Tragicomédia de uma destituição anunciada
Dilma pediu justiça, mas nada na sua defesa mudará o que está há muito decidido: a sua destituição.
Quando Eduardo Cunha foi derrotado na comissão de ética brasileira, em Junho passado, sendo por isso afastado em definitivo do cargo de presidente da Câmara de Deputados, a justiça marcou pontos. Um figurão do PMDB, até aí escandalosamente intocável, apesar de ser alvo de múltiplos processos de investigação por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, era arredado no processo anti-Dilma onde furiosamente se empenhou. Mas nem esse afastamento iludiu o essencial: o PT, que se colocara na mira de justiça por má governação, entorses e violações à lei e envolvimento em escândalos de corrupção, tinha os dias contados no governo. E, sendo Dilma o seu maior símbolo (depois de Lula, que desde o início a apadrinhou na ascensão política), ele teria forçosamente de cair. O processo de impugnação que começou a germinar nos bastidores e depois nas ruas, com largos milhares (num só dia, foram dois milhões) a pedir justiça e o afastamento da Presidente, só poderão desembocar na sua destituição. Isto apesar de Dilma, no Senado e em sua defesa, ter agora argumentado que tudo isto se trata de um golpe e que nenhuma das acusações que lhe fazem (a célebre contabilidade criativa ou as manipulações do orçamento do Estado) é suficientemente grave para justificar o seu afastamento do cargo. Dilma pediu justiça, mas a justiça que lhe farão será sobretudo política. Ex-aliados e detractores do PT querem aproveitar o momento para forçar uma viragem na política brasileira. E vão fazê-lo recorrendo à lei e não à margem desta, pelo que de nada vale repetir que se trata de um “golpe”. É uma estranha ironia que Dilma, condenada e presa pela ditadura, seja agora “condenada” na democracia. Mas é o preço a pagar pelos muitos erros do PT, que, para sair com decência desta tragicomédia, devia aproveitar para os corrigir e seguir em frente. O Brasil já não se compadece com mais dilações. Nem a esperança dos brasileiros com mais mentiras, venham elas de onde vierem.
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Quando Eduardo Cunha foi derrotado na comissão de ética brasileira, em Junho passado, sendo por isso afastado em definitivo do cargo de presidente da Câmara de Deputados, a justiça marcou pontos. Um figurão do PMDB, até aí escandalosamente intocável, apesar de ser alvo de múltiplos processos de investigação por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, era arredado no processo anti-Dilma onde furiosamente se empenhou. Mas nem esse afastamento iludiu o essencial: o PT, que se colocara na mira de justiça por má governação, entorses e violações à lei e envolvimento em escândalos de corrupção, tinha os dias contados no governo. E, sendo Dilma o seu maior símbolo (depois de Lula, que desde o início a apadrinhou na ascensão política), ele teria forçosamente de cair. O processo de impugnação que começou a germinar nos bastidores e depois nas ruas, com largos milhares (num só dia, foram dois milhões) a pedir justiça e o afastamento da Presidente, só poderão desembocar na sua destituição. Isto apesar de Dilma, no Senado e em sua defesa, ter agora argumentado que tudo isto se trata de um golpe e que nenhuma das acusações que lhe fazem (a célebre contabilidade criativa ou as manipulações do orçamento do Estado) é suficientemente grave para justificar o seu afastamento do cargo. Dilma pediu justiça, mas a justiça que lhe farão será sobretudo política. Ex-aliados e detractores do PT querem aproveitar o momento para forçar uma viragem na política brasileira. E vão fazê-lo recorrendo à lei e não à margem desta, pelo que de nada vale repetir que se trata de um “golpe”. É uma estranha ironia que Dilma, condenada e presa pela ditadura, seja agora “condenada” na democracia. Mas é o preço a pagar pelos muitos erros do PT, que, para sair com decência desta tragicomédia, devia aproveitar para os corrigir e seguir em frente. O Brasil já não se compadece com mais dilações. Nem a esperança dos brasileiros com mais mentiras, venham elas de onde vierem.