E agora, o que se segue para os portugueses que estiveram em Locarno?

Quatro longas nacionais estiveram no festival suíço. Primeiro balanço dos resultados práticos.

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Foram nada menos que 14 as produções portuguesas em Locarno 2016 – duas longas e quatro curtas a concurso, mais oito títulos fora de competição ou em sessões especiais. Desde filmes que já fizeram carreira (como Rio Corgo de Maya Kosa e Sérgio da Costa) a produções estrangeiras com investimento português (Jeunesse, produção francesa de Paulo Branco parcialmente rodada entre nós, ou o argentino El Auge del Humano, vencedor da competição Cineastas do Presente). Fomos ver o que o destino reserva para já às longas-metragens de produção maioritariamente nacional presentes no festival suíço e à cabeça do pelotão surge, sem surpresas, o filme de João Pedro Rodrigues, único dos títulos nacionais a sair premiado de Locarno, com o Leopardo de Melhor Realizador.

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Foram nada menos que 14 as produções portuguesas em Locarno 2016 – duas longas e quatro curtas a concurso, mais oito títulos fora de competição ou em sessões especiais. Desde filmes que já fizeram carreira (como Rio Corgo de Maya Kosa e Sérgio da Costa) a produções estrangeiras com investimento português (Jeunesse, produção francesa de Paulo Branco parcialmente rodada entre nós, ou o argentino El Auge del Humano, vencedor da competição Cineastas do Presente). Fomos ver o que o destino reserva para já às longas-metragens de produção maioritariamente nacional presentes no festival suíço e à cabeça do pelotão surge, sem surpresas, o filme de João Pedro Rodrigues, único dos títulos nacionais a sair premiado de Locarno, com o Leopardo de Melhor Realizador.

O Ornitólogo conseguiu uma invulgar unanimidade da crítica internacional – quer seja Luc Chessel, do jornal francês Libération (“Rodrigues tem o seu modo próprio e oblíquo de libertar descargas de sublime”), quer seja a respeitada Cristina Piccino, do italiano Il Manifesto (“uma viagem misteriosa, qual movimento inefável que transporta a beleza do cinema”) , Boyd van Hoeij da Hollywood Reporter (“um filme de autor que não deixa ninguém indiferente que aprofunda e leva mais longe a compreensão no seu todo da obra de um realizador singular”) ou Jay Weissberg da revista Variety (“possivelmente o filme mais acessível do realizador, o que não quer dizer que muitas audiências compreendam por inteiro os caminhos deliciosamente conturbados de Rodrigues”).

A carreira do filme parece estar desde já lançada: de Locarno O Ornitólogo seguirá para Toronto (8 a 18 de Setembro) e para a competição paralela Zabaltegi-Tabakalera de San Sebastián (16 a 24 de Setembro). A estreia comercial em França está prevista para 30 de Novembro, mas Louis Balsan da Films Boutique, agente de vendas internacional do filme, preferiu remeter um primeiro balanço do interesse dos distribuidores globais para depois de Toronto, onde se jogará o importante mercado americano. Não existe ainda previsão de estreia em Portugal.

Excelente foi igualmente a reacção crítica a Correspondências, de Rita Azevedo Gomes, apresentado no Concurso Internacional. O filme-ensaio sobre as cartas entre os poetas Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena foi aplaudido pelo argentino Diego Batllé, do jornal La Nación (“um filme árduo, exigente, extremo, radical, experimental, mas nebulosamente belo e sempre fascinante”), por Luc Chessel (“a escrita e o cinema encontrando as condições de uma nova aliança, intensa e frágil como uma correspondência transatlântica”) e por Maurizio Porro do italiano Corriere della Sera, que o considerou mesmo o “seu” filme do festival pelas suas qualidades “cinéfilas e humanas” e pela sua “potência poética vital”. Joana Ferreira, da CRIM Produções, disse ao PÚBLICO que Correspondências recebeu ofertas de vários agentes de vendas internacionais. Para lá da primeira projecção nacional no DocLisboa (20 a 30 de Outubro), garantidas estão já exibições na austríaca Viennale (20 de Outubro a 2 de Novembro) e no Festival de Cine Europeo de Sevilha (4 a 12 de Novembro). Joana Ferreira não esconde o desejo de preparar uma estreia comercial em Portugal, sem avançar ainda datas ou planos.

Fora de concurso, João Botelho trouxe a Locarno o seu filme-memorial para Manoel de Oliveira - O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu - que estreou na última edição do IndieLisboa. Ana Isabel Strindberg da Portugal Film, estrutura ligada ao festival de cinema português e que representa o filme internacionalmente, mostrou-se ao PÚBLICO extremamente agradada com o acolhimento caloroso dos que assistiram às sessões oficiais, apontando o interesse de programadores de festivais, de responsáveis de canais televisivos e de cinematecas internacionais.

Confirmada está já a passagem de O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu no festival sul-coreano Intangible Heritage (30 de Setembro a 3 de Outubro), na Viennale e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (22 de Outubro a 4 de Novembro). Em Portugal, o filme chegará às salas a 13 de Outubro com distribuição NOS, antecedido pela curta de Pedro Peralta Ascensão.

Finalmente, Comboio de Sal e Açúcar, o “western” africano de Licínio Azevedo, foi visto por 4500 pessoas na Piazza Grande (números da organização do festival), onde teve estreia mundial na noite de quarta-feira (10 de Agosto), com realizador e  elenco presentes. A produtora Pandora da Cunha Telles, cuja Ukbar Filmes impulsionou o projecto, fez questão de usar a estreia em Locarno para apresentar o filme a programadores e distribuidores internacionais, procurando tirá-lo da gaveta do “cinema de autor”. Para já, Comboio de Sal e Açúcar sai do festival com distribuição assegurada em França, na Suíça, na Áustria e em 17 países africanos, bem como com propostas de agentes de venda internacionais e convites para alguns festivais europeus. A estreia portuguesa, através da Alambique, não tem ainda data prevista.