Mediterrâneo tem o pedaço de crosta oceânica mais antigo da Terra

No Leste do mar Mediterrâneo, perto do Egipto, calcula-se que tenha sobrevivido até hoje crosta oceânica com cerca de 340 milhões de anos.

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A bacia de Heródoto fica a norte do Egipto NASA

A crosta oceânica está continuamente a ser reciclada. É assim que os oceanos se formam e alargam, mas também é assim que se extinguem. Esta dinâmica força o movimento dos continentes, que se aproximam e se afastam uns dos outros. Por isso, ao contrário dos continentes, onde ainda se encontram rochas formadas há milhares de milhões de anos, a reciclagem das rochas da crosta oceânica faz com que as mais antigas que se conhecem tenham menos de 200 milhões de anos. Mas agora, um estudo feito no Leste do mar Mediterrâneo mostra que há uma parte da crosta oceânica com cerca de 340 milhões de anos – ou seja, 150 milhões de anos mais antiga do que o recorde anterior.

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A crosta oceânica está continuamente a ser reciclada. É assim que os oceanos se formam e alargam, mas também é assim que se extinguem. Esta dinâmica força o movimento dos continentes, que se aproximam e se afastam uns dos outros. Por isso, ao contrário dos continentes, onde ainda se encontram rochas formadas há milhares de milhões de anos, a reciclagem das rochas da crosta oceânica faz com que as mais antigas que se conhecem tenham menos de 200 milhões de anos. Mas agora, um estudo feito no Leste do mar Mediterrâneo mostra que há uma parte da crosta oceânica com cerca de 340 milhões de anos – ou seja, 150 milhões de anos mais antiga do que o recorde anterior.

Publicado esta semana na revista científica Nature Geoscience, o trabalho poderá ajudar a contar a complexa história geológica do nosso planeta.

Só na década de 1960 é que se conseguiu explicar satisfatoriamente a evolução geológica da Terra, graças à teoria das placas tectónicas. Hoje consensualmente aceite, esta teoria defende que a superfície da Terra é formada por várias placas, que englobam continentes e chão oceânico, e que se deslocam umas em relação às outras.

Este movimento é possível graças à formação de nova crosta nas dorsais médio-oceânicas, como acontece no meio do oceano Atlântico. Aqui, magma vindo do interior da Terra ascende à superfície, originando crosta oceânica recém-formada, e nesse movimento vai afastando as Américas tanto da Europa como de África. Ao mesmo tempo, existem zonas de subducção noutras regiões do planeta, onde a crosta oceânica mergulha no interior da Terra por baixo de outra placa. Ao longo do tempo, é esta dinâmica que vai alterando a geografia terrestre.

Há cerca de 250 milhões, no início do Mesozóico (a era dos dinossauros), a distribuição dos continentes era completamente diferente: a grande maioria da massa terrestre estava agrupada num único supercontinente, a Pangeia. Há cerca de 200 milhões de anos, a Pangeia começou lentamente a partir-se, iniciando o movimento que iria originar a distribuição continental que conhecemos hoje.

Na bacia de Heródoto

O oceano Atlântico começou a formar-se há 180 milhões de anos. Por isso, a crosta oceânica mais antiga deste oceano terá de ter menos do que essa idade. Em zonas continentais, encontram-se formações rochosas de crosta oceânica que pertencem a mares e oceanos bastante mais antigos, que hoje não existem. Até agora, a crosta no oceano mais antiga estava situada a leste do Japão e tem apenas 190 milhões de anos, formada no Jurássico, em pleno Mesozóico.

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Mas Roi Granot, geólogo da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, mostrou no seu artigo na Nature Geoscience que no mar Mediterrâneo existe um pedaço de crosta oceânica que terá sobrevivido muito mais tempo.

O cientista estudou as bacias de Heródoto e do Levante, que ficam no extremo Leste daquele mar, entre o Egipto, o Médio Oriente e Chipre. A crosta original nesta região encontra-se tapada por uma camada de mais de dez quilómetros de sedimentos. O que o investigador quis analisar estava por baixo dessa camada de sedimentos.

Roi Granot fez várias viagens em cruzeiros por cima das duas bacias para mapear a crosta com sensores magnéticos. Estes sensores permitiram detectar padrões magnéticos importantes que existem nas rochas da crosta oceânica. Quando o magma ascende até à superfície, no oceano, os minerais solidificam. Mas os elementos metálicos, como o ferro, respondem às forças magnéticas do planeta e, quando solidificam, a sua orientação alinha-se com o campo magnético terrestre. No entanto, este campo não foi sempre igual. A sua orientação, ao longo da história da Terra, foi invertendo-se de Norte para Sul e vice-versa, repetidamente.

Assim, quando se analisa a crosta oceânica, encontra-se um padrão de orientação dos minerais magnéticos que traduz estas mudanças da orientação do campo magnético terrestre.

Os oceanos de Tétis

Roi Granot encontrou um padrão típico destas bandas na bacia de Heródoto. “Aqui estou no meio do Leste do Mediterrâneo e vejo esta característica que atravessa todo o mar, de Norte a Sul”, disse o investigador, citado numa notícia da revista de divulgação científica New Scientist, referindo-se às bandas. “Esta característica só pode ser criada em crosta oceânica.”

Depois, o cientista comparou o padrão destas bandas magnéticas com características geológicas antigas relativas ao movimento do continente africano. E concluiu que o padrão magnético da crosta oceânica encontrada na bacia de Heródoto só poderia ter sido criado há cerca de 340 milhões de anos, no período Carbonífero da era Paleozóica, 40 milhões de anos antes do continente Pangeia estar completamente formado.

O investigador não sabe ainda a que mar pertenceu aquele pedaço de crosta na altura da sua formação. Ao longo dos milhões de anos necessários para os continentes da Terra se juntarem na Pangeia e depois se separarem, existiram naquela região dois oceanos de Tétis. Primeiro o Paleotétis, que depois foi substituído pelo Neotétis, com criação de nova crosta oceânica. Ambos eram no Leste da Pangeia.

Ora, o pedaço de crosta oceânica com 340 milhões de anos poderá também desvendar um pouco da história dos dois Tétis. Se a região estudada fez parte do novo sistema de formação de crosta que deu origem ao Neotétis, então este oceano é “pelo menos 50 milhões de anos antes do que se supunha”, considera o investigador no artigo. Será preciso perscrutar melhor a região para poder concluir se esta relíquia geológica é dos tempos do Paleotétis ou do Neotétis.