Festa do Avante!: o que custa é desmontar

Este ano, com mais terreno, a montagem da Festa do Avante começou mais cedo. “Queríamos era que este espírito durasse 365 dias”, diz um dos construtores de um evento que faz 40 anos.

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“Aqui, os engenheiros transformam-se em pedreiros, os pedreiros em electricistas, os electricistas em arquitectos…”, diz Duarte Alves, 25 anos, estudante no ISEG, em Lisboa, a apontar para os camaradas que estão a trabalhar, espalhados pelos 28 hectares da Quinta da Atalaia, no Seixal. Este ano, a festa começou a ser montada mais cedo, até porque daqueles hectares sete são novos e, nesses, é preciso fazer tudo de raiz.

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“Aqui, os engenheiros transformam-se em pedreiros, os pedreiros em electricistas, os electricistas em arquitectos…”, diz Duarte Alves, 25 anos, estudante no ISEG, em Lisboa, a apontar para os camaradas que estão a trabalhar, espalhados pelos 28 hectares da Quinta da Atalaia, no Seixal. Este ano, a festa começou a ser montada mais cedo, até porque daqueles hectares sete são novos e, nesses, é preciso fazer tudo de raiz.

Desde 4 de Junho que já andam no terreno jovens da JCP, militantes do partido e não militantes. Aqui e ali, vê-se uma ou outra frase que não engana: “Pela paz avante com a luta anti-imperialista.” São 9h e muitos já estão de mangas arregaçadas. No fim-de-semana anterior ao feriado de 15 de Agosto, e no próprio feriado, estiveram no espaço jovens de todo o país da JCP, entre os 13 e os 28 anos. Não só ajudam a montar a festa como fazem plenários sobre ensino superior, secundário, trabalhado-jovem e precariedade.

No terreno, as ajudas dividem-se entre as brigadas, os que acampam antes da festa para meter na mão na massa todos os dias, e as jornadas, os grupos que vão aos fins-de-semana. O que conta é isto: todos ajudam a montar a Festa do Avante!, mais novos, mais velhos, militantes ou não. Kaoê Rodrigues, 19 anos, responsável pela construção da Cidade da Juventude, passa aqui o Verão: “Há quem dedique as férias a isto. Camaradas que tiram férias para vir para aqui.”

Alguns de boné, calções, roupas com poeira, suados, outros de tronco nu, gente de ancinho a limpar o terreno, outros a martelar, a transportar placas de um lado para outro, a pôr toldos, a serrar madeira. Só no Espaço Internacional, onde estarão outros partidos convidados, colocaram 200 toldos naquele fim-de-semana. Montam paredes nos stands. Medem, cortam placas. Passam com fitas métricas e martelos na mão. Espalham os postes para as bandeiras. É um número de tarefas sem fim. No terreno novo, estão a construir esgotos, canalizações, condutas de água. Há um gabinete de militantes com formação na área, com conhecimentos de engenharia e arquitectura, e também há camaradas especialistas em questões de higiene e segurança alimentar que dão formação. Mas também há muitos jovens a pregar um prego pela primeira vez.

Até na parte antiga da quinta há muito trabalho, que se recomeça todos os anos: “Não temos estruturas fixas, é mesmo para ser sempre diferente. A festa nunca é igual, isso obriga a trabalho criativo”, diz Duarte Alves, com uma t-shirt vermelha na qual se lêem palavras como “festa, luta, sonho”. O “camarada” que, no secretariado da JCP, tem a responsabilidade da festa, acrescenta: “Isto é o estaleiro do que poderia ser o nosso país com os valores de Abril, com o trabalho colectivo, com uma concepção diferente de estar na vida, com militância.”

