Polícia brasileira exige pedido de desculpa de nadadores dos EUA

Os quatro atletas que mentiram sobre assalto poderão responder judicialmente por falsa comunicação de crime e dano ao património.

Foto
Jack Conger e Gunnar Bentz foram retirados de um voo para os Estados Unidos pelas autoridades brasileiras REUTERS/Ueslei Marcelino

O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, disse, nesta quinta-feira, que os nadadores olímpicos norte-americanos que mentiram sobre um assalto à mão armada devem um pedido de desculpas à cidade brasileira.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, disse, nesta quinta-feira, que os nadadores olímpicos norte-americanos que mentiram sobre um assalto à mão armada devem um pedido de desculpas à cidade brasileira.

"As nossas autoridades desculparam-se com eles por uma situação que não aconteceu, como foi relatada. Eles devem desculpas aos 'cariocas' [cidadãos do Rio de Janeiro]. Acusaram até polícias, mas não digo para pedirem desculpas aos polícias. Devem desculpas ao Rio", afirmou, em declarações aos jornalistas.

As investigações relevaram que os quatro nadadores, incluindo Ryan Lochte, envolveram-se numa confusão num posto de gasolina, apesar de terem relatado que tinham sido assaltados depois de virem de uma festa.

Os atletas estavam alcoolizados e causaram distúrbios no estabelecimento, por isso, os funcionários do posto decidiram chamar a polícia e não permitir que eles abandonassem o local. Um dos seguranças apontou-lhes uma arma, porque, segundo testemunhas, um deles estava exaltado e agressivo. Porém, após pagarem 100 reais (27 euros) e 20 dólares (17,6 euros) pelos danos, os seguranças do local deixaram-nos partir.

Os atletas poderão responder judicialmente por falsa comunicação de crime e dano ao património. "As medidas necessárias para o esclarecimento não foram concluídas para sabermos qual foi o crime, pois ainda estamos a ouvir testemunhas e essas conclusões são preliminares", adiantou Fernando Veloso. O director de comunicações do Comité Olímpico Rio 2016, Mario Andrada, disse aos jornalistas que "eles agiram mal" e que "são jovens e cometem erros".

"O facto de os atletas passarem por uma vergonha pública dessa magnitude é suficiente para que aprendam uma lição", comentou.
Mario Andrada referiu também não estar arrependido de ter pedido desculpas aos norte-americanos após o alegado assalto, referindo: "Estamos pedindo [desculpas] a todos os atletas que podem ter tido algum problema".

Um vídeo transmitido pela TV Globo mostra os nadadores a chegarem num táxi ao posto de combustível e a entrarem num corredor, fora do alcance da câmara. Os nadadores despertaram depois a curiosidade dos funcionários do posto, não se percebendo exactamente porquê, e regressam ao táxi, onde são depois abordados por um segurança.

O dono do posto de combustível, em declarações ao jornal O Globo, acusou os nadadores de terem vandalizado as instalações, ao urinarem na parede. As autoridades brasileiras impediram os nadadores de regressar aos Estados Unidos – apenas Lochte escapou, porque já tinha voado para os EUA.

Gunnar Bentz e Jack Conger, dois dos nadadores envolvidos neste caso, foram barrados quando já estavam dentro do avião. Foram detidos e entretanto libertados, sob a condição de voltarem a ser interrogados pela polícia. E, segundo o jornal O Globo, já admitiram que afinal não foram assaltados.

Ryan Lochte, que já está nos EUA, alterou a sua versão dos acontecimentos e disse, numa entrevista à NBC, que o alegado assalto não aconteceu quando estavam a dirigir-se à Aldeia Olímpica, mas numa bomba gasolina, onde os quatro nadadores foram à casa de banho. O atleta contou que quando voltaram para o táxi, o motorista não ligou o carro e foi nessa altura que dois homens se aproximaram com armas e distintivos da polícia e os terão assaltado.

Confrontando com as incongruências no seu depoimento, Lochte justificou-as com o stress causado pelos acontecimentos.

A versão de Lochte, no entanto, é contrariada por fontes policiais brasileiras. “A única verdade que eles contaram é que eles estavam bêbados”, disse Fernando Veloso, chefe de Polícia Civil, ao portal G1.

E até a imprensa norte-americana começa a desmontar a versão dos nadadores. O New York Times elenca as provas de que Lochte e companhia mentiram: os nadadores dizem que saíram da festa às quatro da manhã, quando há imagens de vídeo com a saída deles às 5h30. Os atletas também disseram inicialmente que o táxi em que seguiam foi parado e afinal as imagens mostram que estavam parados num posto de abastecimento. E, por fim, outras imagens de vídeo mostram os nadadores a regressar à aldeia olímpica “sem sinais de estarem assustados e até brincando entre eles”, disse a juíza Keyla Blanc de Cnop.

Um porta-voz do Comité Olímpico Americano recusou fazer comentários sobre o caso.