Cientista português descobre “João Pestana” no controlo do sono

Diogo Pimentel é um dos principais autores de trabalho publicado na revista "Nature", no qual se descreve uma experiência com moscas da fruta que serviu para esclarecer uma parte do mistério do sono

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nomao saeki/Unsplash

A verdade é que ninguém sabe por que é que precisamos de dormir. Se a resposta imediata for, simplesmente, porque estamos cansados, saiba desde já que isso não chega para perceber o funcionamento do nosso cérebro nessa parte das nossas vidas que nos “rouba” 1/3 do tempo. O cansaço não é uma explicação, pelo menos para qualquer neurocientista. Uma equipa de investigadores da Universidade de Oxford, em Inglaterra, já conseguiu perceber o mecanismo que actua no grupo de neurónios que controla o sono das moscas da fruta e que é capaz de as acordar. Se ele estiver desligado, as moscas dormem muito mais tempo. Por isso, os cientistas chamaram-lhe "João Pestana" (ou "Sandman", na versão inglesa).

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A verdade é que ninguém sabe por que é que precisamos de dormir. Se a resposta imediata for, simplesmente, porque estamos cansados, saiba desde já que isso não chega para perceber o funcionamento do nosso cérebro nessa parte das nossas vidas que nos “rouba” 1/3 do tempo. O cansaço não é uma explicação, pelo menos para qualquer neurocientista. Uma equipa de investigadores da Universidade de Oxford, em Inglaterra, já conseguiu perceber o mecanismo que actua no grupo de neurónios que controla o sono das moscas da fruta e que é capaz de as acordar. Se ele estiver desligado, as moscas dormem muito mais tempo. Por isso, os cientistas chamaram-lhe "João Pestana" (ou "Sandman", na versão inglesa).

Diogo Pimentel é investigador de pós-doutoramento na Universidade de Oxford, onde está há cerca de seis anos. “Há três ou quatro anos que trabalho no sono”, explica o bioquímico, que se especializou em neurociências. “Estamos interessados no sono porque todos temos de passar uma parte substancial da nossa vida a dormir, mas ainda não sabemos por que é que temos de dormir. E acho que do ponto de vista das neurociências é um dos grandes enigmas que estão por resolver”, referiu ao PÚBLICO.

Nem sabemos o que significa estar cansado do “ponto vista neurológico”, se essa for a explicação para a necessidade de dormir, adianta. “O que é que o cérebro precisa de fazer durante o sono que justifique o risco e a perda de produtividade que temos quando dormimos? É um terço da nossa vida em que não podemos fazer nada e que, do ponto de vista evolutivo, nos coloca numa posição de desvantagem. Alguma coisa vital e muito importante tem de compensar o investimento de tanto tempo a dormir”, argumenta Diogo Pimentel. O trabalho que agora foi publicado na revista científica "Nature" ainda não esclarece o enigma, mas representa mais um passo nesse sentido.

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Ilustração do homeostato do sono Centro para Circuitos Neuronais e Comportamento/Universidade de Oxford

“Se compreendermos como é que o sono é regulado, ficamos a um passo mais perto de perceber por que é que precisamos de dormir”, defende o investigador, que esteve a observar um conjunto de cerca de duas dúzias de neurónios no cérebro das moscas da fruta (os cientistas acreditam que algo semelhante se passa no cérebro dos humanos) que já tinham sido associados ao controlo do sono em estudos anteriores.

Estes cerca de 24 neurónios são uma espécie de termostato no nosso cérebro para o sono, a que os investigadores chamam “homeostato do sono”. “O que esse homeostato faz é detectar quando estamos acordados há tempo de mais, para então ligar o programa do sono e vamos dormir. O que esclarecemos neste estudo é que o mecanismo que desliga estes neurónios nos faz acordar quando estamos a dormir.”

O reverso deste circuito – ou seja, o mecanismo que “liga” estes neurónios para nos fazer dormir – ainda não foi esclarecido e será o próximo passo da investigação da equipa da Universidade de Oxford.

A explicação do nome

“Para já, sabemos que o que desliga os neurónios é o neurotransmissor da dopamina, que inicia um processo intracelular que depende de um canal iónico [uma molécula de membrana celular] a que chamámos 'Sandman' e que em português seria o' João Pestana'”, explica Diogo Pimentel.

O nome dado a este canal que viabiliza a transmissão de impulsos eléctricos entre os neurónios parece contraditório com o seu efeito, uma vez que nos acorda. Mas, segundo esclarece o cientista, esta é a tradição em estudos de genética com moscas da fruta. “Quando se descobre uma mutação [genética], normalmente nomeia-se a proteína de acordo com o efeito da mutação – ou seja, neste caso, se tirarmos o 'Sandman' destes neurónios, o que acontece é que as moscas dormem praticamente o dia todo.”

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