Num ambiente de “desânimo”, há várias manifestações de solidariedade
Madeira: há empresas a fazer donativos, voluntários a prestar apoio às populações, contas bancárias abertas. E muitas palavras de apoio.
Um hotel do Funchal disponibilizou colchões para distribuir por quem teve de sair de casa por causa dos incêndios, uma empresa de seguros está a pedir donativos aos seus trabalhadores para distribuir entre os afectados, uma outra oferece produtos de higiene pessoal — o balanço da solidariedade em curso nas empresas da Madeira foi feito ao PÚBLICO por Duarte Pacheco, vogal da Cáritas diocesana do Funchal.
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Um hotel do Funchal disponibilizou colchões para distribuir por quem teve de sair de casa por causa dos incêndios, uma empresa de seguros está a pedir donativos aos seus trabalhadores para distribuir entre os afectados, uma outra oferece produtos de higiene pessoal — o balanço da solidariedade em curso nas empresas da Madeira foi feito ao PÚBLICO por Duarte Pacheco, vogal da Cáritas diocesana do Funchal.
Duarte Pacheco e cerca de 30 voluntários passaram a noite a prestar apoio às cerca de 300 pessoas que foram acolhidas ao fim do dia de ontem no Quartel Militar RG3, em São Martinho. Distribuíram colchões, roupas, iogurtes. Mas os meios são limitados. “Estava um calor infernal, as pessoas que estavam no quartel estavam completamente desmoralizadas, o desânimo é tão grande que nem sequer sentem revolta”, diz Duarte Pacheco.
No quartel, conta, estiveram ainda psicólogos e outros técnicos de centros sociais a prestar apoio aos desalojados. De resto, o apoio está a ser feito “em articulação com as paróquias e com o quartel RG3”, afirma.
Em comunicado, a secretaria regional da Inclusão e Assuntos Sociais sublinha a "resposta pronta e espírito de solidariedade da população da região autónoma” ao ajudar as centenas de pessoas que tiveram de ser retiradas das suas residências, hotéis e unidades de saúde. Segundo o Governo regional, das cerca de 950 pessoas que tiveram de ser retiradas, 600 estão alojadas no RG3, outras 300 foram colocadas no estádio dos Barreiros e 50 no centro cívico de São Martinho.
Na Junta de Freguesia de Machico faz-se recolha de bens alimentares e roupas, com a finalidade de entregar os bens recolhidos no quartel.
Contas para donativos
A Câmara Municipal do Funchal criou uma conta solidária para receber donativos destinados a apoiar as pessoas afectadas pelos vários incêndios. Chama-se "Funchal Solidário - Incêndio de Agosto 2016", foi aberta no Banco Santander Totta e o IBAN é este: PT50 0018 0003 4277 7599 0201 0. "Assim, todos aqueles que têm manifestado a sua vontade de apoiar os funchalenses neste momento de dificuldade, poderão concretizar com o seu donativo", informa a autarquia.
A Cáritas nacional lançou igualmente, na noite desta quarta-feira, uma campanha chamada “Cáritas ajuda a Madeira”. Uma conta (podem ser feitas transferências para 0035 0697 0059 7240130 28) da Caixa Geral de Depósitos foi aberta. Os donativos já estão a chegar, segundo informou o gabinete de comunicação da Cáritas em Lisboa. O objectivo é “agilizar o apoio de emergência necessário para as populações mais atingidas”.
“Nesta hora de aflição para os nossos compatriotas no norte do país e, em especial, na cidade do Funchal, na ilha da Madeira, a Cáritas, em resposta às dezenas de pessoas que a têm contactado, abriu uma conta solidária”, explica em comunicado.
Também o Millennium BCP anunciou a meio da tarde que abriu uma conta de solidariedade para angariar fundos de apoio para as vítimas dos incêndios. "Para dar o seu contributo, poderá efectuar um depósito ou uma transferência bancária para a conta de solidariedade "Millenium bcp – Solidário com a Madeira", com o IBAN PT50 0033 0000 4552 0020 0300 5.
O Millennium informa que vai doar para este efeito 10 mil euros, que serão depositados na conta. "Os fundos recolhidos através desta conta de solidariedade serão distribuídos em articulação com as autoridades locais no apoio à reconstrução e reparação dos danos causados pelos incêndios."
A Associação de Solidariedade Social para o Desenvolvimento e Apoio a Crianças e Jovens (Criamar), o Corpo Nacional de Escutas e a Liga Portuguesa Contra o Cancro, com o apoio do Casino da Madeira, organizaram-se para fazer um levantamento de pessoas ou entidades que desejem contribuir com bens ou serviços na fase de reconstrução das habitações destruídas. “Todos os bens e informações recolhidos serão entregues, a partir do próximo dia 15, à Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais para posterior distribuição”, segundo uma nota da Criamar divulgada na região e citada pela Lusa.
Há, contudo, quem esteja para já impedido de ajudar. "A situação não permite que a AMI possa neste momento realizar o seu trabalho diário de apoio à população e colaborar na mitigação das necessidades dos muitos desalojados que este incêndio já provocou", fez saber a AMI em comunicado. É que foi encerrado o perímetro da cidade onde o Centro Porta Amiga do Funchal e a Delegação da AMI na Madeira estão sediados. "Com efeito, a Rua das Pretas foi uma das mais atingidas e dois dos prédios vizinhos às instalações da AMI estão em perigo de derrocada, estando os bombeiros a avaliar a segurança das instalações de forma a que possamos retomar e reforçar os serviços de apoio."
