Novo Governo da Tunísia é o mais inclusivo mas a discórdia mantém-se
Para ultrapassar o impasse no Parlamento, o primeiro-ministro Youssef Chahed montou um executivo com os principais partidos e independentes.
O novo Governo do primeiro-ministro Youssef Chahed promete ser o mais inclusivo desde a revolução na Tunísia, em 2011, ao integrar todos os seis principais partidos, independentes e aliados de sindicatos que são habituais adversários.
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O novo Governo do primeiro-ministro Youssef Chahed promete ser o mais inclusivo desde a revolução na Tunísia, em 2011, ao integrar todos os seis principais partidos, independentes e aliados de sindicatos que são habituais adversários.
Mas ainda antes da votação no Parlamento, marcada para a próxima sexta-feira, o teste de Chahed com a diversidade está a enfrentar as mesmas pressões e divisões que impediram o seu antecessor de conquistar o capital político necessário para aprovar reformas.
A transição da Tunísia desde a revolta de 2011 que depôs o autocrata Zine El-Abidine Ben Ali tem sido elogiada como um modelo para o mundo árabe, com eleições livres e uma nova Constituição.
Mas os sucessivos governos que têm chegado ao poder no país norte-africano lutam contra uma crescente violência extremista, protestos nas ruas e um progresso lento nas reformas exigidas pelos credores internacionais.
Os problemas políticos são já visíveis no interior do partido de Youssef Chahed, o Nidaa Tounès, com 54 dos seus deputados a ameaçarem demitir-se do partido, segundo a agência Reuters.
"Pelo menos 19 deputados ameaçaram abandonar o partido porque o Governo incluiu algumas pessoas incompetentes", disse aos jornalistas Issam Mattoussi depois de um encontro de deputados do Nidaa Tounès.
Rached Ghannouchi, líder do maior partido no Parlamento, o islamista Ennahda (69 deputados), disse que apoia o novo Governo e elogiou a inclusão, pela primeira vez, de membros da esquerda, islamistas, liberais e sindicalistas.
Mas o líder do Conselho Consultivo do Ennahda – a autoridade suprema do partido – disse que tem reservas em relação às escolhas do primeiro-ministro.
"O Ennahda não aceitará nenhum responsável suspeito de corrupção ou alguém que queira excluir outros elementos", disse Abd El Karim Harouni, numa referência indirecta aos críticos de esquerda do Ennahda.
Aliado do Presidente Beji Caid Essebsi, Youssef Chahed deverá obter os 109 votos necessários para passar na moção de confiança no Parlamento, que tem 217 deputados.
Segundo os analistas locais, muitas das críticas podem ser apenas uma estratégia para que os partidos garantam mais influência no Governo. Mas uma resistência tão visível logo no início indica que as dissidências que marcaram os anteriores executivos podem repetir-se.
O antecessor de Chahed, Habib Essid, foi afastado pelos deputados através de uma moção de censura, em parte devido à ideia de que as reformas foram sendo adiadas por causa de uma onde de greves.
A agência Reuters avança que Chahed vai encontrar-se ainda esta segunda-feira com os partidos que manifestaram reservas em relação ao seu Governo. Um deles é o liberal Afek Tounès, que ameaçou sair da coligação se a composição do executivo não for alterada.
"Se esta diversidade não for bem gerida, será um ponto fraco e irá aumentar a confusão sobre o trabalho do Governo", escreveu o colunista Nizar Makni no influente diário Assabeh. "Apenas se pode esperar mais conflitos políticos", antevê Makni.