Uma cronologia do processo do Côa

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Manuel Roberto

21 de Novembro de 1994 - A divulgação da arte paleolítica do Côa

Um artigo do PÚBLICO intitulado “Barragem de Foz Côa ameaça achado arqueológico”, assinado por Manuel Carvalho, marca o início da intensa cobertura mediática da descoberta da arte rupestre do vale do Côa e da batalha pela sua preservação. A par dos arqueólogos que primeiro chamaram a atenção para a importância do património que ia ser submerso, como Mila Simões de Abreu e João Zilhão, também os media foram decisivos neste processo, e o papel que desempenharam veio mesmo a ser objecto de teses académicas. Especialmente relevante foi o acompanhamento que a recém-nascida SIC, primeira televisão privada portuguesa, deu à campanha pela defesa das gravuras paleolíticas.

21 de Fevereiro de 1995 - Soares também acha que as gravuras não sabem nadar

Mário Soares vai a Foz Côa e solidariza-se com a campanha lançada pelos estudantes da escola secundária local, liderados pelo professor José Ribeiro, que se inspiraram num rap dos Black Company, Nadar, para lançar o slogan As gravuras não sabem nadar. O apoio do presidente da República, que recebe um documento assinado por cerca de cem mil alunos de escolas de todo o país, é o momento decisivo a partir do qual se começa a acreditar que a barragem pode mesmo parar. Em Abril, nas férias da Páscoa, a escola de Foz Côa torna-se palco de um mega-acampamento com mais de dois mil estudantes.    

17 de Janeiro de 1996 - Suspensão da barragem

Uma resolução do Conselho de Ministros ordena a suspensão das obras de construção da barragem e o Governo pede um relatório científico que fundamente a decisão política de avançar com a barragem ou preservar as gravuras. O PS ganhara as eleições em Outubro e o primeiro-ministro era agora António Guterres que nomeara Manuel Maria Carrilho como ministro da Cultura.

10 de Agosto de 1996 - Abertura do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC)

Há vinte anos, o Governo de António Guterres cria formalmente o Parque Arqueológico do Vale do Côa. É inaugurada a sede do PAVC, em Vila Nova de Foz Côa, de onde partem as visitas para o núcleo musealizado da Canada do Inferno, e o centro de recepção de Castelo Melhor, a partir do qual se acede ao núcleo da Penascosa. Mais tarde abrirá o centro de recepção da Muxagata, porta de entrada para as visitas ao núcleo da Ribeira de Piscos.

14 de Maio de 1997 - Criação do Instituto Português de Arqueologia

O processo em torno das gravuras do Côa é o motivo próximo mais óbvio para a criação, por Manuel Maria Carrilho, do Instituto Português de Arqueologia (IPA), que passa a tutelar o PAVC. No governo de Durão Barroso, o ministro Pedro Roseta anuncia já a intenção de extinguir o IPA, o que só virá formalmente a acontecer em 2006, quando é integrado no então IGESPAR, hoje Direcção-Geral do Património Cultural.

2 de Julho de 1997 - Classificação como Monumento Nacional

É oficializada a classificação de Monumento Nacional ao conjunto de sítios arqueológicos do vale do Côa, encerrando simbolicamente a polémica desencadeada pela descoberta da arte paleolítica, que incluíra uma acalorada discussão científica sobre a datação das gravuras e a importância do achado.  

2 a 5 de Dezembro de 1998 - Classificação como Património Mundial

O Comité do Património Mundial da UNESCO, reunido em Quioto, inscreve a arte paleolítica do vale do Côa na lista do Património Mundial. Tendo em conta que fora classificada como monumento nacional há menos de ano e meio, o processo foi invulgarmente rápido.

26 Janeiro de 2007 - Inicia-se construção do Museu do Côa

Com bastantes anos de atraso - a construção de um museu era um compromisso já assumido na candidatura a Património Mundial - é lançada a primeira pedra do futuro Museu do Côa, cuja inauguração é anunciada para 2008.

25 de Julho a 3 de Agosto de 2010 - Siega Verde como extensão do Côa

O Comité do Património Mundial da UNESCO, reunido em Brasília, inscreve o sítio arqueológico de Siega Verde, em Espanha, na lista do Património Mundial enquanto extensão do Côa.

30 de Julho de 2010 - Inauguração do Museu do Côa

Desenhado pelos arquitectos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, o Museu do Côa é finalmente inaugurado. Na véspera, o Governo de José Sócrates criara a Fundação Côa Parque para assumir a gestão do PAVC e do novo Museu.

16 de Setembro de 2011 - Fundação do Côa toma posse

O secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas dá posse a Fernando Real como presidente da Fundação Côa Parque. Os outros dois membros do conselho de administração são o autarca de Foz Côa, Gustavo Duarte, e José Ribeiro, o professor que liderara a luta estudantil em defesa das gravuras, representando as secretarias de Estado do Turismo e do Ambiente.

25 de Setembro de 2012 - Governo anuncia extinção da Fundação do Côa

Na sequência do Relatório de Avaliação das Fundações, o Governo de Pedro Passos Coelho anuncia a extinção da Fundação Côa Parque. A decisão nunca virá ser a executada, mas os sucessivos cortes no financiamento levarão a Fundação a um cenário de penúria orçamental, com dívidas ao fisco e à segurança social, necessidade de contrair empréstimos à banca para pagar salários, e até episódios tão caricatos como a recente penhora da loja do museu, já em Março deste ano.

6 de Outubro de 2014 - Ponte substitui Real na Fundação do Côa

O secretário de Estado da Cultura Jorge Barreto Xavier nomeia António da Ponte, responsável pela Direcção Regional de Cultura do Norte, como presidente da Fundação Côa Parque, em substituição de Fernando Real. A nova administração, que inclui ainda Gustavo Duarte e o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, é transitória, diz a SEC, e tem dois meses para apresentar “um diagnóstico” e fazer propostas para “aperfeiçoar o modelo de gestão”. Passados quase dois anos, esta administração mantém-se ainda em funções.

27 de Junho de 2016 - Castro Mendes quer revitalizar a Fundação

O novo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, vai a Foz Côa e assume querer revitalizar a Fundação, abandonando a ideia, defendida pelo seu antecessor no cargo, João Soares,  de a extinguir e colocar o Museu e o PAVC sob a tutela directa da Direcção-Geral do Património. O ministro anuncia uma solução para o Outono.