A sida não foi algo que lhes aconteceu, a sida foi algo que nos aconteceu

A sida mudou a arte americana. A sida mudou-nos. No Bronx novaiorquino, comunidade particularmente afectada pelo vírus, uma exposição, Art AIDS America, reabre uma ferida tapada pelo silêncio, e propõe uma narrativa: a sida não foi algo que lhes aconteceu, a sida foi algo que nos aconteceu.

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É debaixo do calor húmido de Nova Iorque, e depois de uma viagem de metro até à rua 167, que chegamos ao Bronx. Perto está o estádio dos Yankees. Nesse dia, mais tarde, adeptos e locais hão-de cruzar-se como a música latina se cruza com os sons e imagens dos ecrãs que antecipam o derby com os New York Mets. Ali, uns quarteirões e umas horas antes, encontramos o Bronx Museum of the Arts, que este Verão é ocupado pela exposição Art AIDS America. Adolescentes, vestidos com t-shirts da mesma cor, juntam-se perto de uma instalação no lobby: CRY dizem-nos as letras vermelhas de Jack Pierson, enquanto os miúdos ouvem explicações sobre o que hão-de ver ali: obras de artistas cujo trabalho versa sobre a sida. Há sempre melancolia associada ao trabalho de Pierson, e as suas letras neste contexto podem sugerir perda ou luto, apesar do próprio artista se recusar a dar um significado às palavras que constrói. Mas os adolescentes acabam por ser atraídos pelas imagens mais pop de Keith Haring. O objectivo de envolver a comunidade e de tentar chegar às camadas mais jovens é algo que havemos de perceber mais tarde, em conversa com o curador do Bronx Museum of the Arts. Mas antes questionamo-nos sobre o facto de uma exposição como esta não estar em downtown Manhattan, onde se concentrava a comunidade artística dos anos 80 que inicialmente foi a mais afectada pela epidemia. Talvez seja preciso, afinal, perceber que foram precisos mais de 30 anos para que Art AIDS America acontecesse. E se chega a Nova Iorque isso deve-se a Sergio Bessa e à sua leitura daquilo que é o Bronx e do que esta comunidade viveu e ainda vive. Curador do Bronx Museum of the Arts desde 2003, foi nessa altura que começou a pesquisar a história do bairro. E oi ao olhar para os estudos que se tinham feito que percebeu o quanto o Bronx foi afectado pelo vírus.

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É debaixo do calor húmido de Nova Iorque, e depois de uma viagem de metro até à rua 167, que chegamos ao Bronx. Perto está o estádio dos Yankees. Nesse dia, mais tarde, adeptos e locais hão-de cruzar-se como a música latina se cruza com os sons e imagens dos ecrãs que antecipam o derby com os New York Mets. Ali, uns quarteirões e umas horas antes, encontramos o Bronx Museum of the Arts, que este Verão é ocupado pela exposição Art AIDS America. Adolescentes, vestidos com t-shirts da mesma cor, juntam-se perto de uma instalação no lobby: CRY dizem-nos as letras vermelhas de Jack Pierson, enquanto os miúdos ouvem explicações sobre o que hão-de ver ali: obras de artistas cujo trabalho versa sobre a sida. Há sempre melancolia associada ao trabalho de Pierson, e as suas letras neste contexto podem sugerir perda ou luto, apesar do próprio artista se recusar a dar um significado às palavras que constrói. Mas os adolescentes acabam por ser atraídos pelas imagens mais pop de Keith Haring. O objectivo de envolver a comunidade e de tentar chegar às camadas mais jovens é algo que havemos de perceber mais tarde, em conversa com o curador do Bronx Museum of the Arts. Mas antes questionamo-nos sobre o facto de uma exposição como esta não estar em downtown Manhattan, onde se concentrava a comunidade artística dos anos 80 que inicialmente foi a mais afectada pela epidemia. Talvez seja preciso, afinal, perceber que foram precisos mais de 30 anos para que Art AIDS America acontecesse. E se chega a Nova Iorque isso deve-se a Sergio Bessa e à sua leitura daquilo que é o Bronx e do que esta comunidade viveu e ainda vive. Curador do Bronx Museum of the Arts desde 2003, foi nessa altura que começou a pesquisar a história do bairro. E oi ao olhar para os estudos que se tinham feito que percebeu o quanto o Bronx foi afectado pelo vírus.