O alargamento da Quinta da Atalaia coincide com os 40 anos da festa e, por isso, haverá uma exposição dedicada às quatro décadas do evento. Também vai haver uma exposição sobre precariedade que será interactiva: por exemplo, parte do chão vai ser irregular para o visitante sentir instabilidade. Terá depoimentos, estatísticas. Vai haver uma roda gigante. O concerto sinfónico ao ar livre vai ter um reportório com peças clássicas e músicas revolucionárias. E há duas entradas, uma delas a partir da parte nova, a Quinta do Cabo da Marinha, onde há postos de iluminação acabados de instalar, onde estão a montar um parque infantil, onde foram plantadas cem árvores, ainda pequenas.

Saudação aos construtores

Antes do arranque da festa, o secretário-geral, Jerónimo Sousa, vai fazer a 27 de Agosto uma “saudação” aos construtores. Depois, voltará a discursar no primeiro dia da festa – entre 2 e 4 de Setembro – e no último. Esse será o grande discurso, com cerca de uma hora.

Ana Moura, Aldina Duarte, Carlão com Sam the Kid e Sara Tavares, Cristina Branco, Diabo na Cruz, Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal, Peste & Sida, Sérgio Godinho e Jorge Palma e Xutos & Pontapés são alguns dos nomes presentes num programa que inclui ainda teatro, cinema, exposições.

Há espaços dedicados aos vários distritos do país, um palco com bandas novas de várias regiões. Também há o espaço da mulher, outro dedicado à emigração, outro à imigração, sempre com debates, exposições. Há ainda os espaços da criança, do desporto, das artes - centrado na gravura, nesta edição -, do cinema, do teatro. Este ano, o espaço da ciência é sobre o desenvolvimento da investigação científica desde o tempo do fascismo. E haverá ainda um local onde desenvolver a ideia das pontes que se abriram com o 25 de Abril e com a aprovação da Constituição.

A feira do livro é uma das partes mais difíceis de montar, diz Miguel Mestre, 20 anos, de Sintra, que quer seguir História. As tendas já estão erguidas, “mas, quando são levantadas, é ao sol”, explica, apontando para jovens que ainda estão pendurados lá em cima, nas estruturas altas. É precisamente pela altura das tendas que Elsa Severino, 21 anos, gosta de estar a trabalhar nesta parte do recinto: “Temos uma perspectiva diferente lá em cima.”. E depois todos sentem o contentamento de ver os “camaradas” e os visitantes a descansarem à sombra das tendas que eles montaram, ou a abrigarem-se da chuva, quando acontece. Aqui, até Renata Costa, jurista de 28 anos, ajuda, mesmo de braço ao peito. Magoou-se a jogar futebol, mas isso não a impede de estar a pôr corda nos cantos dos toldos.

Todos os jovens dizem o mesmo, que não se cansam, que se divertem. Francisca Silva, 17 anos, do Porto e da JCP desde o ano passado, já ajudou a montar placas, a pintar: “Não é cansativo, porque o trabalho é em grupo e porque gosto do ambiente.” Ana Valente, bolseira de 25 anos, da JCP há três, fala num “ambiente de fraternidade”.

Mas também há pessoas mais velhas, como Isabel Freitas, 68 anos, operária têxtil reformada, de Aveiro e militante desde 1978. Enquanto segura uma placa com luvas, corrobora as palavras dos mais jovens: “Não é cansativo, é uma vitamina para carregar baterias, ver renascer a festa todos os anos.” Ao lado, José Freitas, 67 anos, técnico de contencioso reformado e militante desde 1976, acrescenta: “O que custa mais é vir desmontar. Montar é uma alegria. Ver nascer este projecto colectivo. Queríamos é que este espírito da festa durasse 365 dias por ano.” Nem os deputados escapam. Diana Ferreira lá está a cortar tábuas para pôr no stand de Gaia.

E outros que são apenas simpatizantes do partido, como Mário Antunes, 40 anos. É empresário, tem uma gráfica em Valongo. É a primeira vez que aqui está. Habituado a andar de carro e a fazer orçamentos, agora fez trabalhos de carpintaria, ajudou a colocar placas, tubos. Para o ano, já disse à irmã, que é militante do PCP, que vai tirar uns dias de férias, para vir outra vez.