Trump tenta falar aos negros e é acusado de aproveitamento político
Candidato do Partido Republicano reagiu à morte a tiro da prima de uma estrela da NBA: "A prima de Dwyane Wade acabou de ser morta a tiro quando passeava com o seu bebé em Chicago. É precisamente o que eu ando a dizer. Os afro-americanos vão VOTAR EM TRUMP!"
O candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, voltou a ser acusado de se aproveitar da morte de uma pessoa num crime violento para apelar ao voto, no mesmo dia em que revelou alguns pormenores sobre a sua proposta anti-imigração, que tem sofrido avanços e recuos na última semana.
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O candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, voltou a ser acusado de se aproveitar da morte de uma pessoa num crime violento para apelar ao voto, no mesmo dia em que revelou alguns pormenores sobre a sua proposta anti-imigração, que tem sofrido avanços e recuos na última semana.
Três horas depois de a estrela da NBA Dwyane Wade ter anunciado no Twitter que uma das suas primas tinha sido morta a tiro quando passeava com o bebé de três semanas numa rua de Chicago, Trump usou a mesma rede social para comentar o caso: "A prima de Dwyane Wade acabou de ser morta a tiro quando passeava com o seu bebé em Chicago. É precisamente o que eu ando a dizer. Os afro-americanos vão VOTAR EM TRUMP!"
Uma hora depois, o candidato do Partido Republicano partilhou a mensagem que os seus opositores e alguns dos seus apoiantes consideram que deveria ter sido a única: "As minhas condolências a Dwyane Wade e à sua família pela perda de Nykea Aldrige. Eles estão nos meus pensamentos e nas minhas preces."
Esta é a segunda vez que Trump se vê no meio de uma polémica em que é acusado de se aproveitar de um acontecimento trágico de forma insensível. No dia do tiroteio numa discoteca frequentada pela comunidade LGBT em Orlando, na Califórnia, em que foram mortas 49 pessoas, a reacção do candidato do Partido Republicano também foi muito criticada: "Agradeço os parabéns por estar certo sobre a questão do terrorismo islâmico radical. Não quero parabéns, quero firmeza e vigilância. Temos de ser espertos!"
Entrevistada no canal Fox News este domingo de manhã, a nova coordenadora da campanha de Donald Trump, Kellyanne Conway, fugiu à questão feita pelo apresentador Chris Wallace, numa indicação de que o comportamento do candidato se mantém errático.
"Acha correcto responder de forma política a uma tragédia pessoal?", perguntou o apresentador. Mas Conway não quis responder directamente: "Fiquei contente por ele ter expressado as suas condolências à família Wade no tweet seguinte."
As mensagens de Donald Trump sobre a morte da prima do jogador da NBA fazem também parte de uma recente tentativa de aproximação à comunidade afro-americana, a quem o candidato tem perguntado "o que têm a perder" se votarem nele.
O seu argumento é que a maioria dos negros e dos hispânicos vivem em locais perigosos e são pobres – vítimas do que diz serem as políticas de subsídios do Partido Democrata –, e que são eles os mais visados pela violência. Mas os números oficiais desmentem-no, e é por isso que os seus opositores dizem que Trump está a falar mais para os brancos indecisos do que para os negros ou para os hispânicos – de acordo com Trump, 58% dos jovens negros estão desempregados e a "grande maioria" dos negros vive na pobreza, mas os números de 2014 indicam que o desemprego entre os jovens negros é de 19% e que 26% dos negros vivem na pobreza.
Também no sábado, o candidato do Partido Republicano passou pelo estado do Iowa, onde tentou sossegar os seus apoiantes mais confusos com os avanços e recuos nas propostas anti-imigração.
Depois de lhes ter prometido que todos os 11 milhões de imigrantes sem documentos seriam deportados se for eleito Presidente, Trump passou a semana a sugerir que os imigrantes sem condenações poderão ser tratados de forma diferente. O plano oficial vai ser apresentado "nas próximas duas semanas", mas o candidato avançou sábado alguns pormenores – muito semelhantes a propostas de ex-adversários no Partido Republicano como Jeb Bush ou Marco Rubio, mas com outro tipo de linguagem.
Em resumo, Trump mantém a promessa de construir um muro na fronteira com o México e garante que os imigrantes com ficha criminal serão deportados "uma hora" depois de tomar posse. Os outros, os que nunca tiveram problemas com as autoridades desde que entraram no país de forma ilegal, poderão não ser deportados, mas também não vão ter acesso à cidadania, nem sequer passam a ficar de forma legal – se quiserem vir a ser cidadãos, terão de sair do país, voltar a entrar pelos meios legais e pagar impostos relativos ao tempo em que viveram nos EUA de forma ilegal.
Tal como Bush ou Rubio, Trump promete também expulsar do país imediatamente quem deixar expirar o seu visto de permanência. Mas as dúvidas essenciais mantêm-se, e só deverão ser desfeitas nas próximas duas semanas: Donald Trump recuou na promessa de deportar todos os imigrantes sem documentos? E será que isso vai ser importante na hora de os seus apoiantes votarem?