Não trabalhem nunca
A definição de bom emprego por estes dias parece variar consoante o extracto social do questionado
Considerando os números do desemprego, mudar de trabalho hoje em dia pode parecer um capricho. Mas se nos contentarmos com qualquer coisa que apareça, estamos apenas a dar razão às inúmeras entidades patronais que acham que estão a fazer um favor quando contratam alguém
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Considerando os números do desemprego, mudar de trabalho hoje em dia pode parecer um capricho. Mas se nos contentarmos com qualquer coisa que apareça, estamos apenas a dar razão às inúmeras entidades patronais que acham que estão a fazer um favor quando contratam alguém
Como tudo o resto na vida, os empregos gastam-se e sobretudo gastam-nos. A definição de bom emprego por estes dias parece variar consoante o extracto social do questionado, mas algures na resposta estarão certamente contemplados, ainda que com pesos diferentes, a remuneração, o tipo de trabalho em causa e o ambiente.
Factores como o horário, ser valorizado e a rigidez da estrutura normalmente também tendem a ser referidos. Independentemente da satisfação que obtivermos a fazer o nosso trabalho, invariavelmente atingimos o ponto Sartre em que “o inferno são os outros”.
E quando isso acontece, pouco importa se estamos a falar do Cristiano Ronaldo, do Steve Jobs ou do Einstein, porque chegou a hora de sair. Isso ou aceitar os conflitos que surgem naturalmente da insatisfação, o que leva geralmente a uma desmotivação ainda mais agravada.
De quem é a culpa, embora seja sempre dos outros, é irrelevante. Chegou a hora de procurar um novo trabalho, porque faremos mais falta onde não estamos. E também porque não se consegue enganar toda a gente o tempo todo. Este é o momento em que deixamos de conseguir ludibriar a entidade patronal de que gostamos de trabalhar, pelo menos ali, por isso há que enganar outros. Pelo menos enquanto nos conseguirmos enganar a nós próprios de que gostamos mesmo de trabalhar, porque no fundo no fundo não gostamos. Ninguém gosta.
Podemos gostar do trabalho em si mas dificilmente apreciaremos o facto de ser mais uma peça na engrenagem laboral e de ter de acatar as muitas vezes absurdas decisões da hierarquia, que se alguma vez esteve na nossa posição, há muito se esqueceu.
Por isso, o melhor mesmo é evitar chatices e não trabalhar nunca. O lado positivo é que, atendendo à situação económica e social isso é cada vez mais fácil de conseguir.