Watergate Hotel reabre com alusões ao escândalo e Nixon nos WC

Cartões dos quartos dizem “não é preciso arrombar” e ouvem-se discursos de Nixon nos lavabos do renovado hotel de Washington.

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“Não é preciso arrombar.” Inscrita nos cartões electrónicos que abrem as portas do renovado Watergate Hotel, em Washington, a frase (“No need to break in”, no original) é um bom exemplo da estratégia usada pelos seus novos proprietários para lidar com a não muito edificante história que tornou o edifício famoso em todo o mundo.

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“Não é preciso arrombar.” Inscrita nos cartões electrónicos que abrem as portas do renovado Watergate Hotel, em Washington, a frase (“No need to break in”, no original) é um bom exemplo da estratégia usada pelos seus novos proprietários para lidar com a não muito edificante história que tornou o edifício famoso em todo o mundo.

Foi neste luxuoso hotel, projectado nos anos 60 pelo arquitecto italiano Luigi Moretti, que ficaram alojados os cinco homens que, em 1972, assaltaram e colocaram escutas na sede do Partido Democrata, instalada na zona de escritórios do mesmo edifício, um escândalo que levaria, dois anos mais tarde, à demissão do presidente Richard Nixon, acusado de ter tentado encobrir esta operação de espionagem política.  

Fechado desde 2007, o hotel foi recentemente adquirido pela Euro Capital Properties, de Jacques Cohen, que investiu 125 milhões de dólares (111 milhões de euros) na remodelação interior do icónico edifício de Moretti, cujas arrojadas linhas ondulantes contrastavam fortemente, nos anos 60, com a conservadora arquitectura neoclássica de Washington. Quando o hotel foi inaugurado, em 1967, o jornal The Washington Post escreveu que este era tão adequado à cidade como “uma stripper a dançar no funeral da vossa avó”.

O mesmo jornal iria depois divulgar o assalto à sede do Partido Democrata e provar a sua ligação à campanha de Nixon, numa investigação dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, auxiliados por um informador anónimo, o agente do FBI Mark Felt, que só em 2005 admitiu ser o famoso Garganta Funda.

O responsável pela remodelação do edifício, um arquitecto e designer israelita radicado em Londres, Ron Arad, não pôde mexer no exterior, mas reconverteu integralmente o hotel, aumentando o número de quartos e abrindo vários espaços: um restaurante, um terraço no topo do edifício, ou ainda um bar ao qual se acede contornando uma parede feita de mais de 2500 garrafas de whisky fixadas a uma estrutura de ferro, o The Next Whisky Bar, cujo nome se inspira na versão dos Doors da canção Alabama Song.

Ron Arad admite que o que o atraiu neste projecto foi justamente a memória do escândalo de Watergate, que levou à demissão do presidente norte-americano Richard Nixon e instituiu a palavra “gate” (portão ou barreira) como sufixo dos mais variados tipos de escândalos e controvérsias, dentro e fora dos Estados Unidos. Mas o objectivo principal foi fazer um hotel de luxo – as dormidas mais baratas custam 400 euros –, e as alusões ao passado são bem-humoradas e discretas, podendo mesmo passar despercebidas a quem não esteja muito familiarizado com a história do escândalo que celebrizou o hotel.  

Ainda assim, é de crer que as senhoras que vão corrigir a maquilhagem aos lavabos do restaurante estranhem um pouco que, em vez da habitual música ambiente, ouçam excertos das célebres gravações de Nixon na Sala Oval. E se o facto de as esferográficas do hotel terem gravada a inscrição “Roubei esta esferográfica no Hotel Watergate” pode fazer soar alguma campainha nos hóspedes mais distraídos, já o código telefónico de acesso à recepção – 6171972 – parecerá um pouco longo, mas não é certo que se repare logo que corresponde à data do assalto à sede do Partido Democrata: 17 de Junho de 1972.