Faltaram as medalhas, sobraram os diplomas
O bronze de Telma Monteiro e mais dez classificações entre os oito primeiros são o balanço da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos.
Tal como acontecera em Londres 2012, a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro terminou com apenas uma medalha. Ainda na primeira semana, Telma Monteiro conquistou uma de bronze no judo, mas não teve continuidade por parte de mais nenhum atleta português em prova. Houve dez classificações entre os oito primeiros e mais 22 até ao 16.º lugar, o que prova que o nível médio da comitiva até era bastante elevado, mas não o suficiente para as rodelas de metal precioso que se dão aos três primeiros. É uma participação bastante razoável, mas não espectacular, de uma das maiores comitivas portuguesas de sempre nos Jogos, com alguns exemplos de superação, outros que foram fracassos grandes em relação às expectativas e outros ainda que, não sendo fracassos, foram relativas desilusões. O mais preocupante foi, no entanto, o que disse Rui Bragança após ter falhado as medalhas no taekwondo, colocando em causa a sua continuidade numa modalidade em que é um dos melhores do mundo porque não quer continuar a pedir dinheiro aos pais. Como ele, há muitos.
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Tal como acontecera em Londres 2012, a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro terminou com apenas uma medalha. Ainda na primeira semana, Telma Monteiro conquistou uma de bronze no judo, mas não teve continuidade por parte de mais nenhum atleta português em prova. Houve dez classificações entre os oito primeiros e mais 22 até ao 16.º lugar, o que prova que o nível médio da comitiva até era bastante elevado, mas não o suficiente para as rodelas de metal precioso que se dão aos três primeiros. É uma participação bastante razoável, mas não espectacular, de uma das maiores comitivas portuguesas de sempre nos Jogos, com alguns exemplos de superação, outros que foram fracassos grandes em relação às expectativas e outros ainda que, não sendo fracassos, foram relativas desilusões. O mais preocupante foi, no entanto, o que disse Rui Bragança após ter falhado as medalhas no taekwondo, colocando em causa a sua continuidade numa modalidade em que é um dos melhores do mundo porque não quer continuar a pedir dinheiro aos pais. Como ele, há muitos.
Atletismo
Os sextos lugares bem meritórios de Ana Cabecinha na marcha e de Nélson Évora e Patrícia Mamona no triplo salto não escondem alguma falta de competitividade de uma equipa que costuma ser a mais forte de Portugal nos Jogos – os títulos conquistados continuam a ser todos do atletismo. Se a equipa da marcha e os representantes do triplo (incluindo Susana Costa, que também foi finalista) saem do Rio em alta, a equipa feminina da maratona foi a maior desilusão. Ana Dulce Félix foi a única que terminou e numa boa classificação, Sara Moreira e Jessica Augusto desistiram. Afinal, a lesão de Sara era mais limitativa do que tinha dado a entender e Jessica desistiu porque não se sentia bem. A maratona é uma prova muito especial e os atletas muitas vezes vão para lá dos limites para chegar ao fim, e não são as desistências que estão em causa. É que aqui havia uma suplente pronta para entrar (Vanessa Fernandes) e a decisão de incluir Jessica Augusto em detrimento de Filomena Costa (que tinha melhor tempo) não foi de todo pacífica. Numa participação maioritariamente discreta, a outra grande desilusão acabou por ser Tsanko Arnaudov, que nem passou das qualificações no lançamento do peso, um mês depois do bronze nos Europeus.
Badminton
Tanto Telma Santos como Pedro Martins não resistiram muito tempo no torneio olímpico de badminton no Rio de Janeiro, tendo-se despedido da competição na fase de grupos, sem qualquer triunfo. Ambos cumpriam a segunda participação olímpica, e Telma Santos até fizera história em Londres ao obter a primeira vitória de sempre para Portugal na modalidade. Mas, no Rio 2016, os atletas portugueses não conseguiram repetir esse sucesso. No Grupo E da prova feminina, Telma Santos perdeu os três encontros e despediu-se. Sorte idêntica teve Pedro Martins, que disse adeus à competição após duas derrotas no Grupo M.
Canoagem
Mesmo sem medalhas, foi a equipa mais forte da comitiva portuguesa, com três barcos a participarem em finais. Será das modalidades em que melhor se trabalha em Portugal, em que todos os representantes olímpicos são atletas de altíssimo nível internacional. Um quarto lugar do K2, um quinto lugar do K1 e um sexto do K4 são os resultados mais significativos da maior equipa de sempre nos Jogos (oito atletas), mas faltou a medalha conquistada em Londres pelo K2 de Emanuel Silva e Fernando Pimenta, uma dupla que se desfez para este ciclo olímpico – Pimenta avançou para o K1 e João Ribeiro entrou para o K2. Teria havido medalha se o K2 de Londres se tivesse mantido? É uma pergunta que ficou sem resposta. Na competição feminina, em relação em Londres, houve menos atletas e nenhuma final. José Carvalho, por seu lado, estreou-se com um nono lugar na final de slalom.
