Família de brasileiras encontradas mortas não tem dinheiro para trasladar corpos
Mulheres terão sido esfaqueadas, mas só autópsias, que serão feitas segunda-feira, confirmarão como morreram. Mãe de duas das vítimas confirma que suspeito mantinha relação tumultuosa com a sua filha Michele, que estava grávida de três meses.
Os corpos das três mulheres brasileiras encontradas mortas sexta-feira numa fossa séptica de um hotel para cães e gatos, em S. Domingos de Rana, concelho de Cascais, estão no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, mas só deverão ser autopsiados amanhã, confirmou fonte ligada à investigação. As autoridades acreditam que as brasileiras terão sido mortas, por esfaqueamento, tendo depois os seus corpos sidos escondidos na fossa, mas só com os relatórios das autópsias e de outras perícias posteriores será possível provar essa tese e afastar a possibilidade de terem sido mortas por afogamento.
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Os corpos das três mulheres brasileiras encontradas mortas sexta-feira numa fossa séptica de um hotel para cães e gatos, em S. Domingos de Rana, concelho de Cascais, estão no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, mas só deverão ser autopsiados amanhã, confirmou fonte ligada à investigação. As autoridades acreditam que as brasileiras terão sido mortas, por esfaqueamento, tendo depois os seus corpos sidos escondidos na fossa, mas só com os relatórios das autópsias e de outras perícias posteriores será possível provar essa tese e afastar a possibilidade de terem sido mortas por afogamento.
Entretanto, este sábado, a mãe das irmãs Michele Santana Ferreira, de 28 anos, e Lidiana Santana Neves Santana, de 16 anos, disse ao PÚBLICO não ter condições financeiras para pagar a trasladação dos corpos.
“O melhor será cremar, fica mais em conta, porque a minha situação financeira não dá para pagar os gastos”, declarou Solange Santana, ao telefone a partir de Minas Gerais. O terceiro corpo pertencia a Thayane Mendes, de 21 anos, namorada de Lidiane, e natural do estado de Espírito Santo, onde vivia também o presumível autor dos homicídios, Dinai Gomes, namorado de Michele, que estaria grávida de três meses.
O suspeito terá regressado ao Brasil, escassos dias depois do desaparecimento das jovens, e ainda não foi detido, de acordo com informações das autoridades portuguesas. Foi esse regresso que imprimiu uma mudança na investigação. Numa primeira fase, após o desaparecimento das três mulheres, a polícia admitia poder estar em causa uma caso de rapto, o que rapidamente foi desconsiderado face às movimentações do suspeito. A hipótese mais provável a surgir foi então a de homícidio. A Unidade Nacional de Contra Terrorismo da Polícia Judiciária, à qual foi entregue a investigação, está em permanente contacto com a Polícia Federal do Brasil.
PJ alertada pelo hotel
Por enquanto, a única certeza é que os corpos se encontravam em avançado estado de degradação, pelo que se encontrariam já há alguns meses numa fossa séptica do hotel para cães e gatos Quinta Monte dos Vendavais, em S. Domingos de Rana, onde Dinai Gomes trabalhou durante vários anos. Os inspectores da Polícia Judiciária já antes se tinham deslocado àquele local. Com a ajuda dos bombeiros, outras fossas foram esvaziadas, mas nada de suspeito foi encontrado. A polícia deixou então aos trabalhadores do hotel para cães e gatos um pedido: se algo de estranho surgisse deveriam avisar os inspectores. E foi o que aconteceu na sexta-feira.
Michele estava em Portugal há cerca de oito anos e trabalhava como empregada doméstica. Em Novembro do ano passado, a sua irmã de 16 anos, Lidiana, veio também para Portugal e, já em Janeiro deste ano, a namorada de Lidiana, Thayane, juntar-se-lhes-ia no mesmo apartamento que pertencia a Dinai Alves Gomes. O desaparecimento das três raparigas foi notado em Fevereiro. “Nesse mês, no dia 22, ele [Dinai] veio cá e disse que as meninas estavam bem, que iam viajar para Londres, mas eu não acreditei em nenhum momento”, conta Solanges Santana. “A minha filha mais velha, a Michele, é uma pessoa muito responsável, nunca iria para Londres, num país estranho onde não conhecia ninguém, com a irmã e a amiga. Ela me ligaria antes disso”.
Solange diz que está desde então a tentar perceber o que realmente se passou. Mas diz acreditar que, nessa altura, Dinai Gomes, já teria matado as jovens. “Durante muito tempo eu tive esperança que as meninas estivessem vivas, que tivessem sido traficadas ou alguma coisa assim, mas nunca imaginei uma coisa com esta brutalidade”, recorda.
Com três outros filhos no Brasil, Solange Santana conta que Michele se ressentia por viver longe dos irmãos. “Estava muito carente, sentia-se sozinha. Então ela convidou a irmã para estudar em Portugal e fazer companhia para ela. A Thayane foi junto, para trabalhar”. Antes disso, Dinai ter-lhe-á pedido a mão de Michele em casamento. Solange sabia que ele tinha pelo menos uma filha de outra mulher, que continuava a residir no Brasil. “Segundo soube, essa mulher chegou a Portugal no dia 2 de Fevereiro e nesse mês as meninas desapareceram”, limita-se a informar.
Para a polícia, surge cada vez mais sublinhada a hipótese de os homicídios terem configurado uma tentativa de Dinai esconder o seu relacionamento com Michele da mulher com quem tinha uma filha no Brasil. “Uma amiga de Michele me contou que ele tinha ameaçado matar ela e sumir com o corpo se ela engravidasse. Eu conhecia o Dinai só de passagem, dessa vez em que ele veio aqui na minha casa. Sei que os dois discutiam muito: ela largava ele, ele ia atrás e voltavam. Mas agressão física, ela nunca me falou nada. Agora, segundo as amigas de Michele aí em Portugal, ele agredia ela”, acrescenta Solange Santana.
Se o suspeito vier a ser julgado no Brasil, arrisca uma condenação a 30 anos de prisão, uma pena superior à que lhe poderia ser aplicada em Portugal, onde a pena máxima não pode exceder os 25 anos. O PÚBLICO não conseguiu este sábado contactar a Polícia Federal do Brasil que esta sexta-feira tinha já esclarecido que instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias do desaparecimento destas três jovens.