“Não há sofrimento que não tenhamos visto”, dizem as raparigas de Chibok
Boko Haram dá provas de vida de dezenas das raparigas raptadas há dois anos. Presidente nigeriano garante que grupo está "tecnicamente derrotado", mas não consegue reaver as reféns.
O Boko Haram divulgou este domingo imagens do que parecem ser dezenas das raparigas de Chibok, o grupo de 276 estudantes de liceu raptadas há mais de dois anos pelo grupo fundamentalista nigeriano, que alega tê-las mantido desde então em cativeiro, casando-as com muitos dos seus militantes e forçando-as a engravidar. Os extremistas querem usar as jovens reféns como moeda de troca para libertar combatentes seus nas mãos do Governo.
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O Boko Haram divulgou este domingo imagens do que parecem ser dezenas das raparigas de Chibok, o grupo de 276 estudantes de liceu raptadas há mais de dois anos pelo grupo fundamentalista nigeriano, que alega tê-las mantido desde então em cativeiro, casando-as com muitos dos seus militantes e forçando-as a engravidar. Os extremistas querem usar as jovens reféns como moeda de troca para libertar combatentes seus nas mãos do Governo.
A organização activista que se bate pela libertação das estudantes de Chibok conseguiu identificar algumas das raparigas no vídeo. Na gravação, um homem vestido com um camuflado verde, de cara coberta, diz que algumas reféns morreram em bombardeamentos governamentais — mostra imagens dos seus corpos no final do vídeo —, afirma que outras estão gravemente feridas e que 40 se casaram entretanto com militantes islamistas.
Tratam-se das primeiras imagens em vários meses das raparigas de Chibok. A última gravação datava do final do último ano e mostrava apenas 15 reféns. A CNN divulgou-a em Abril, noticiando que as imagens haviam sido enviadas ao Governo de Muhammadu Buhari, que, apesar de há muito vir dizendo que o grupo está “tecnicamente derrotado”, ainda não deu mostras de conseguir travar a violência no Norte do país ou de encontrar as reféns.
“Somos todas crianças, não sabemos o que fazer”, diz uma refém para a câmara, depois de ser chamada a falar pelo homem de cara coberta. No fundo, algumas raparigas choram, cobrindo as caras. Uma tem um bebé ao colo. “Não há sofrimento que não tenhamos visto”, diz, identificando-se como Maida Yakubu e dirigindo-se às famílias das raptadas: “Digam ao Governo que libertem os homens para podermos estar também convosco.”
O caso das raparigas de Chibok é um grave embaraço para Buhari, que no último ano sucedeu a Goodluck Jonathan na Presidência da Nigéria, valendo-se sobretudo de promessas de que conseguiria derrotar o grupo jihadista. O Boko Haram matou mais de 20 mil pessoas desde 2009, fez mais de dois milhões de refugiados e raptou pelo menos duas mil mulheres, que usa para aliciar novos combatentes, muitos já alienados pela pobreza extrema.
“Nenhuma rapariga rica foi raptada pelo Boko Haram”
A recém-formada coligação da Nigéria com os Camarões, Chade e Níger conseguiu derrotar o Boko Haram em quase todos os seus territórios urbanos. Os militantes sobrevivem hoje na vasta floresta de Sambisa, lançando pequenas ofensivas sobre vilas desprotegidas e vários atentados suicidas, muitos executados por raparigas sob o seu controlo. As estudantes de Chibok são a sua melhor arma para demonstrarem a ineficácia do Governo.
Alguns observadores afirmam que as imagens deste domingo podem também ter o efeito contrário. “O vídeo demonstra como o esforço de guerra tem vindo a prejudicar as operações do grupo. Tem quase um ar de desespero da parte do Boko Haram”, argumenta Ryan Cummings, director da empresa consultora de segurança Signal Risk, citado pela AFP. “Isto tem como objectivo usar as raparigas como moeda de troca.”
O Boko Haram está por estes dias embrenhado numa luta de facções que o dividem, entre os que seguem o líder apontado pelo grupo Estado Islâmico, a quem os fundamentalista nigerianos prestaram fidelidade; e os que continuam sob mando de Abubakar Shekau. O vídeo deste domingo foi divulgado sob o nome Boko Haram e não Estado Islâmico da África Ocidental, o que parece indicar que é a facção de Shekau quem detém as raparigas de Chibok.
Para além das poucas dezenas de raparigas que conseguiram escapar no próprio dia do rapto, só duas chegaram às mãos governamentais desde 2014. Estão ambas em reabilitação. “É inacreditável que isto possa acontecer, não termos conseguido qualquer progresso em 853 dias”, lamenta Abubakar Abdullahi, porta-voz da organização Bring Back Our Girls, que luta pela libertação das raparigas de Chibok. “A frustração estará sempre lá. Já as deixámos ficar mal em tantas ocasiões.”