Jogos Olímpicos: a complexa questão das medalhas

O público não tem razão quando ataca os atletas olímpicos por um simples facto: durante quatro anos, não os apoia, a não ser quando há uma vitória ou qualquer coisa que vanglorie esta nação

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Suzanne Plunkett/Reuters

Pronto, os Jogos Olímpicos acabaram e já começamos a entrar naquela fase mais arrefecida em que podemos falar com algum tino sobre o que aconteceu sem que um atleta não nos queira atirar um dardo à testa nem um hater alucinado queira acabar com as modalidades em Portugal. Já não me lembro ao certo de que génio literário o disse, mas os melhores dilemas são aqueles em que ambas as partes têm razão. Posto isto, sim: os nossos atletas falharam. Mas o público (imprensa incluída) também vive numa constante hipocrisia disfarçada de amnésia.

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Pronto, os Jogos Olímpicos acabaram e já começamos a entrar naquela fase mais arrefecida em que podemos falar com algum tino sobre o que aconteceu sem que um atleta não nos queira atirar um dardo à testa nem um hater alucinado queira acabar com as modalidades em Portugal. Já não me lembro ao certo de que génio literário o disse, mas os melhores dilemas são aqueles em que ambas as partes têm razão. Posto isto, sim: os nossos atletas falharam. Mas o público (imprensa incluída) também vive numa constante hipocrisia disfarçada de amnésia.

O público não tem razão quando ataca os atletas olímpicos por um simples facto: durante quatro anos, não os apoia, a não ser quando há uma vitória ou qualquer coisa que vanglorie esta nação. Durante as derrotas, não há apoio, não há febres de redes sociais, não há bandeiras, não existe absolutamente nada. Enquanto isso, o futebol é a única bolacha que adoça a boca deste público. E a imprensa, aqui, também é culpada: quantas capas se fazem ao ano com o trabalho dos atletas das "outras modalidades", como lhes chamam as parangonas jornaleiras? Eu respondo: cerca de zero.

Em simultâneo, este motivo não é válido o suficiente para servir de refúgio ao Comité Olímpico nem aos atletas. Em primeiro lugar, é preciso compreender que a crítica procura, incondicionalmente, a melhoria e os consequentes domínios da técnica. Quando alguém (com dois ou três dedos de testa) aponta uma falha, quer mudanças de estratégia para que se alcance o objectivo, seja ele uma medalha dourada ou uma reunião de trabalho proveitosa. E as críticas, por muito que tenham um travo azedo, são merecidas. Resta saber quais os motivos que levaram a este falhanço olímpico. É certo que os atletas não têm grandes apoios (mas Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro também não os tinham e foram gloriosos, ou estou enganado?) e também é certo que o público, em geral, se marimba com grande ímpeto para as "outras modalidades", mas importa saber mais, fazer mais.

Aproveito para recordar um exemplo bastante idiossincrático. Nos idos de 2000, a segunda linha de Portugal, então uma selecção europeia mediana, derrotou a Alemanha por 3-0 num Campeonato da Europa, com três golos de Sérgio Conceição. Tamanha hecatombe fez com que a imprensa e o público caíssem em cima da federação germânica: como era possível que uma selecção tão poderosa como aquela fosse eliminada de uma forma tão humilhante? As críticas surtiram efeito: os investimentos foram gigantescos e, seis anos depois, a Alemanha estava numa final de um Campeonato do Mundo. Mais tarde, em 2014, os alemães vergaram o omnipotente Brasil com um 7-1 lendário e tornaram-se campeões do mundo.

Não queiram ser salazarentos, esse tempo já lá vai: aceitem as críticas para melhorar, não as queiram calar. Se preferirem, podem tomar o exemplo da maior instituição desportiva deste país: Cristiano Ronaldo. De cada vez que é criticado, sabe no seu âmago que há margem para melhorar e, nos jogos seguintes, supera as adversidades, para benefício de todos, tanto dos que o criticaram como daqueles que o apoiaram. A era dos queixumes já lá vai: trabalhem. Mais. Mais ainda.