Segredos de Polichinelo
Entre os briefings diários bem-intencionados mas irrealistas e a opacidade de informação sobre o caso dos filhos do embaixador suspeitos de um acto gravíssimo venha o diabo e escolha. O Ministério dos Negócios Estrangeiros está a considerar a possibilidade de pedir ao Iraque o levantamento da imunidade diplomática dos gémeos? Prefere esperar por um pedido judicial de modo a ter uma argumentação mais sólida? O padrão internacional revela que assim é mais eficaz? Mas isso não aumenta o risco de fuga? Estão em contacto com o SEF? Se Portugal fizer o pedido e o Iraque recusar, que cenários se seguem? A Interpol? “Convidar” o embaixador iraquiano a deixar Portugal? Que argumentos podem ser usados para persuadir o embaixador a entregar os filhos à Justiça portuguesa? Não teriam eles vantagens em serem julgados num país democrático e desvantagens em serem semipárias para o resto da vida, pelo menos impedidos de terem uma vida normal na Europa? Para mil perguntas, os jornalistas em Portugal continuam a ter respostas lacónicas. Não sabemos sequer se o ministro Augusto Santos Silva chamou o embaixador iraquiano ao seu gabinete, uma informação que dificilmente prejudica o que quer que o Governo esteja a fazer. No MNE, tudo, até as questões mais inócuas, continua a ser tratado como segredo de Estado. E assim se perde uma oportunidade para explicar aos portugueses para que serve a diplomacia. Ou até, simplesmente, porque é que a Convenção de Viena é — apesar de tudo — uma das forças da democracia.
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Entre os briefings diários bem-intencionados mas irrealistas e a opacidade de informação sobre o caso dos filhos do embaixador suspeitos de um acto gravíssimo venha o diabo e escolha. O Ministério dos Negócios Estrangeiros está a considerar a possibilidade de pedir ao Iraque o levantamento da imunidade diplomática dos gémeos? Prefere esperar por um pedido judicial de modo a ter uma argumentação mais sólida? O padrão internacional revela que assim é mais eficaz? Mas isso não aumenta o risco de fuga? Estão em contacto com o SEF? Se Portugal fizer o pedido e o Iraque recusar, que cenários se seguem? A Interpol? “Convidar” o embaixador iraquiano a deixar Portugal? Que argumentos podem ser usados para persuadir o embaixador a entregar os filhos à Justiça portuguesa? Não teriam eles vantagens em serem julgados num país democrático e desvantagens em serem semipárias para o resto da vida, pelo menos impedidos de terem uma vida normal na Europa? Para mil perguntas, os jornalistas em Portugal continuam a ter respostas lacónicas. Não sabemos sequer se o ministro Augusto Santos Silva chamou o embaixador iraquiano ao seu gabinete, uma informação que dificilmente prejudica o que quer que o Governo esteja a fazer. No MNE, tudo, até as questões mais inócuas, continua a ser tratado como segredo de Estado. E assim se perde uma oportunidade para explicar aos portugueses para que serve a diplomacia. Ou até, simplesmente, porque é que a Convenção de Viena é — apesar de tudo — uma das forças da democracia.