Os fogos florestais
Desde há duas décadas (Governo de Guterres) que ando lutando junto dos governos (e também das Juntas de Freguesia do Baraçal/Sabugal) no sentido de limitar ao mínimo os incêndios florestais.
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Desde há duas décadas (Governo de Guterres) que ando lutando junto dos governos (e também das Juntas de Freguesia do Baraçal/Sabugal) no sentido de limitar ao mínimo os incêndios florestais.
No Estado Novo, só havia fogos-postos nas searas alentejanas, causados por motivações políticas de certos amigos do Povo.
Agora, no regime libertário abrilino, os fogos florestais passaram a ser o maior e habitual flagelo a norte do Tejo, nos meses de Verão.
A imprensa que se diverte a relatar os fogos como se fosse o seu maior prazer, devia explicar mas não explica duas coisas fundamentais: uma, porque há cada vez mais mato bravio e menos plantações úteis, como por exemplo os tradicionais pinheirais, que eram, no meu tempo de garoto como que a reserva financeira da gente que vivia no campo, pelo menos nas Beiras (e assim era na minha família) - agora ninguém replanta nada, pois já não se acredita que valha a pena fazê-lo, porque, periodicamente, tudo volta a arder (a mim, que subscrevo este texto, já me ardeu tudo três vezes depois do 25 de Abril) -; e a outra, porque é que, de facto, não se acaba com este flagelo dos fogos florestais?. Ora, esta vergonha nacional dos fogos florestais tem várias explicações, e, por isso, vamos referir o decálogo das mesmas:
1. Os estúpidos foguetes, que um hábito bárbaro fazia acompanhar as festas religiosas, sem adequados meios de extinção dos fogos frequentemente daí resultantes;
2. A inexplicável falta de fiscalização no campo, actualmente (salvo em espaços de ricas culturas intensivas, não anda ninguém permanentemente, a trabalhar no campo, e como a GNR já só anda de automóvel pelas boas estradas, à caça da multa contra os automobilistas, e acabaram os guardas florestais (tal como os guarda-rios), os incendiários, que parece que são o novo produto da liberdade e da generosidade das Justiças, têm campo livre para se divertirem a queimar o nosso pobre país);
3. A óbvia péssima utilização dos meios modernos de detecção dos fogos e de combate aos mesmos: como não há realmente gente pelos campos e não há o mínimo de fiscalização, os fogos são detectados e combatidos tardiamente, com muito maus resultados, em vez de serem detectados e combatidos logo no seu início, certamente com bons resultados;
4. Todos os que têm conhecimento destas coisas não podem deixar de surpreender-se por os meios aéreos só aparecerem quando os fogos atingem grandes proporções, o que é um absurdo, mas corresponde a interesses inconfessáveis e até criminosos, pois é sabido que o combate a água, mesmo pelos melhores meios aéreos (veja-se o caso da Califórnia, nos Estados Unidos), só é eficiente quando os fogos não atingem grandes proporções, porque, se as atingirem, por mais passagens que façam sobre os fogos, a água não os apaga, pura e simplesmente porque não chega ao solo, desfazendo-se em vapor mesmo antes de chegar à copa das árvores - aqui dizem as más e as boas línguas que os mandantes dos meios aéreos o que lhes convém é exactamente que os fogos demorem, e não extingui-los rapidamente, como deveria ser -; realmente porque é que os meios aéreos só actuam tardiamente?!;
5. Uma vez, que, em politiquês, até se fala de época dos fogos, como de uma nova estação climatérica (a 5ª), porque é que o Estado, além dos bombeiros, não se apetrecha com adequados meios aéreos para os combater, já que nada faz para os prevenir?!;
6. A seguir aos atentados terroristas de Setembro de 2001 nos USA, eu escrevi uns versos que terminam assim:
“Tanto generais como oficiais de antanho,
E, assim, também sargentos, praças e que tais,
Terão de aprender como se põe e apaga
Um incêndio nas matas e urbes nacionais,
Como se corta e repara a luz eléctrica,
E se protegem as pontes e as águas das fontes,
Sendo polícias e bombeiros principais” (Fantasias e Outros Versos, págs 62/63 da 5ª Edição);
Seria de esperar que as nossas Forças Armadas se fossem preparando para actuar contra o terrorismo, porque os fogos-postos são, a meu ver, actos de terrorismo - de facto, a mais barata e eficaz maneira de destruir um país é pô-lo a arder todo ao mesmo tempo, o que quase aconteceu nas últimas semanas a norte do Tejo em Portugal -, pois, até agora, nada se fez, nem sequer dando aos nossos excelentes militares da força aérea o mínimo de meios para combater eficazmente os fogos florestais - como digo nos meus citados versos, seria a Força Aérea a comandar o ataque aéreo aos fogos e não uns vulgares vendilhões de serviços ineficientes e muito caros -;
7. Depois, há que preparar os bombeiros ensinando-lhes coisas elementares como sejam a direcção habitual dos ventos nos locais a arder, e utilizando a tropa na ajuda séria ao combate dos fogos.
8. E, finalmente, para não cansar o leitor e a direcção do jornal, em Julho, Agosto e Setembro (até chover) há que colocar postos de vigia em locais apropriados como são os dos talefes, onde poderiam empregar estudantes em férias, munidos de binóculos e telemóveis a fim de, alertar as entidades adequadas logo que um foco de incêndio apareça, permitindo, assim, aos meios aéreos e a outros adequados, se bem estruturados e comandados, ir combatê-lo imediatamente e até capturar o incendiário;
9. E para terminar, o que mais importa na prevenção dos fogos, são pistas de circulação de sapadores e tanques dos bombeiros, pistas estudadas de acordo com os ventos locais nos meses de calor: fazer isto é durável e bem mais barato do que a despesa, praticamente inútil, gasta anualmente a fazer que se extinguem os fogos florestais;
10. Obviamente, há que mudar radicalmente a legislação penal aplicável aos incendiários, tipificando-a como actos de terrorismo, e não de meros danos materiais, implicando também a mudança de mentalidade dos juízes, o que é para mim, incompreensível.
Embaixador