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Untitled (Buffalo), 1988-89 de David Wojnarowicz: uma série de búfalos atira-se de um precipício, uma metáfora das políticas americanas relativamente à doença no final dos anos 80 Courtesy of the Estate of David Wojnarowicz, P.P.O.W Gallery, New York, Tacoma Art Museum and The Bronx Museum of the arts

“As pessoas não sabiam o que estava a acontecer", diz-nos, "até porque a maior parte dos casos que surgiam seriam devido à partilha de seringas e não pelo contacto sexual. Por isso afastava-se da ideia de que seria uma doença que pertencia aos homossexuais. Na altura, dois hospitais do Bronx tiveram papel pioneiro na pesquisa do vírus. O meu interesse pela forma como a comunidade viveu esses anos foi crescendo e queria explorar mais através de uma mostra. Mas fazer uma exposição como esta é complicado, porque muitos destes trabalhos são familiares para quem vive em Nova Iorque.”

Art AIDS America não é a primeira exposição de arte associada à sida. A organização Visual AIDS, fundada em 1988 com o intuito de sensibilizar a população para o vírus através de projectos artísticos, organizou, entre outras, NOT OVER: 25 Years of Visual AIDS na Galeria La MaMa em 2013. Antes, em 2009, no Carpenter Center for the Visual Arts, na Universidade de Harvard, mostrava-se ACT UP New York: Activism, Art, and the AIDS Crisis, 1987–1993. Mas esta será a primeira vez que uma exposição com esta dimensão chega a museus de maior relevo. A discussão era demasiado importante para não ser reaberta, ou talvez de facto iniciada, como nos lembra a mensagem de Still Here (2007), de Deborah Kass, em destaque numa das galerias. Para Sergio Bessa, “não é só o facto do vírus ainda existir, quem sobreviveu também está aqui”. Segundo a Organização Mundial de Saúde, desde o início da epidemia mais de 70 milhões de pessoas foram infectadas, das quais cerca de 35 milhões morreram. Exposta, mas também impressa em papel de jornal que os visitantes podem levar para casa, está a mensagem de Fierce Pussy: “if they were alive today, they’d still be living with AIDS” (For the Record, 2013).

O caso do Bronx

Desde que se começaram a reportar os primeiros casos na cidade, o Bronx tinha - continua a ter - das taxas mais altas no estado de Nova Iorque, segundo o Montefiore Medical Center. Em Fevereiro de 1989, os resultados da análise de 143 amostras de sangue de pessoas que tinham ido às urgências de um hospital do South Bronx mostravam que 23% estavam infectadas. Os pacientes tinham entre 13 e 92 anos, e a reacção do supervisor do estudo e director do Bronx-Lebanon Medical Center, Jerome A. Ernst, foi de alarme. Numa notícia do New York Times referente ao estudo, lia-se que essa zona da cidade teria então não só uma das mais altas taxas de infecção por VIH em Nova Iorque, mas no mundo. Os números eram semelhantes noutros bairros, como Harlem e Brooklyn, mas também Newark, Nova Jersey. A tese era a de que o vírus estava a concentrar-se geograficamente, focando-se nas áreas mais pobres e onde o uso de drogas era mais alto. Para Ernts, “os sinos de alarme já estavam a tocar há muito tempo, mas nem sempre tinha estado ali alguém para os ouvir”.

É nesta linha que surge a exposição: talvez tenha sempre havido necessidade de a fazer. Foi Sergio Bessa quem ouviu essa prece e lhe deu uma casa: “Para mim, o essencial era abrir o diálogo com a comunidade. A crise da sida ressoou de forma particular neste bairro e o impacto do VIH-Sida continua a sentir-se. Foi por isso que estabelecemos uma série de programas públicos, paralelamente à exposição, para promover essa conversa sobre um tema que tem sido estigmatizado durante décadas”. O programa culminará a 10 de Setembro, com Still Here: Fighting VIH/AIDS in the Bronx, quando um painel de pesquisadores, cujo trabalho ajudou a melhorar as condições de saúde da população afectada, se juntar para falar com as pessoas do bairro. 