Ciclismo
Continua por igualar o extraordinário (e inesperado) feito de Sérgio Paulinho em Atenas 2004, mas os ciclistas não foram presença anónima e discreta. Nelson Oliveira é o óbvio destaque, com o seu oitavo na prova de contra-relógio, apenas atrás dos “monstros” da especialidade Fabian Cancellara, Tom Doumolin e Chris Froome, e Rui Costa entrou no top 10 da prova de estrada, disputada num percurso duríssimo, com a chuva e o vento a darem um extra de imprevisibilidade à corrida. Tanto um como o outro melhoraram as suas prestações olímpicas. Já os dois representantes do BTT fecharam de forma bem discreta a participação portuguesa nos Jogos. Tiago Ferreira e David Rosa não completaram a prova.
Equestre
Luciana Diniz tinha a medalha como objectivo e por isso, mesmo tendo melhorado a sua classificação de Londres, o nono lugar no Rio tem algum sabor a desilusão. A luso-brasileira e a égua “Fit for Fun” sofreram uma penalização na primeira ronda de saltos na final e ficaram logo ali afastadas da luta pelas medalhas, atrás de muitas duplas que foram perfeitas. Uma segunda ronda sem falhas não chegou para o pódio, mas foi uma amostra de grande qualidade que alimenta expectativas para o próximo ciclo olímpico.
Futebol
Rui Jorge era um treinador que há quase cinco anos não conhecia o sabor da derrota, e os primeiros sinais da selecção de futebol no Rio 2016 foram auspiciosos: um triunfo por 2-0 sobre a Argentina deu um início de sonho à equipa possível. O processo de escolha dos jogadores que disputaram o torneio olímpico foi tudo menos fácil para o técnico, que se viu confrontado com numerosas “negas” de clubes em ceder jogadores. Mesmo assim, Portugal apurou-se para os quartos-de-final, só que uma exibição recheada de erros diante da Alemanha significou o adeus da selecção portuguesa aos Jogos Olímpicos. Era o fim do sonho de disputar a final no Maracanã e o regresso a casa com o sexto lugar na bagagem.
Ginástica
Um 37.º lugar no concurso de all-around nos Jogos Olímpicos valeu a Filipa Martins o título de melhor portuguesa de sempre na ginástica artística. “Foram anos de treino para um grande sonho”, admitiu a ginasta portuense de 20 anos, que cumpriu no Rio de Janeiro a sua estreia olímpica. Filipa Martins prometeu continuar a trabalhar para repetir a experiência e “tentar ser ainda melhor”. Nos trampolins a prova dos portugueses terminou em desilusão: Diogo Abreu fez uma óptima primeira rotina na qualificação que o deixou em quarto lugar entre os 16 ginastas. Mas uma queda na segunda série deitou tudo a perder e relegou o português para último. Ana Rente falhou a presença na final por muito pouco, repetindo o 11.º lugar de Londres 2012.
Golfe
Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima foram os atletas que representaram Portugal no regresso do golfe ao programa olímpico, após 112 anos de ausência, mas a estreia nos Jogos Olímpicos teve sabor amargo para os dois golfistas. Numa competição marcada pela ausência de numerosos atletas de topo, Melo Gouveia, melhor português de sempre no ranking mundial e recentemente incluído na lista dos 25 jogadores com menos de 25 anos mais promissores do circuito europeu, terminou em 59.º e último lugar, com 297 pancadas (13 acima do par). Lima ficou entre os 48.º classificados no Campo Olímpico de Golfe, na Barra da Tijuca, com um total de 288 pancadas (quatro acima).
Judo
À sua quarta participação olímpica, Telma Monteiro conseguiu a sua tão desejada medalha, a que lhe faltava no seu vasto palmarés. Ainda na primeira semana, este foi o ponto alto da comitiva portuguesa e, para Telma, um bronze a saber a ouro numa categoria super-competitiva. Depois de nenhum combate ganho em Londres 2012, os judocas portugueses fizeram bem melhor no Rio, com Sergiu Oleinic, Joana Ramos e Jorge Fonseca a passarem os seus primeiros adversários – as excepções foram Célio Dias e Nuno Saraiva. Daqui a quatro anos, Telma já prometeu que vai defender a sua medalha em Tóquio e todos os que se estrearam aqui terão outra experiência competitiva para fazer melhor.
Natação
Quase a par da medalha de bronze de Telma Monteiro, o outro grande resultado português no Rio 2016 foi obtido por Alexis Santos na natação. A simples presença do nadador do Sporting, estreante em Jogos Olímpicos, na meia-final dos 200m estilos – prova em que terminou na 12.ª posição – significou o quebrar de uma barreira invisível que resistia há 28 anos. Desde Alexandre Yokochi em Seul 1988 que Portugal não tinha um nadador numa meia-final olímpica. Alexis Santos, que também foi 14.º nos 400m estilos, já tinha conquistado este ano a primeira medalha portuguesa em Europeus desde 1985. Ao PÚBLICO, considerou que os resultados obtidos são “um passo em frente” para a natação portuguesa e permitem ambição reforçada em Tóquio 2020.
