Plano turístico para o Tua em marcha
Mário Ferreira, da Douro Azul, vai investir cinco milhões de euros e a EDP outros dez. Acordo deve vigorar por 50 anos mas ainda não se sabe como serão garantidos transportes às populações.
O plano de mobilidade a que a EDP ficou obrigada com a construção da barragem do Tua tem sido um dos seus principais incumprimentos. Obrigada a repor uma solução de transporte para as populações que usavam a linha ferroviária do Tua, só quase uma década após a sua suspensão é que poderão começar a ouvir-se os apitos do comboio no vale. Está previsto que o primeiro possa circular, a título experimental, em Fevereiro de 2017, e que o arranque da operação comercia se concretize um mês depois.
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O plano de mobilidade a que a EDP ficou obrigada com a construção da barragem do Tua tem sido um dos seus principais incumprimentos. Obrigada a repor uma solução de transporte para as populações que usavam a linha ferroviária do Tua, só quase uma década após a sua suspensão é que poderão começar a ouvir-se os apitos do comboio no vale. Está previsto que o primeiro possa circular, a título experimental, em Fevereiro de 2017, e que o arranque da operação comercia se concretize um mês depois.
De acordo com a Declaração de Impacto Ambiental a EDP deveria “assegurar o serviço de transporte público da linha férrea do Tua no troço a inundar”, devendo para isso analisar a viabilidade de construção de um novo troço de linha férrea e garantir “desde a interrupção do serviço” o transporte regular de passageiros entre a estação de Foz Tua e o apeadeiro de Brunheda, “com paragem nas diferentes localidades, assegurando as valências funcionais da linha férrea do Tua, pelo menos com a mesma qualidade de serviço”.
O comboio, cuja construção já está encomendada, não vai circular em todo o vale, até porque o troço de linha que vai ficar submerso com as águas da barragem que a EDP já começou a encher. Mas estes “serão os 17 quilómetros de rio mais incríveis para serem apreciados a partir de um barco”. Quem o diz é Mário Ferreira, dono da Douro Azul, que já encomendou a uma empresa de Viana do Castelo a construção de uma réplica de um barco rabelo destinado a passeios de pouco mais de uma hora. Foi o empresário quem respondeu ao convite da EDP para apresentar uma solução para aquela zona e, ao PÚBLICO, fez questão de frisar que o que está a desenhar no Tua não é um plano de mobilidade, mas sim um projecto turístico. “No final, o que lá vamos colocar acaba por ser exactamente o que as pessoas pretendiam”, assegura.
A componente turística desse plano de mobilidade implicava uma solução integrada, dividida em três troços para ligar a estação ferroviária de Foz Tua até Mirandela: dois quilómetros de funicular, 19 quilómetros de barco e 39 quilómetros de comboio. Mário Ferreira dispensa o funicular (“o autocarro é muito mais versátil”, argumenta), já encomendou o barco rabelo a uma empresa de Viana do Castelo e está a tratar dos pormenores dos dois tipos de comboio que quer ver a circular entre o apeadeiro da Brunheda e a estação de Mirandela.
Será “um comboio histórico a carvão, que queremos protocolar com o museu ferroviário, e que fará viagens especiais. E uma máquina ecológica a diesel (réplica do comboio antigo), que já mandámos construir em Inglaterra e que vai chegar em Fevereiro do próximo ano”, descreve, acrescentando que será preciso um mês de testes para calibrar a linha.
O barco rabelo será construído em aço “porque as amplitudes térmicas que há no Tua, não permitiriam que um rabelo de madeira aguentasse mais de um ano sem precisar de avultadas manutenções”, explica o empresário. O projecto envolve ainda a construção de cinco cais, uma fluvina e uma rampa de acesso, e a reabilitação de toda a linha férrea entre a Brunheda e Mirandela - que foi alvo de vários roubos. Essa reabilitação já está concluída, com uma celeridade que foi permitida pelo facto de ter sido possível aproveitar os carris e as traves que estavam intactas na zona a inundar.
“Mostrei à EDP que estavam a pagar para tirar carris e a vender ao preço de sucata uma coisa que eu tinha de ir buscar a outro lado e pagá-la a peso de ouro. Nós marcámos o que estava bom, a EDP não precisou de nos pagar para tirar de lá o material e, assim, não tivemos de ir comprar a ouro sitio”, conta.
No total, o projecto vai custar 15 milhões, dez milhões dos quais assegurados pela EDP tal como estava previsto no protocolo de intenções e compromissos entre a eléctrica e a Associação de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT), o organismo que integra os cinco municípios impactados com a construção da barragem. Mário Ferreira coloca no projecto cinco milhões de euros e terá 50 anos para os rentabilizar. “Eu é que fico com o risco da operação. Se ela for um fiasco, sou eu quem tem de o suportar”, explica.
Mas o empresário do Douro está convencido de que a operação pode ser um sucesso. “Acho que a barragem salvou a Linha do Tua, não acabou com ela, como tantas vezes ouço dizer. O que acabou com ela foram as questões de segurança, os acidentes. Com os actuais critérios de segurança, era impossível os comboios circularem por ali. E aqueles cachões verticais são lindíssimos para apreciar a partir do rio”, insiste.
Sobre a mobilidade quotidiana e como vai ser assegurado o transporte dos locais continua tudo por esclarecer. A EDP afirmou ao PÚBLICO que já existe um acordo tripartido entre a ADRVT, a EDP e um operador “para a implementação e exploração do plano de mobilidade, que engloba uma componente turística e uma componente quotidiana”. E refere que o projecto está em processo de execução. A ADRVT e o “operador têm desenvolvido os processos necessários para obtenção das autorizações de exploração no âmbito deste plano”, sublinha.
Mário Ferreira diz que só agora vai começar a discutir os "detalhes" com as autarquias que compõem a ADRVT e garante que está disponível para também assegurar a operação do Metro de Mirandela, cujo funcionamento a Câmara Municipal de Mirandela suspendeu recentemente. O empresário admite criar dois tipos de horários e de tarifário no Metro de Mirandela: um que responde às necessidades da população e outro que pode ser aproveitado para exploração turística.
Por enquanto, a Comissão de Acompanhamento Ambiental (CAA) ainda não teve conhecimento dos pormenores sobre as questões da mobilidade quotidiana nas populações, nem informações sobre o projecto turístico a que Mário Ferreira já está a dar seguimento. A reunião que deveria ter ocorrido em Julho foi adiada devido à substituição do Vice-Presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte que por inerência é o presidente da CAA.