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Numa instalação composta por caixas de cartão de preservativos Trojan (Trojan Boxes, 1991), Adam Rolston actualiza as Brillo Boxes, 1964 de Warhol Marisol Díaz

Mas esta vertente comunitária não esteve na génese da exposição. Antes de viajar até Nova Iorque, o projecto começou em Tacoma, no estado de Washington. Art AIDS America é o resultado de uma década de colaboração entre Jonathan David Katz, um historiador de arte da Universidade de Buffalo, e Rock Hushka, curador do Tacoma Art Museum. Os dois partilham uma crença: a da sida ter mudado profundamente a América e a arte americana. Num texto assinado por ambos pode ler-se: “Sem excepção, os artistas trouxeram-nos as suas histórias de perda e as várias formas como a sida accionou o seu activismo e refinou as suas práticas em estúdio. Estas conversas permitiram-nos explorar e desenvolver os temas de uma forma mais profunda, levando-nos à convicção de que as respostas destes artistas à crise da sida e as suas lutas em curso deixaram uma marca permanente na cultura e arte americanas”. Ambicionam, com o projecto, eliminar o silêncio sobre a presença generalizada de VIH/Sida na arte americana. “Durante demasiado tempo, considerámos a arte sobre a sida como algo trágico, um capítulo fechado na arte americana. Esta exposição demonstra o impacto contínuo e profundo dessa crise.”

David Katz vai mais longe no ensaio How AIDS Changed American Art referindo-se a um trauma colectivo. “A narrativa que queremos contar é expansiva e revisionista, transformando a sida de algo que lhes aconteceu para algo que nos aconteceu. Por causa da sida, uma geração de artistas começou a pensar nas suas práticas de representação primeiro, e principalmente, de forma estratégica.” Acima de tudo, Katz pretende explorar este conceito de uma mudança estética que se viveu por causa dessa epidemia, a que chama camuflagem.

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Apocalypse (1988), de Keith Haring Marisol Díaz

Body, Spirit, Activism and Camouflage

Body, Spirit, Activism and Camouflage são os quatro núcleos em que a exposição se divide, mas não são estanques. Com 125 trabalhos, de 1981 até aos dias de hoje, não segue uma narrativa cronológica, procura antes explorar este conceito da arte que surgiu da epidemia, porque os próprios artistas não tinham como fugir à crise que atingia as suas esferas mais próximas. Num texto na parede de uma das salas, pode ler-se: “As referências à sexualidade e à doença eram de tal forma enterradas, que muitas vezes se afirmava que determinados objectos de arte não tinham qualquer significado pessoal”.

Esta ideia de que no final dos anos 80/início dos anos 90 a doença estava tão presente que acabou por afectar a forma como os artistas tratavam o tema não é totalmente partilhada por Sergio Bessa, mas ele assume a relevância do momento em que museus e galerias começaram a ter medo de receber determinados artistas ou trabalhos, porque havia censura política. Vivia-se a era Reagan (1981-1989) e nos primeiros anos da crise não se tolerava qualquer representação que humanizasse ou permitisse alguma simpatia pelas comunidades mais afectadas. Quando a mostra do fotógrafo Robert Mapplethorpe na Corcoran Gallery of Art foi cancelada em 1989, por receio de cortes de apoios governamentais, por ter um lado erótico, restou aos artistas uma postura de conformidade.

