Era um recorde “impossível”, mas Wayde van Niekerk bateu-o

O sul-africano Wayde van Niekerk bateu largamente toda a concorrência nos 400m e acabou com o fantástico tempo de 43,03s, um novo recorde mundial que cancela o que fora obtido em 26 de Agosto de 1999, por Michael Johnson.

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A parte final do terceiro dia do atletismo olímpico, esta madrugada em Portugal, ficou marcada, para além da obtenção do terceiro título de Usain Bolt nos 100m, pela proeza obtida noutra das finais mais aguardadas, a dos 400m masculinos, que superou de forma insofismável tudo o que até agora aconteceu nos Jogos. O sul-africano Wayde van Niekerk bateu largamente toda a concorrência e acabou com o fantástico tempo de 43,03s, um novo recorde mundial que cancela o que fora obtido em 26 de Agosto de 1999, durante os campeonatos mundiais de Sevilha por um dos mais lendários atletas de sempre, o americano Michael Johnson, que então correra em 43,18s.

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A parte final do terceiro dia do atletismo olímpico, esta madrugada em Portugal, ficou marcada, para além da obtenção do terceiro título de Usain Bolt nos 100m, pela proeza obtida noutra das finais mais aguardadas, a dos 400m masculinos, que superou de forma insofismável tudo o que até agora aconteceu nos Jogos. O sul-africano Wayde van Niekerk bateu largamente toda a concorrência e acabou com o fantástico tempo de 43,03s, um novo recorde mundial que cancela o que fora obtido em 26 de Agosto de 1999, durante os campeonatos mundiais de Sevilha por um dos mais lendários atletas de sempre, o americano Michael Johnson, que então correra em 43,18s.

O que acontecera nos Mundiais de Pequim do ano passado nos 400m não tinha tido uma sequência imediata no Rio, quanto a grandes marcas obtidas nas eliminatórias e meias-finais, mas uma tendência não deixou de se confirmar desde logo para a final de hoje - a da cada vez maior importância de pequenos países numa das disciplinas mais duras do atletismo. Assim se viu a composição da final: do Botswana, Karabo Sibanda na pista um; do Bahrain, Ali Khamis, na dois; da Trinidade e Tobago Machel Cedenio, na três; de Granada, Bralon Tapln na quatro e Kirani James, na seis: dos Estados Unidos, LaShawn Merritt na cinco; da Grã-Bretanha, Matthew Hudson-Smith na sete; e da África do Sul Wayde van Niekerk, na oito. Portanto, Granada, pequeno país marítimo das Caraíbas a ser o único com mais que um elemento, Estados Unidos só com um dos três que iniciaram os Jogos.

Para além do mais estavam em pista os dois últimos campeões olímpicos, o de 2008 (Meritt) e o de 2012 (James), além do campeão mundial do ano passado, o próprio Van Niekerk. Uma mistura explosiva, que explodiu ao tiro de partida.

LaShawn Merritt tinha a vantagem de ter adiante de si Kirani James e rapidamente se viu que a prova poderia ser um duelo entre eles, como tantas vezes aconteceu no passado. Para mais Van Niekerk corria “cego”, na pista oito, sem ter ninguém como referência. Mas isso não intimidou o sul-africano, que aos 300m era cronometrado oficiosamente em 31 segundos, abaixo portanto do tempo de passagem de Michael Johnson aquando do recorde anterior (31,66s). Houve depois um momento em que, no fragor da sua luta, Merrit e James pareciam ir aproximar-se, mas a verdade é que Van Niekerk manteve a pressão e viria a acabar com seis metros de vantagem. Quando o cronómetro parou, o sul-africano nem parecia acreditar no que via. Nem ele nem muitos outros, mas o recorde de Michael Johnson estava batido, e por larga margem.

No ano passado, ao fazer 43,48s para o título mundial de Pequim, Van Niekerk acabou tão esgotado que teve de sair de pista em maca. Desta vez manteve-se bem de pé, todo composto e nem parecia que acabara de obter um resultado dado como “impossível”. A barreira dos 43 segundos esteve para cair e na história dos 400m só há um registo a menos desse limite, obtido por Michael Johnson mas em estafeta, portanto partido lançado.

Não há recordes impossíveis. Ou há?

Muito atrás do sul-africano acabava por ser Kirani James a ter a primazia sobre LaShawn Meritt para medalha de prata, com 43,76s, a dois centésimos do seu melhor, contra 43,85s. Machel Cedenio foi quarto com 44,01s, um novo recorde da Trinidade e Tobago, Karibo Sibanda, do Botswana, quinto, também com o seu melhor (44,25s), e Ali Khamis, em sexto, também levava para casa um novo máximo do Bahrain, com 44,36s. A corrida foi a que na história dos 400m proporcionou os melhores resultados de sempre da quarta à oitava posições.

Wayde van Niekerk, nascido a 15 de Julho de 1992, já este ano tinha feito falar de si por boas razões, pois ao correr os 100m em 9,98s tornou-se o primeiro velocista a deter recordes pessoais abaixo dos 10 segundos no hectómetro, de 20 segundos nos 200m (19,94s o ano passado) e sub 44 s nos 400m, com os tais 43,48s vigentes até agora. Há sempre um antes e um depois, na verdade. Jeremy Wariner, o campeão olímpico de 2004, foi quem mais se aproximou no corrente século do recorde de Johnson, com 43,45s. Johnson disse que ele bateria o seu máximo, mas não aconteceu. Agora, vindo de um tempo semelhante, Van Niekerk obtém uma proeza que ninguém aguardaria, nos termos da sua proporção. A questão da barreira do 43 segundo deixa de ser tabu. Ainda há um par de anos não havia qualquer atleta a menos de 44 segundos na volta à pista que não fosse dos Estados Unidos. Agora há vários, um sul-africano é o melhor deles e os EUA perderam uma das jóias da sua coroa atlética.

O recorde de Michael Johnson nos Mundiais de Sevilha de 1999