Já arderam cerca de 2500 hectares no único parque nacional do país

Há três dias que um incêndio, que não aparece na lista oficial, destrói uma das áreas mais importantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a reserva integral do Ramiscal.

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Fogos em zonas sensíveis do Gerês chegam a ser combatidos apenas por uma equipa de sapadores florestais. Paulo Pimenta/Arquivo

Há três dias que um incêndio, que não aparece nas listas da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), destrói uma das zonas mais importantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a reserva integral do Ramiscal. O fogo, que começou na terça-feira na freguesia de Cabreiro, em Arcos de Valdevez, foi combatido no primeiro dia apenas por uma equipa de sapadores florestais e esta quinta-feira continuava activo.

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Há três dias que um incêndio, que não aparece nas listas da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), destrói uma das zonas mais importantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a reserva integral do Ramiscal. O fogo, que começou na terça-feira na freguesia de Cabreiro, em Arcos de Valdevez, foi combatido no primeiro dia apenas por uma equipa de sapadores florestais e esta quinta-feira continuava activo.

Não é o único, nem o maior a afectar o único parque nacional do país. Só nos últimos dias, registaram-se três grandes incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo ardido, nas estimativas de Domingos Patacho, coordenador do grupo de trabalho de florestas da associação ambientalista Quercus, pelo menos 2500 hectares. As contas são feitas a partir dos dados do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (conhecido pela sigla EFFIS), que, através de imagens de satélite, contabiliza quase em tempo real a área ardida.

Esse site contabilizava que o incêndio de Cabreiro consumiu 848 hectares. “Como é que um incêndio que tem três dias numa área protegida desta importância não existe em termos oficiais”, indigna-se Domingos Patacho. O PÚBLICO tentou encontrar a ocorrência no site da ANPC, mas nenhuma correspondia à localização daquele fogo. Confrontou o comandante operacional distrital de Viana do Castelo, Armando Silva, mas este recusou-se a explicar a ausência dizendo ter questões operacionais urgentes. Pediu igualmente ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas para autorizar um responsável do parque a fazer um balanço dos prejuízos causados pelos incêndios dos últimos dias na Peneda-Gerês, mas não obteve qualquer resposta em tempo útil.  

O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Esteves, confirma a existência do fogo de Cabreiro e garante que está a arder na reserva integral do Ramiscal, uma mata, que nas suas palavras, já foi afectada numa “parte substancial”. Sandra Vieira, da Associação Florestal Atlântica, adianta que durante o primeiro dia o incêndio foi combatido por um única equipa de sapadores florestais e, no segundo dia, até ao fim da tarde, por duas. A técnica florestal sublinha a importância do trabalho destes profissionais, que estão todo o ano na floresta, mas lamenta a falta de outros meios.

Não é a primeira vez este ano que a reserva do Ramiscal arde. Em finais de Julho o fogo atingiu igualmente essa área. Nessa altura, a Quercus alertava para a “elevada importância ecológica e diversidade biológica” daquela mata, uma “rica floresta de carvalho alvarinho e azevinhos onde ainda habitam os lobos, as águias reais, os corços, a cabra pirenaica, os gatos bravos e muitas outras espécies selvagens”.

Numa outra parte do parque, no Soajo, junto à Porta do Mezio, as chamas continuavam esta quinta-feira às 22h activas, após cerca de quatro dias. O site do EFFIS contabiliza já uma área ardida de 4567 hectares. “Estes são lugares de passagem obrigatória para quem visita”, lembrava Sandra Vieira.

O fogo ameaçou esta quinta-feira à tarde a aldeia de Vilarinho das Quartas, obrigando à evacuação da povoação, onde vivem cerca de 50 pessoas, adiantou João Esteves. O autarca pede há vários dias, sem sucesso, mais recursos para combater os fogos do concelho, solicitando principalmente meios aéreos. “Estamos a falar de fogos em zonas de muito difícil acesso e com declives acentuados”, justifica.

Este incêndio começou na freguesia de Cabana Maior na madrugada de segunda-feira, mantendo na quinta à noite duas frentes activas. "Hoje [quinta-feira] a situação piorou por causa do vento", explica o autarca. "Não há meios aéreos e os meios humanos que temos são exclusivamente para proteger a população", constata João Esteves, que lembra que a destruição das áreas protegidas, essenciais para a economia local, pode comprometer o futuro do concelho.

Um outro incêndio na Serra da Peneda, que no site da ANPC surge como tendo começado esta quarta-feira pouco antes da uma da tarde, já destruiu uma área de 973 hectares, segundo o EFFIS. Quinta-feira à noite era combatido apenas por uma equipa de cinco pessoas apoiada por uma viatura. Domingos Patacho e Sandra Vieira concordam que a informação da protecção civil não é correcta, já que se trata de um incêndio que começou a 2 de Agosto e já recendeu várias vezes. O EFFIS contabiliza a área ardida como um todo.

Destes três fogos, apenas o que começou na freguesia Cabana Maior – que segundo Sandra Vieira passou para o Soajo, onde destruiu pelo menos metade da área florestal da freguesia, e já segue para Vale e São Jorge – aparece destacado como importante na página da ANPC.

Já depois das 22h, esse site contabilizava 337 ocorrências desde o início do dia (no dia anterior sensivelmente à mesma hora eram 432), das quais 155 ainda se mantinham activas. Estavam nessa altura a ser combatidas por mais de 4400 bombeiros. A protecção civil contabilizava a essa hora 11 incêndios importantes, cinco no distrito de Aveiro, dois no de Viana do Castelo, dois no de Viseu e um em, Coimbra e outro em Vila Real. 

O incêndio de Águeda, que começou na madrugada de segunda-feira e chegou a ser dado como dominado, estava a lavrar com “quatro frentes activas”, apesar de concentrar mais de 330 operacionais. O fogo de Janarde, em Arouca, também não dava tréguas, contabilizando outras quatro frentes e mais de 300 combatentes. O fogo queimou uma parte dos Passadiços do Paiva, um dano desvalorizado pelo presidente da câmara de Arouca, José Artur Neves, face à "tragédia” da destruição de uma floresta de pinheiros, carvalhos, sobreiros e outras árvores “que demorou 30 anos a crescer”.