Sporting lança campanha
Várias outras entidades estão a mobilizar-se. A Irmandade dos Clérigos, no Porto, decidiu enviar um donativo de 50 mil euros, destinado a apoiar as famílias atingidas com a catástrofe das últimas horas.
Em comunicado, o presidente da Irmandade, Padre Américo Aguiar, diz: "Temos consciência que esta partilha, que agora fazemos com a população da Madeira, ultrapassa as nossas reais possibilidades, é de facto uma decisão extraordinária, mas a situação vivida pelos nossos irmãos madeirenses é também ela extraordinária. Ainda não saiu da nossa memoria colectiva as imagens das cheias diluvianas da madrugada de 20 de Fevereiro de 2010 e vemos de novo os nossos irmãos e concidadãos madeirenses sofrerem uma nova catástrofe. Entregamos esta ajuda material, que é também a ajuda de todos os que nos visitam, ao senhor Bispo do Funchal D. António Carrilho, para que com o seu sentido pastoral possa ir em ajuda dos deslocados e desalojados nesta primeiríssima hora."
O Pingo Doce faz saber, por seu lado, que entregou à Cruz Vermelha vários tipos de produtos alimentares, "nomeadamente, fruta, cereais, bolachas, iogurtes, enlatados, leite e água, que foram encaminhados por esta instituição para as pessoas desalojadas e também para os Bombeiros Municipais". Para reforçar o apoio prestado através da Cruz Vermelha, "entregou ainda água engarrafada directamente aos Bombeiros Municipais do Funchal" e, ao Regimento de Guarnição n.º 3, que acolheu cidadãos desalojados, produtos de higiene pessoal. A Câmara Municipal da Calheta "recebeu bens alimentares, entre os quais, pão, produtos de pastelaria, fiambre, leite e fruta, e também produtos de higiene pessoal".
O grupo Porto Bay, que tem seis unidades hoteleiras na Madeira, forneceu 130 colchões, 300 lencóis e outros tantos cobertores, diz o seu presidente António Trindade. "Está a haver uma resposta muito grande por parte das empresas."
Do mundo desportivo chegam igualmente ajudas. O Sporting anunciou a organização de uma recolha de alimentos em solidariedade com os bombeiros portugueses. “O Sporting Clube de Portugal vai promover uma acção de ajuda aos bombeiros, os heróis de Portugal. No próximo dia 13 de Agosto, aproveitando a realização do jogo Sporting-Marítimo, no Estádio José Alvalade, não fiques em casa e traz água, barras de cereais, fruta fresca e leite para entregar aos voluntários que estarão junto aos torniquetes”, lê-se no Facebook dos “leões”.
O vice-campeão Sporting estreia-se na I Liga frente ao Marítimo no sábado, às 18h15. O presidente da mesa da Assembleia Geral do Sporting, Jaime Marta Soares, é também presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.
O União da Madeira solicitou entretanto que o seu jogo da segunda jornada da II Liga de futebol, com o Sporting de Braga B, seja disputado à porta aberta para recolher bens essenciais destinados a apoiar as vítimas dos incêndios na região. O clube pretende aproveitar o jogo para fazer uma recolha de bens essenciais, que serão entregues a uma instituição de solidariedade social.
Já o Departamento Nacional de Protecção Civil e Segurança do Corpo Nacional de Escutas informou nesta manhã que está a mobilizar cerca de 200 voluntários no apoio às populações afligidas pelos incêndios que têm assolado todo o país, nomeadamente nas regiões de Aveiro, Braga, Madeira e Viseu.
Quaresma fala de "campeões do povo"
Muitas figuras públicas têm feito questão de expressar a sua preocupação com o que se está a passar com os que vêem as suas terras e bens atingidos pelas chamas. “O meu pensamento está com todas as pessoas atingidas pelos incêndios na Madeira e em Portugal. Quero mostrar-lhes o meu apoio”, referiu o treinador de futebol do Mónaco, Leonardo Jardim, que cresceu na ilha da Madeira.
O treinador iniciou a sua carreira em solo madeirense, no Camacha, antes de orientar clubes como o Desportivo de Chaves, Beira-Mar, Sporting de Braga, Olympiacos, Sporting e, actualmente, o Mónaco.
A judoca Telma Monteiro, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Rio2016, deixou uma mensagem de agradecimento a todos os bombeiros envolvidos no combate aos incêndios que assolam Portugal e de apoio às pessoas afectadas. “Quero deixar uma mensagem de solidariedade, de muita força e de agradecimento a todos os bombeiros que estão neste momento a proteger todos os portugueses e a todas as pessoas que têm sido afectadas”, afirmou num vídeo publicado no Twitter do seu clube, o Benfica.
.@telmamonteiro57 deixa mensagem de solidariedade e agradecimento aos Bombeiros Portugueses. #MissãoRio2016 pic.twitter.com/jBq1HiEaWr
— SL Benfica (@SLBenfica) August 10, 2016
"Um grande abraço para os bombeiros que um pouco por todo o Portugal combatem os incêndios e ajudam as pessoas que estão a fugir das chamas que consomem o trabalho de uma vida. Um abraço em especial para a ilha da Madeira. Coragem, vocês são campeões do povo", escreveu o futebolista português Ricardo Quaresma na sua página oficial no Facebook.
Os hospitais dos Marmeleiros e João de Almada, os lares de idosos de Santa Isabel e Vale Formoso, as clínicas de Santa Luzia e Santa Catarina, além de centenas de moradias, tiveram de ser evacuados por causa dos fogos. Três pessoas morreram. com Lusa