publicado, em 1850, um panfleto de crítica aos compositores judeus, intitulado O judaísmo na música, foi posteriormente utilizado por Hitler e pelos dirigentes nazis como suporte ideológico para a defesa da ideia de um germanismo ariano, que excluía a presença da cultura judaica.
Está também historicamente documentada a proximidade que Hitler sempre manteve com a família de Wagner, em especial com Winifred Wagner (1897-1980), nora do compositor, que foi amiga íntima do ditador nazi. Hitler era, de resto, visita frequente da casa da família, e também do Festival de Bayreuth, que Winifred dirigiu entre 1930 e o final da 2.ª Guerra Mundial, em 1945. Simultaneamente, a música e as óperas de Wagner, nomeadamente Os Mestres Cantores de Nuremberga, eram ouvidas e encenadas com frequência nas cerimónias nacionalistas oficiais do nazismo.
Na conferência de imprensa de domingo, e segundo o relato da agência Efe, Katharina Wagner não adiantou mais informação sobre o programa e os intervenientes no simpósio do próximo ano. E sobre o programa do festival, limitou-se a confirmar a continuação do maestro alemão Hartmut Haenchen, que este ano substituiu, à última hora, o letão Andris Nelsons na direcção de Parsifal. “O grande êxito” que o trabalho de Haenchen granjeou na edição agora finda foi a razão invocada pela directora de Bayreuth para a sua continuidade. E sobre o programa de 2017, sabe-se também apenas que vai decorrer novamente entre 25 de Julho e 28 de Agosto, respectivamente com apresentações de Os Mestres Cantores de Nuremberga e O Crepúsculo dos Deuses.