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A discriminação foi imeadiatamente suportada por leis federais que proibiam o apoio a quem estivesse a desenvolver esse tipo de trabalho. "Nenhum dos fundos disponibilizados ao abrigo desta lei (…) deve ser usado para fornecer educação ou informação relativamente à sida, nem para materiais de prevenção ou para actividades que promovam ou incentivem, directa ou indirectamente, as atividades sexuais homossexuais.”. Esta alteração a uma lei federal que apoiava programas relacionados com a sida, através do Centro de Controle de Doenças, foi feita em 1987 pelo senador Jesse Helms. Katz justifica então porque é que tanta da arte sobre a sida não parece ser sobre esse tema. Os artistas tinham duas hipóteses: “aprender a camuflar a sida e o conteúdo queer para que a sua arte continuasse a circular no circuito das artes, ou esquecer o apoio oficial e fazer arte que fosse conscientemente activista, sabendo que não seria exibida em museus ou galerias de arte”. Sergio Bessa continua: “Katz queria mostrar que estas peças foram sempre realmente sobre a epidemia. É por isso que explora esta ideia de camuflagem”. Numa instalação composta por caixas de cartão de preservativos Trojan (Trojan Boxes, 1991), Adam Rolston actualiza as Brillo Boxes, 1964 de Andy Warhol e, através de uma mensagem subversiva, recria as caixas de preservativos, acrescentando a palavra anal ao texto originalmente impresso “para sua proteção durante a relação sexual vaginal”.

Para chegar a uma das peças mais emblemáticas deste conceito de camuflagem temos de passar por uma cortina de missangas cintilantes - Untitled (Water), 1995 é assinada pelo cubano Felix Gonzalez-Torres, e representa a água que neste contexto seria o elemento purificador, em contraste com aquilo que a doença representaria. Quando a atravessamos, chegamos a uma imagem icónica dos anos 90: Untitled (Buffalo),1988-89 de David Wojnarowicz mostra uma série de búfalos a atirar-se de um precipício, uma imagem que é entendida como sendo uma metáfora das políticas americanas relativamente à doença no final dos anos 80. Em ambas as peças a relação com a sida é opaca, mas segundo Katz este “aparente lado inexpressivo e apolítico” é o resultado do impacto do vírus na arte americana.

Por contraste, as secções Corpo e Espírito exploram, respectivamente, sintomas físicos, lesões no corpo, fluidos corporais, representações do vírus, e a necessidade de procurar práticas espirituais - representações da apropriação de determinados símbolos religiosos ou da natureza, dando-lhes novos significados, muitas vezes em busca de uma forma de redenção espiritual para o sofrimento. Ao mesmo tempo as duas secções mostram o impacto dessas marcas, a forma como levavam ao preconceito social, ao ostracismo, por vezes violento. Em Iglesia Pentecostal Mansion de Luz, 1985, Martin Wong pinta a fachada de uma igreja fechada com grades e cadeados. Keith Haring assina Altar Piece, 1990, tríptico de bronze que mostra uma mãe a segurar um bebé e lágrimas que caiem sobre uma série de figuras cartoonescas (conta-se que esta peça terá sido feita já no seu leito de morte.) É também aqui que encontramos Unveiling of a Modern Chastity, 1981, do israelita Izhar Patkin, que mostra a pele aberta pelas feridas, naquela que se acredita ser a primeira representação da doença. Mas também é nesta secção que se vê uma peça que pertence à colecção pessoal do actor Richard Gere, a pele de um banco de ginástica marcada pelo suor dos homens que treinavam num ginásio em São Francisco (Icarian I Incline, 1993, de Daniel Goldstein). Ao lado, as fotografias de mais de 100 modelos para a revista pornográfica BlueBoy Magazine, composição de Pacifico Silano, artista com 30 e poucos anos, mas que desde cedo se interessou pelo tema. Pacifico viu o seu tio morrer de sida quando ainda era criança. Esta nova geração é ainda representada por Kia Labeija, que nasceu em Nova Iorque em 1990, com o vírus, e que explora a sua experiência pessoal com a doença através da arte.

As categorias não são estanques de facto, e quando vemos uma parede ocupada pela recriação de uma instalação do colectivo Gran Fury, que em 1987 ocupou a janela da fachada do New Museum, é fácil perceber que estamos perante a secção dedicada aos trabalhos mais políticos, às manifestações dos artistas que foram para a rua. Estes símbolos e manifestações são os mesmos apresentados no festival de Sundance, em 2012, com How to Survive a Plague, documentário do jornalista David France que veio relembrar a raiva, determinação e triunfo que se vivia nessa altura. O filme conta a história da organização ACT UP, formada em 1987 em Nova Iorque, que abriu caminho para que se olhasse para a sida de forma diferente e contribuiu para que o seu tratamento fosse considerado urgente.

