Joe conheceu o herói Phelps em 2008. Agora roubou-lhe o ouro

Aos 13 anos, Joseph Schooling tirava uma foto com o seu ídolo em Singapura. Ele inspirou-se em Phelps e agora bateu-o nos Jogos Olímpicos.

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Em 2008, Joseph Schooling, um menino de 13 anos apaixonado pela natação, conhecia o seu herói. Ele chamava-se Michael Phelps e era um gigante sorridente, que semanas depois arrecadaria oito medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim, ao pé do rapazinho de óculos de ar ligeiramente atordoado na fotografia que tiraram juntos. Fast forward para 2016 e os dois voltaram a estar lado a lado numa fotografia: a do pódio olímpico, no qual Joseph Schooling subiu mais alto do que o seu herói. O atleta de 21 anos recebeu o ouro, o primeiro da história para Singapura, nos 100m mariposa e bateu Phelps, que se ficou pela prata na última prova individual da sua carreira.

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Em 2008, Joseph Schooling, um menino de 13 anos apaixonado pela natação, conhecia o seu herói. Ele chamava-se Michael Phelps e era um gigante sorridente, que semanas depois arrecadaria oito medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim, ao pé do rapazinho de óculos de ar ligeiramente atordoado na fotografia que tiraram juntos. Fast forward para 2016 e os dois voltaram a estar lado a lado numa fotografia: a do pódio olímpico, no qual Joseph Schooling subiu mais alto do que o seu herói. O atleta de 21 anos recebeu o ouro, o primeiro da história para Singapura, nos 100m mariposa e bateu Phelps, que se ficou pela prata na última prova individual da sua carreira.

Duas fotografias separadas por oito anos estão a correr mundo através das redes sociais – Phelps acabado de sair da piscina em Singapura, Joe acabado de subir ao pódio com Michael, sorridente, ao seu lado. Schooling conheceu-o pouco antes de Phelps estabelecer o recorde olímpico nos 100m mariposa em Pequim em 2008. Com 50,39s, Joseph Schooling bateu esse recorde oito anos depois nos Jogos do Rio, com Phelps na mesma piscina.

“Quando era miúdo queria ser como ele”, disse o jovem atleta de Singapura. “É uma loucura pensar no que acontece em oito anos”, disse Schooling, citado pelo New York Times, sobre o percurso que o levou até ao Rio de Janeiro e aos Jogos Olímpicos, onde brilhou na madrugada deste sábado. “Muito disto é por causa do Michael”, admite. "Ele é a razão pela qual eu quis ser melhor nadador."

A sua história cruza-se com a do seu ídolo, mas já está a começar a escrever-se sozinha. As revistas de sociedade, e não só a imprensa desportiva ou generalista, já começam a explicar ao mundo quem é este jovem atleta que “roubou” à Bala de Baltimore o pleno do ouro no Brasil – ainda assim, Phelps já tem 22 medalhas de ouro, três pratas e duas de bronze e nada este sábado na estafeta de 4x100m estilos para terminar a sua carreira olímpica. Mantém também o recorde mundial na prova em que foi batido pelo seu jovem colega. Joe, como lhe chamam, só diz que nem consegue acreditar, que está fora de si, que não sabe como conseguiu aquele tempo.

“Vá lá, façam perguntas ao Joe, que ganhou a medalha de ouro”, disse Michael Phelps depois da prova na conferência de imprensa a que o PÚBLICO assistiu e onde confirmou que estes foram os seus últimos Jogos. “Devia estar muito chateado por ter perdido uma prova e ninguém gosta de perder, mas estou orgulhoso do Joe, ele foi melhor. Estou pronto para me retirar”, disse o nadador de Baltimore, quando as perguntas não cessaram de se focar nele. “Quis mudar a natação”, reflectiu, “com as pessoas novas que temos agora no desporto acho que se vê”.

Já Schooling, cujo nome se está a prestar a trocadilhos vários e títulos com piscar de olho em inglês – o verbo inglês to school significa ensinar, mas também qualquer coisa como “dar uma lição”, embora seja quase unânime o elogio ao desportivismo de todos nesta história – está orgulhoso “só por estar ao lado dele”. De Phelps, por “caminhar ao lado dele e celebrar”, disse aos jornalistas no Brasil. “Vou guardar esse momento para o resto da minha vida”.  

Esta história de um ídolo e de um aspirante tem a peculiaridade de, na era da selfie, ter um registo imagético para potenciar as comparações. Há oito anos, aquela imagem tem uma história que precede a fama global de Phelps e que antecede o momento em que os destinos dos dois nadadores se cruzariam na mesma piscina olímpica. Foi exactamente para treinar para os Jogos Olímpicos de Pequim, aqueles em que o norte-americano se tornaria o atleta com mais ouros numa só edição das Olimpíadas, que a equipa dos EUA foi até Singapura. O organizador da sua presença no clube foi o empresário Colin Schooling. O pai de Joseph.

Em Pequim, Phelps (que já tinha conquistado seis títulos olímpicos em Atenas) deu mais um passo rumo ao seu recorde actual, o de atleta com mais medalhas de ouro da história. Naqueles dias de 2008, o nadador e o resto da selecção americana foram ao clube onde Schooling treinava. Manhã, cedo, e Joseph nem estava a nadar – estava a escrever um trabalho para a escola. “Toda a gente veio ter comigo a correr e dizia ‘É o Michael Phelps! É o Michael Phelps!’ e eu queria mesmo uma fotografia”. Ela aconteceu: "Eu estava tão chocado que nem conseguia abrir a boca”, recorda.  

As memórias de Phelps são mais descontraídas. “Impressionou-me porque à volta da piscina [do clube de natação] era só macacos, que nos roubavam as barras energéticas. Os macacos voavam pelas ruas. Ainda me lembro deles, pareceram-me espectaculares”.

No meio de tantas provas, centenas de atletas e do frenesim em torno de Phelps, Joe Schooling é também, no sentido estritamente desportivo, um vencedor inesperado. Treinado pelo espanhol Sergi López, é um atleta de alto nível, mas não era favorito e não acredita no que lhe aconteceu. Acabou no cimo de um pódio particularmente recheado, visto que Phelps partilhou a prata com os seus rivais Laszlo Cseh e Chad le Clos, nomes grandes da modalidade. Os quatro abraçaram-se na água, rindo.

Mais tarde, Michael Phelps ia ajudá-lo a lidar com as emoções. “Não acho que esteja sequer perto [do nível] destes três tipos que estão mesmo ao meu lado, só tive um dia bom”. Como relata o Guardian, quando agradeciam ao público em torno da piscina, o nadador de Singapura disse ao seu ídolo: “Meu, isto é uma loucura, não é deste mundo, não sei como me sinto neste momento”, para que Phelps lhe sorrisse, como nos filmes, “Eu sei”.