"Prevejo um FC Porto a dar luta, consciente de que parte um pouco atrás"

Ex-treinador e até há bem pouco tempo director técnico do Mónaco, Luís Campos lança um olhar sobre a Liga 2016-17.

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Luís Campos Stéphane Senaux/Mónaco

Ex-conselheiro especial de Vadim Vasilyev, vice-presidente do Mónaco, clube no qual desemprenhou funções de director técnico até ao final de Junho, Luís Campos aproveita o interregno para recarregar baterias e projectar o futuro. Ainda em Portugal, já com a próxima época à porta, o ex-treinador tem continuado atento ao futebol português e acredita numa luta pelo título a três, com o FC Porto a recuperar rapidamente o tempo perdido nos últimos três anos.

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Ex-conselheiro especial de Vadim Vasilyev, vice-presidente do Mónaco, clube no qual desemprenhou funções de director técnico até ao final de Junho, Luís Campos aproveita o interregno para recarregar baterias e projectar o futuro. Ainda em Portugal, já com a próxima época à porta, o ex-treinador tem continuado atento ao futebol português e acredita numa luta pelo título a três, com o FC Porto a recuperar rapidamente o tempo perdido nos últimos três anos.

O tricampeonato e a hipótese de conquistar um histórico tetra conferem ao Benfica maior dose de favoritismo?
O Benfica parte de uma posição forte. Foi campeão justamente e contrariar essa vantagem pode ser tarefa muito complicada. Por outro lado, perdeu Gaitán e Renato Sanches… e estou curioso para ver até que ponto consegue regenerar aquele acelerador vertical do meio-campo de forma a manter-se ao mais alto nível. Mesmo sendo, actualmente, uma máquina de formar jogadores, estas duas saídas podem traduzir-se num custo desportivo elevado. Já o Sporting, à partida a equipa mais parecida com a da época passada, possui essa grande vantagem. Mas conhecendo como funciona o mercado, é possível que a saída de dois ou três dos seus elementos mais preponderantes acabe por nivelar as coisas, pois colmatar lacunas destas será muito complicado na fase inicial.

Ainda assim, tarefas menos complexas do que a do FC Porto… 
Confesso que estou muito curioso em relação ao FC Porto. Estou a gostar das apostas e da dinâmica do Nuno Espírito Santo. É um treinador que compreende que a competência é mais importante do que a idade. Há sempre espaço para o talento nas grandes equipas. Aliás, os jovens de hoje são muito diferentes dos de ontem. E algumas pessoas ainda têm dificuldade em perceber que agora há uma maturação precoce e que ter 20 anos hoje corresponde a 26 de outros tempos. A experiência, os jogos internacionais, a qualidade da formação e tantos outros factores fazem com que aos 20 anos se tenham competências que antes demoravam mais tempo a adquirir. Para bem do futebol português, é fundamental perceber esta realidade. Vejo muita gente com receio pelo facto de o FC Porto seguir esta linha, mas nunca devemos ter medo de colocar os talentos em campo. Por isso, prevejo um FC Porto – que durante largos anos se habituou a uma linha forte de continuidade a dar luta, consciente de que parte um pouco atrás, mas que pode aproximar-se rapidamente.

De que forma e até que ponto o Europeu de França marcará os candidatos?
No que diz respeito ao desgaste, o impacto do Europeu poderá sentir-se um pouco no início, mas dissipa-se rapidamente. Jorge Jesus foi inteligente. Soube esperar, deu três semanas aos jogadores que estiveram em França. Fez tudo sem precipitações e isso notou-se quando regressaram. O simples facto de esses jogadores conhecerem bem o modelo de jogo da equipa simplifica a integração, pois jogam praticamente de olhos fechados. O mais grave será se perder alguma referência. A este nível, o Sporting foi a equipa mais exposta. Mas o efeito mais importante que o Europeu pode provocar é o de as pessoas perceberem a importância de lançar cada vez mais jogadores jovens. Portugal também foi campeão europeu em sub-17 e semifinalista em sub-19. E se as equipas se desviarem da realidade financeira, a hecatombe será inevitável. Em Portugal não podemos competir com os salários que se pagam noutras Ligas. Apostar nos jovens talentos é o caminho certo, desportiva e economicamente. Nesse particular, Rui Vitória passou uma mensagem positiva e Luís Filipe Vieira teve a coragem de mudar a política.

Mas um campeonato não se resume aos candidatos…
Este campeonato desperta outras curiosidades. Desde logo, estou muito interessado em acompanhar o trabalho de alguns jovens treinadores portugueses, em especial a mudança do Pedro Martins, para além dos europeus Nuno Capucho e Lito Vidigal. E é preciso não esquecer o Sp. Braga, que ano após ano tem vindo a encurtar distâncias para os "grandes", aproximando-se de uma forma inteligente, construindo equipas de qualidade. Este ano tem mais uma vez um grupo muito interessante.