A crise não bateu à porta dos partidos
Nas contas da campanha, não há partido que saia bem; mas, na imoralidade das despesas, PS, PSD e CDS foram imbatíveis
A coligação que durante quatro anos aplicou em Portugal um programa de austeridade contratou na última campanha eleitoral uma estrela do marketing político do Brasil que lhe custou quase meio milhão de euros; o PS que se apresentou ao eleitorado com a promessa de a virar a página da austeridade preocupou-se em manter a coerência e pagou a um dos seus militantes mais de 700 mil euros para organizar os seus eventos da campanha. A luta pelo poder nas democracias é, bem se sabe, uma luta árdua para a qual não se poupam meios. Mas entre as rotinas da disputa pelo voto e as campanhas em tempos de crise vai uma distância enorme. A distância que dá forma à moral pública, ao exemplo, à necessidade de partidos e cidadãos partilharem o mesmo destino de dificuldades. Uma distância que nem o PSD, nem o CDS nem o PS foram capazes de cumprir.
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A coligação que durante quatro anos aplicou em Portugal um programa de austeridade contratou na última campanha eleitoral uma estrela do marketing político do Brasil que lhe custou quase meio milhão de euros; o PS que se apresentou ao eleitorado com a promessa de a virar a página da austeridade preocupou-se em manter a coerência e pagou a um dos seus militantes mais de 700 mil euros para organizar os seus eventos da campanha. A luta pelo poder nas democracias é, bem se sabe, uma luta árdua para a qual não se poupam meios. Mas entre as rotinas da disputa pelo voto e as campanhas em tempos de crise vai uma distância enorme. A distância que dá forma à moral pública, ao exemplo, à necessidade de partidos e cidadãos partilharem o mesmo destino de dificuldades. Uma distância que nem o PSD, nem o CDS nem o PS foram capazes de cumprir.
Foi preciso esperar pelas eleições presidenciais para que essa falta de sintonia fosse exposta em toda a sua crueza. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi capaz de se eleger com uma campanha mínima e todos os seus adversários se empenharam para que Portugal não se arriscasse a ser o país do défice e da dívida onde os políticos se pavoneiam em cartazes disseminados pelas aldeias. Ao contrário dos partidos, os candidatos a Belém foram capazes de perceber que esse exemplo de austeridade no país da austeridade era não só uma forma de se alinharem com a sensibilidade média dos cidadãos, mas até uma maneira de evitar a corrosão da imagem que os afasta dos eleitores. Nas legislativas, entre os helicópteros do Bloco e os jantares para mais de mil pessoas do PCP, o despesismo não salvou ninguém. Mas, pagar meio milhão de euros a um consultor que vem do país onde a política se vende como um sabonete ou passar cheques milionários a um compagnon de route especializado em fazer política-espectáculo são o sinal acabado de que, em Portugal, a crise é, para os partidos, uma factura só para alguns.