Taekwondo
A estreia olímpica de Rui Bragança teve sabor a desencanto. Tendo falhado a presença em Londres 2012 por muito pouco, o atleta português chegava ao Rio de Janeiro como um dos favoritos às medalhas. Aos 24 anos, e com o estatuto de bicampeão europeu do seu escalão, Bragança perdeu o combate dos quartos-de-final com Luisito Pie e não foi repescado devido à derrota do dominicano nas meias-finais. “Só o ouro não teria desencanto”, confessou o jovem atleta, deixando em dúvida a continuidade no taekwondo ao mais alto nível se as condições não mudarem. “Podia voltar a pedir aos meus pais, mas não quero isso. Devo aos meus pais estar aqui, todo o apoio emocional e financeiro. Por acaso tive a sorte de os meus pais conseguirem ajudar-me”, sublinhou.
Ténis
Os dois portugueses do top-100 mundial caíram na segunda ronda do torneio olímpico. Após bater o holandês Robin Haase na primeira ronda, João Sousa não resistiu a Juan Martín del Potro, que viria a conquistar a medalha de prata – na final, o argentino perdeu com o britânico Andy Murray. Sorte idêntica teve Gastão Elias, que derrotou Thanasi Kokkinakis na primeira ronda mas depois perdeu com o norte-americano Steve Johnson. Sousa e Elias ainda tiveram uma entrada inesperada na competição de pares, beneficiando de uma desistência, mas também aqui não conseguiram passar da segunda ronda. Tendo ganho à dupla eslovaca Andrej Martin/Igor Zelenay, perderam depois com os canadianos Daniel Nestor/Vasek Pospisil.
Ténis de mesa
A presença de Marcos Freitas nos quartos-de-final do torneio olímpico individual de ténis de mesa foi melhor do que há quatro anos, mas a derrota diante do japonês Jun Mizutani afastou o português da hipótese de lutar pelas medalhas. “Estar nos oito melhores não dá medalha”, lamentou o mesatenista madeirense, que já antes tinha visto o companheiro Tiago Apolónia ser eliminado na competição individual. Por equipas, e com a companhia de João Monteiro, os portugueses perderam por 3-1, na primeira ronda, perante a Áustria. Na competição individual feminina, tanto Fu Yu como Shao Jieni foram eliminadas na segunda ronda.
Tiro
Na sua quinta participação olímpica, João Costa falhou as finais das duas provas que disputou. O atirador português terminou em 11.º lugar na prova de pistola de ar comprimido a 10 metros, tendo somado 578 pontos na qualificação – apenas menos dois do que o oitavo classificado, o primeiro lugar que dá acesso à luta pelas medalhas. Alguns dias depois, João Costa repetiu a classificação na qualificação da prova de pistola a 50 metros. Também nesta competição, o atirador português falhou a presença na final por escassos dois pontos. Esteve durante muito tempo entre os oito melhores e era quinto a 30 minutos do final da sessão, mas o score final de 554 pontos na qualificação impediu-o de lutar pelas medalhas.
Triatlo
Um extraordinário parcial no segmento de corrida, em que foi o segundo mais rápido de todos os triatletas em prova, quase levou João Pereira até ao pódio. O português abordara a derradeira etapa do triatlo olímpico em 17.º lugar mas terminou em quinto na prova disputada em Copacabana, cortando a meta apenas nove segundos atrás do terceiro classificado. “Foi como tirar uma mochila de dez anos de trabalho”, confessou o triatleta de 28 anos, estreante em Jogos Olímpicos, referindo-se ao apuramento falhado por pouco para Londres 2012. “Daqui a quatro anos quero, pelo menos, igualar este resultado”, acrescentou. Nono classificado há quatro anos, João Silva ficou aquém das expectativas com um 35.º lugar, a 6m32s. Também estreante, Miguel Arraiolos foi 44.º a 8m34s.
Vela
Não fosse o final da vida olímpica de João Rodrigues e a equipa da vela teria passado completamente despercebida. O veterano velejador foi o porta estandarte na cerimónia de abertura e esteve à beira da “medal race” no RS:X, o que seria um prémio mais que justo para alguém que participou em sete edições dos Jogos Olímpicos – foi 11.º. O outro veterano da equipa, Gustavo Lima, igualou o seu pior resultado olímpico, terminando em 22.º lugar no Laser (tal como em Londres), ele que nas suas três primeiras participações andou sempre perto do pódio (6.º em 2000, 5.º em 2004 e 4.º em 2008). Sara Carmo fez ligeiramente melhor que há quatro anos (27.ª depois de ter sido 28.ª em Londres). Quanto à dupla do 49er formada por Jorge Lima e José Costa, começou muito bem, com dois quartos lugares nas duas primeiras regatas, mas tiveram alguns dias menos bons e acabaram por falhar por pouco o acesso à “medal race”.