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Marisol Díaz

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Nesta galeria ouve-se Perfect Kiss dos New Order e a performance de “Pomo Afro Homos”, colectivo de São Francisco que teve uma voz activa em Nova Iorque no início dos anos 90. Sergio Bessa fala-nos ainda do Day With(out) Art, celebrado a 1 de Dezembro, em que se presta homenagem àqueles que morreram de sida; e de Homosexual Holocaust, Study for Pink Triangle Torture, 1989 de Judy Chicago, que incorpora o triângulo rosa, símbolo usado nos campos de concentração na era nazi para identificar homossexuais. “Esta é quase uma secção de pesquisa”, diz-nos.

Voltando a Let the Record Show dos Gran Fury, às palavras Silence = Death em néon. Avram Finkelstein foi um dos fundadores do colectivo que assina essa peça, mas acima de tudo é activista/artista e é nesse papel individual que fala ao Ípsilon. “A instalação representou um momento de transição para o mundo da arte, porque fomos convidados por William Olander, na altura curador do New Museum, para usar a janela do museu. Agora, quando fomos contactados para reconstruir uma versão dessa janela, fomos muito fiéis à ideia de não querer criar um artefacto evidente, não querer adicionar camadas. Queríamos manter a intenção original de agente político, foi por isso que decidimos reconstruir em forma de projecção - para lhe dar um sentido efémero, sendo verdadeiro para com o seu significado histórico ou de arquivo.”

Avram tornou-se um activista da sida quando o homem à volta do qual estava a construir a sua vida começou a mostrar os primeiros sinais de imunossupressão em 1981, ainda antes da doença ter nome. O facto de ter vivido essa crise em Nova Iorque, e de ter acabado por perder o seu companheiro em 1984, levou-o a criar, com amigos, o colectivo que desenhou o poster “Silence = Death”. “Foi uma forma de perceber como estar neste mundo enquanto tudo acontecia à minha volta. A resposta foi tornar-me activista. Activismo e arte estão intrinsecamente ligados - venho de uma família de esquerda, os meus pais eram do partido comunista americano, e a ligação entre política e produção cultural esteve não só sempre presente e ligada no meu cérebro, mas também à minha orientação sexual.”

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Marisol Díaz

A exposição funciona de forma diferente em cada lugar onde é apresentada, e em Nova Iorque, não só pela visão específica que Sergio Bessa lhe dá mas também porque muitos dos trabalhos incluídos tiveram origem na cidade, ou pelo menos são de artistas que viajaram nos circuitos activistas e artísticos nova iorquinos, possibilta um ponto de vista mais emocional. Para Avram é como se funcionasse como “um regresso a casa” - “mas é importante clarificar que esta não é uma exposição que funcione como 'a história da sida', não serve como um levantamento histórico, é uma visão particular de uma fracção muito pequena do mundo da arte, é sobre produção cultural, que coincide com o que se fez sobre sida na América”, acrescenta.

Em cada lugar por onde passou, a exposição tem criado polémica. Em Tacoma, alguns dos artistas locais sentiram que as minorias não estavam representadas, nomeadamente artistas afro-americanos e latinos. Quando a exposição viajou para a Georgia, curadores tentaram resolver essa lacuna, mas ali a crítica negativa veio da esfera política, quando três legisladores desse estado se referiram à exposição como “lixo” - “normalmente, as comunidades enviam os seus resíduos para a estação de tratamento de esgoto local. A Kennesaw State University escolheu celebrá-los e elevá-los a uma exposição de arte. Lixo é lixo”, disse, na altura, Lindsey Tippins, presidente da Comissão de Educação e Juventude do Senado, ao jornal local Marietta Daily Journal. A exposição está agora em Nova Iorque até 25 de Setembro, e seguirá para Chicago, onde inaugurará no dia 1 de Dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Sida, na Alphawood Gallery.