Banco de Inglaterra responde a “Brexit” com novo corte nos juros
Projecções de crescimento em 2017 cortadas de 2,3% para 0,8%. Banco de Inglaterra irá também comprar mais dívida pública.
O Banco de Inglaterra correspondeu nesta quinta-feira às expectativas dos mercados e decidiu baixar as suas taxas de juro de referência num novo mínimo histórico, ao mesmo tempo que anunciou que irá injectar 60 mil milhões de libras na economia através da compra de obrigações.
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O Banco de Inglaterra correspondeu nesta quinta-feira às expectativas dos mercados e decidiu baixar as suas taxas de juro de referência num novo mínimo histórico, ao mesmo tempo que anunciou que irá injectar 60 mil milhões de libras na economia através da compra de obrigações.
As medidas extraordinárias de estímulo monetário anunciadas pela entidade liderada por Mark Carney são a resposta ao impacto negativo esperado na economia da decisão de saída da União Europeia, adoptada em referendo. O Banco de Inglaterra reviu fortemente em baixa as suas previsões de crescimento para o próximo ano. Em vez da anterior projecção de variação do PIB de 2,3%, o banco aponta agora para apenas 0,8%. Para este ano, a estimativa de crescimento manteve-se em 2%.
O banco central prevê ainda que a taxa de desemprego suba dos 4,9% actuais para 5,5% durante os próximos dois anos.
O estímulo monetário oferecido está centrado em quatro frentes. Em primeiro lugar, a taxa de juro de referência foi reduzida de 0,5% para 0,25%, um novo mínimo histórico nos 322 anos de existência do Banco de Inglaterra. A última descida de taxas realizada pela autoridade monetária britânica tinha ocorrido em Março de 2009.
Depois há um regresso à estratégia de “imprimir” mais dinheiro. O programa de compra de títulos de dívida pública posto em prática no auge da crise financeira internacional tinha ascendido a um total de 375 mil milhões de libras (cerca de 445 mil milhões de euros), estando suspenso desde 2012. Agora, o Banco de Inglaterra irá alargar o programa até aos 435 mil milhões de libras (cerca de 515 mil milhões de euros), um acréscimo de 60 mil milhões (cerca de 70 mil milhões de euros) que se destina a injectar mais liquidez na economia.
Em terceiro lugar, o Banco de Inglaterra anunciou que irá igualmente comprar nos mercados obrigações emitidas por empresas, no valor de 10 mil milhões de libras (cerca de 11,8 mil milhões de euros), algo que nunca fez durante a crise.
Por último, o banco central anunciou ainda a criação de um novo "esquema de financiamento" para os bancos, que irá facilitar o acesso dos bancos ao crédito a taxas de juro baixas do banco central, num montante total de 100 mil milhões de libras (cerca de 120 mil milhões de euros).
A decisão de cortar as taxas de juro foi adoptada pelos membros do comité de política monetária do Banco de Inglaterra por unanimidade. Já a compra de obrigações do tesouro contou com seis votos a favor e três contra, ao passo que a compra de dívida das empresas teve oito votos a favor e um contra.
Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da decisão, o governador do Banco de Inglaterra começou por dizer que os riscos que eram já identificados pela instituição antes do referendo para um cenário de "Brexit" se confirmam. Isto é, que "a conjuntura económica mudou profundamente".
Mark Carney diz confiar que a resposta agora dada pode "reduzir a incerteza e limitar o abrandamento", dando a entender que, sem a acção do banco central, a previsão de 0,8% de crescimento em 2017 poderia ser ainda pior, podendo apontar mesmo para uma recessão.
No entanto, avisou, num recado claro ao Governo, que a política monetária tem os seus limites e que não vai conseguir contrariar totalmente o efeito negativo na actividade económica da decisão de saída da UE.
Ainda assim, o governador não quis deixar a imagem de estar agora de mãos atadas para fazer mais e garantiu que todas as medidas agora tomadas podem ser reforçadas, o que significa que o banco central está disposto a, se necessário, comprar mais dívida pública e empresarial e a colocar as taxas de juro a zero ou muito próximo.