Muçulmanos baleados na cabeça à saída de mesquita em Nova Iorque

Maulama Akonjee e Thara Uddin foram atacados pelas costas ao início da tarde de sábado. Utilizadores do Twitter lançam campanha de solidariedade e prometem "caminhar ao lado" de muçulmanos em todo o país.

Fotogaleria

Dois líderes religiosos muçulmanos foram mortos a tiro pelas costas, durante o dia, numa rua do bairro de Queens, em Nova Iorque. A polícia está à procura do suspeito e não avança qualquer motivo, mas a comunidade muçulmana local tem poucas dúvidas de que se tratou de um crime de ódio, por questões raciais ou religiosas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Dois líderes religiosos muçulmanos foram mortos a tiro pelas costas, durante o dia, numa rua do bairro de Queens, em Nova Iorque. A polícia está à procura do suspeito e não avança qualquer motivo, mas a comunidade muçulmana local tem poucas dúvidas de que se tratou de um crime de ódio, por questões raciais ou religiosas.

Maulama Akonjee, o imã de uma mesquita localizada em Queens, e o seu assistente, Thara Uddin, tinham acabado de sair da mesquita quando foram baleados na cabeça por um indivíduo que se pôs em fuga, na esquina da Liberty Avenue e a 79th Street.

A polícia não está em condições de dizer se foi um crime de ódio, se foi um assalto que acabou mal ou se o motivo foi outro qualquer – Maulama Akonjee levava consigo cerca de mil dólares, mas o autor dos disparos não levou o dinheiro. As autoridades divulgaram um retrato-robô do suspeito, feito a partir das declarações de várias testemunhas.

Foto
Retrato-robô do suspeito Associated Press

Akonjee nasceu no Bangladesh, tinha 55 anos e chegara a Nova Iorque há apenas dois anos. De acordo com o relato de um dos seus sobrinhos ao jornal New York Daily News, o imã "não fazia mal a ninguém". "Bastava olhar para ele a andar pelas ruas e via-se a paz que transmitia", disse Rahi Majid.

O imã Maulama Akonjee e o seu assistente, Thara Uddin, de 64 anos, foram dados como mortos já no hospital, depois de terem sido baleados na cabeça por volta das 13h50 locais de sábado (18h50 em Portugal continental).

Este crime acontece no auge de uma onda de ataques contra a comunidade muçulmana nos Estados Unidos, e levou para as ruas centenas de pessoas naquela zona de Nova Iorque, entre os bairros de Queens e Brooklyn, onde a população muçulmana originária do Bangladesh tem crescido muito nos últimos anos.

Os manifestantes juntaram-se primeiro no local do crime e gritaram "Queremos justiça!". Mais tarde, foram para junto da mesquita e continuaram os seus protestos contra o que consideram ser um crime de ódio.

"Isto acontecer aqui, nesta zona, é surpreendente", disse ao New York Times Mohammed Abu Yusuf, de 67 anos, que vive há muitos anos na área de Ozone Park.

Um dos líderes da organização Council on American-Islamic Relations em Nova Iorque, Zead Ramadan, não hesitou em classificar o caso como "um crime contra a humanidade".

A média de ataques contra elementos da comunidade muçulmana nos Estados Unidos nos últimos anos era de 12,6 por mês, mas esse valor triplicou depois dos atentados terroristas em Paris, em Novembro do ano passado, e na Florida, um mês depois.

Por causa do crime de sábado, milhares de norte-americanos começaram a partilhar no Twitter a hashtag #IllWalkWithYou (vou caminhar ao teu lado), como forma de mostrarem a sua solidariedade com muçulmanos de todo o país.

Muitos muçulmanos agradeceram o apoio mas pediram também aos cidadãos norte-americanos que rejeitem "os políticos que tornam o ódio num sentimento comum", numa evidente referência ao candidato do Partido Republicano, Donald Trump, que no ano passado sugeriu impedir a entrada de todos os muçulmanos no país e criar uma base de dados para vigiar os que já lá estão.