A primeira crise (a sério) no Governo
A oposição de direita não vai deixar cair o caso das viagens. Objectivo: fragilizar António Costa.
O actual Governo viveu a sua primeira crise em Abril passado, quando o então ministro da Cultura resolveu oferecer “bofetadas” ao crítico Augusto M. Seabra via facebook. A atitude suscitou tanta rejeição que João Soares acabou por pedir a demissão, para grande alívio de António Costa, diga-se. No rescaldo desta situação, ficou a saber-se, também através das redes sociais, da saída do secretário de Estado da Juventude e Desportos, incompatibilizado com o ministro da Educação. O XXI governo batia, assim, por pouco mais de três meses, a equipa de Passos Coelho e Paulo Portas, que tinha sofrido a sua primeira baixa quase oito meses e meio depois da posse.
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O actual Governo viveu a sua primeira crise em Abril passado, quando o então ministro da Cultura resolveu oferecer “bofetadas” ao crítico Augusto M. Seabra via facebook. A atitude suscitou tanta rejeição que João Soares acabou por pedir a demissão, para grande alívio de António Costa, diga-se. No rescaldo desta situação, ficou a saber-se, também através das redes sociais, da saída do secretário de Estado da Juventude e Desportos, incompatibilizado com o ministro da Educação. O XXI governo batia, assim, por pouco mais de três meses, a equipa de Passos Coelho e Paulo Portas, que tinha sofrido a sua primeira baixa quase oito meses e meio depois da posse.
À luz dos actuais acontecimentos, as crises de então surgem quase como episódios pueris. Na altura, o que estava em causa tinha mais a ver com razões de personalidade e de estilo do que com questões políticas de fundo, como acontece agora. Ora neste caso das viagens oferecidas pela Galp a governantes para irem assistir a jogos do Europeu de futebol, o que está em causa é o total desajuste do comportamento de membros do Governo face às responsabilidades dos cargos políticos que desempenham. Independentemente da seriedade de cada um, esta atitude revela, no mínimo, a falta de preparação e até a leviandade com que muitas vezes é encarada a forma como se exerce a administração da coisa pública. Fazer parte de uma equipa governativa é um compromisso muito sério. Ao tomar posse, cada elemento passa de imediato à condição de representante do Estado, ficando investido de uma autoridade e de uma dignidade das quais deve estar ciente e cuja acção não pode nem deve comprometer. Nestas circunstâncias, aceitar prebendas, é colocar-se em condição subalterna, abrindo portas à promiscuidade e ao relaxamento de um tipo de relação institucional da qual não pode abdicar, sob pena de se colocar numa posição eticamente indefensável. Os secretários de Estado, Rocha Andrade, dos Assuntos Fiscais, da Internacionalização, Costa Oliveira, e da Indústria, João Vasconcelos, puseram-se a jeito ao aceitarem o convite da Galp. E de uma forma especialmente grave, visto todos eles terem tutelas que os colocam muito próximos da petrolífera. Aliás, nenhum dos três ignora a batalha jurídica entre a Galp e o Estado, que há anos reclama muitas dezenas de milhões de euros por alegada fuga ao fisco por parte da empresa.
Os factos metem-se pelos olhos dentro de qualquer pessoa, mas os secretários de Estado não os viram. Talvez porque a ética esteja fora de moda e porque as universidades de verão só servem para relativizar ainda mais a nobreza da política. O certo é que o Governo está confrontado com a sua primeira crise política a sério. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros já tentou encerrar o caso, comprometendo-se com um código de conduta, mas não chega, como já se viu pelas movimentações à direita que reclamam as cabeças dos três governantes. E a consequente fragilização de António Costa. Um autêntico maná.