Há cinco anos, quando a guerra na Síria começou, Omran Daqneesh nasceu. Na quarta-feira, ao fim do dia, a guerra ia-o matando — o conflito já matou tanta gente, e mata-as a tanta velocidade, que as Nações Unidas deixaram de fazer o registo das baixas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há cinco anos, quando a guerra na Síria começou, Omran Daqneesh nasceu. Na quarta-feira, ao fim do dia, a guerra ia-o matando — o conflito já matou tanta gente, e mata-as a tanta velocidade, que as Nações Unidas deixaram de fazer o registo das baixas.
Na quarta-feira, a casa dos Daqneesh (o rapaz, os pais e mais três irmãos, de um, seis e 11 anos) foi atingida. Ficava em Qaterji, um bairro de Alepo, a cidade do Norte do país que é palco das piores batalhas da guerra, com o governo de Damasco a querer resgatá-la aos vários rebeldes que contestam o regime de Bashar al-Assad.
Omran foi salvo juntamente com três irmãos. Os pais também saíram do edifício vivos, mas a casa ruiu logo a seguir. E a rapariga, a de 11 anos, só se deixou levar para a ambulância quando viu a mãe ser retirada do entulho onde tinha ficado presa. Depois de ser socorrido da casa em ruínas, sentado numa ambulância, coberto de pó e sangue, Omran passa a mão pela cara e tenta limpar-se. A expressão no seu rosto comoveu as redes sociais e as imagens tornaram-se virais.
Durante a tarde, um dos médicos que o assistiu partilhou uma nova imagem da criança já depois de ser tratada.
Os combates em Alepo são considerados dos mais violentos desde o início do conflito. Há zonas da cidade com acesso bloqueado e milhares de civis em perigo de vida. Uns por causa das bombas, outros porque não há que comer, que beber, com que curar doenças ou tratar feridas.
Esta quarta-feira, a União Europeia exigiu uma "paragem imediata" nos combates em Alepo de forma a serem retomadas as operações humanitárias e de socorro. A Rússia, que está a apoiar Assad, em nome do combate contra o terrorismo e o Estado Islâmico, respondeu que, "na semana que vem", começarão "pausas humanitárias" de 48 horas "para permitir a entrega de ajuda aos habitantes de Alepo". Trata-se, explicou em comunicado o Ministério da Defesa russo, de "um projecto piloto" destinado a confirmar que a ajuda é entregue em segurança e à população civil da cidade.
"A data e hora exactas [da pausa] serão determinadas depois de serem recebidos, da ONU, as informações relativas à preparação dos comboios de ajuda humanitária".
A história lembra a imagem de Alan Kurdi, o menino de três anos, também ele sírio, que morreu afogado ao tentar escapar justamente ao conflito que está a destruir o país, atravessando o mediterrâneo no início de Setembro do ano passado, em busca de asilo na Europa. A fotografia do corpo da criança na costa de Bodrum , Turquia, foi amplamente partilhada e tornou-se imagem se tornou o símbolo dos refugiados que morrem ao tentar chegar a solo seguro. As comparações já começaram.
Um correspondente do The Telegraph partilhou também no Twitter uma imagem de Barack Obama e Vladimir Putin que diz estar a ser partilhada entre os sírios nas redes sociais e que pedem a intervenção dos líderes internacionais, que "nada estão a fazer" para a resolução do conflito.
O mesmo jornalista acrescenta ainda que a família da criança não quer falar com a comunicação social por temer represálias do regime de Bashar al-Assad.