Vilar de Mouros, o regresso do festival onde tudo começou
Depois do interregno a partir de 2006 e de um tímido regresso em 2014, o festival Vilar de Mouros que esta quinta-feira se inicia pretende recuperar o brilho de outrora. Sobem a palco Echo & The Bunnymen, Waterboys, António Zambujo, Tindersticks ou Legendary Tigerman.
Em Portugal tudo começou em Vilar de Mouros – no que respeita a festivais de Verão, entenda-se. Depois da primeira edição em que o rock foi personagem principal e onde o cartaz apresentava também bandas estrangeiras, em 1971, chamaram-lhe, muito apropriadamente “Woodstock português”. Dois anos depois do histórico festival americano, o Portugal do Estado Novo via uma aldeia do Alto Minho encher-se com uma geração que, livre nos comportamentos, desinibida quanto à bolorenta moralidade vigente e unida em volta da música, prenunciava o fim inevitável da ditadura.
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Em Portugal tudo começou em Vilar de Mouros – no que respeita a festivais de Verão, entenda-se. Depois da primeira edição em que o rock foi personagem principal e onde o cartaz apresentava também bandas estrangeiras, em 1971, chamaram-lhe, muito apropriadamente “Woodstock português”. Dois anos depois do histórico festival americano, o Portugal do Estado Novo via uma aldeia do Alto Minho encher-se com uma geração que, livre nos comportamentos, desinibida quanto à bolorenta moralidade vigente e unida em volta da música, prenunciava o fim inevitável da ditadura.
Vilar de Mouros reservou o seu lugar na história nesse 1971, ano em que os cabeças de cartaz Elton John e Manfred Mann foram acompanhados pelos portugueses Quarteto 1111, Pop Five Music Incorporated, Objectivo, Psico ou Sindicato. Acrescentou-lhe um novo (histórico) capítulo em 1982 e a diversidade e actualidade daquele cartaz pode ser visto, à distância de três décadas, como boa metáfora do país que entretanto conquistara o direito à liberdade de escolha da democracia. Por ali passaram os U2 ainda longe do estrelato, o pós-punk de A Certain Ratio, a pop vanguardista dos GNR, o jazz cósmico da Sun Ra Arkestra, a rabeca do cabo-verdiano Travadinha ou o neo-psicadelismo dos Echo & The Bunnymen. 34 anos depois, estes últimos regressam ao regressado Vilar de Mouros. Começa esta quinta-feira e, até sábado, fará por voltar a recuperar o brilho de outrora.
Depois de 1982, o festival regressou em 1996 e, desde essa data e até meados da década seguinte, teve o seu lugar de destaque no florescente circuito de festivais portugueses. 2006 marcou o início de novo interregno, interrompido timidamente em 2014, numa edição que não ficará para a história. Este ano, anuncia-se o regresso a sério, ou seja, mais consistente (o protocolo assinado pela Câmara Municipal de Caminha em Março prevê a realização do festival neste e nos próximos cinco anos), e com um cartaz onde se conjugam nomes veteranos que apelam à memória histórica da sua segunda vida, na década de 1980 (Peter Murphy, Peter Hook, The Waterboys, Orchestral Manoeuvres in the Dark), e músicos e bandas consagrados do panorama musical português (Legendary Tigerman, António Zambujo, David Fonseca, Linda Martini). O cenário será o de sempre: a ponte sobre o rio Coura através da qual entramos no recinto, a área plana e relvada em cuja extremidade oriental se ergue o palco principal, e a moldura perfeita criada pelas elevações e arvoredo em volta.
O início das festividades fará, por sua vez, ponte entre os primórdios de Vilar de Mouros e a sua existência presente. Às 18h de quinta-feira, o Cancioneiro do Concelho de Caminha inaugura o Vilar de Mouros 2016 – recorde-se que o festival nasceu em 1965 por iniciativa do médico António Barge e que, até 1971, foi dedicado à música tradicional e erudita. Depois do Cancioneiro, com Manuel Fúria e Os Náufragos, que editaram recentemente 20.000 Naves, o segundo single do novo álbum em preparação, o Vilar de Mouros arrancará definitivamente.
Nesse dia, três heróis da década de 1980, Peter Hook & The Light, banda do ex-baixista dos Joy Division (20h), Happy Mondays (22h45) e Peter Murphy (0h30), alternam com o rock’n’roll de Legendary Tigerman (21h20) e com a bossa-fadada das canções de António Zambujo, que encerra a noite a partir das 2h05. Sexta, mais duas bandas veteranas que deixaram marca na década de 1980, os Echo & The Bunnyman de Ocean Rain (22h35), e os Orchestral Manoeuvres in the Dark que deram bom nome à synth pop (1h50) surgem no cartaz ao lado de Linda Martini (20h), David Fonseca (0h15), de NEEV, músico português na senda de Bon Iver e James Blake (19h), e da pop cruzada com reggae e electrónica dos alemães Milky Chance (21h10). O festival termina no sábado com Samuel Úria (19h), o blues do deserto de nigerino Bombino (20h), Tiago Bettencourt (21h20), os Waterboys de Mike Scott (22h45), os Tindersticks (0h30) e os Blasted Mechanism (2h).
Os bilhetes diários para o festival custam 25€ e os passes gerais 50€. O campismo, naturalmente, é gratuito para os portadores de bilhete. Grátis é também o acesso ao palco montado próximo da entrada sul do festival, onde será possível assistir a sessões de cinema. A programação é uma surpresa: será anunciada diariamente no ecrã onde os filmes serão exibidos. No interior do recinto, a zona de restauração incluirá uma área gourmet onde a gastronomia do Alto Minho será recriada por vários chefs portugueses.