Bienal de arte têxtil de Guimarães olha cada vez mais para o lugar onde é feita
Artistas que participam na terceira edição da Contextile, que começa este sábado, foram desafiados a trabalhar com as empresas da região e as bordadeiras do linho.
Quando a bienal Contextile nasceu, em 2012, a organização mostrou interesse em trazer a tradição têxtil do Vale do Ave para o contexto da arte contemporânea. Isso fazia sentido já que acontece em Guimarães, a cidade central dessa região industrial. Porém, nunca como nesta terceira edição, que começa este sábado, foi tão evidente a ligação do evento ao território. Os artistas em residência foram desafiados a pensar sobre este lugar e trabalharam com empresas da região e as bordadeiras do linho.
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Quando a bienal Contextile nasceu, em 2012, a organização mostrou interesse em trazer a tradição têxtil do Vale do Ave para o contexto da arte contemporânea. Isso fazia sentido já que acontece em Guimarães, a cidade central dessa região industrial. Porém, nunca como nesta terceira edição, que começa este sábado, foi tão evidente a ligação do evento ao território. Os artistas em residência foram desafiados a pensar sobre este lugar e trabalharam com empresas da região e as bordadeiras do linho.
A terceira Contextile parte de uma ideia de Guimarães como “território de cultura têxtil”. Não há um tema nesta bienal, mas existe esse mote para a reflexão, lembrando a importância que a indústria mantém na região. Os últimos anos têm sido de algum ressurgimento industrial no vale do Ave e, apesar de os tempos de mão-de-obra intensiva que duraram até à década de 1990 estarem longe, o têxtil “continua a ser a principal actividade económica e mantém a maior importância na comunidade”, resume Joaquim Pinheiro da associação Ideias Emergentes, que organiza a bienal.
A organização entendeu que fazia sentido introduzir a questão do território de uma forma mais evidente no programa desta edição da Contextile. Os artistas em residência foram desafiados a pensarem sobre o lugar em que trabalharam – ainda que essa não fosse uma temática obrigatória – o que se torna evidente de forma mais clara em três dos sete núcleos expositivos que compõem a bienal.
Por exemplo, Elena Brebenel (Roménia) e Inguna Levsa (Letónia) estiveram a trabalhar nas suas criações em duas empresas locais de têxteis para o lar. Essas obras, que exploram técnicas como a estampagem e os teares Jacquard, podem ser vistas na exposição patente na Casa da Memória. No mesmo espaço estão também os trabalhos de Sandra Heffman (Nova Zelândia), que trabalhou com as bordadeiras que preservam a técnica tradicional do bordado de Guimarães sobre o linho.
Noutro espaço da bienal, o edifício-sede da Sociedade Martins Sarmento, a norte-americana Cindy Steiler mostra Saudade, uma série em que cruza fotografia e técnicas de estampagem e bordado, trabalhadas com outra empresa local.
Uma das novidades da terceira edição da Contextile são os convites lançados a duas artistas nacionais para que criassem obras propositadamente para a bienal. Conceição Abreu e Isabel Quaresma foram as escolhidas e criaram os seus trabalhos a partir, por exemplo, de conversas com antigos trabalhadores da empresa têxtil que funcionava no edifício onde agora expõem e que actualmente acolhe o CAAA.
A ligação reforçada que a bienal quer ter com o território levou também a arte têxtil para o centro da cidade, com uma escultura de grandes dimensões que resulta de uma parceria entre estudantes da Universidade do Minho e do Centro de Design de Copenhaga. Essa torre têxtil ocupa o centro do largo do Toural, a principal praça de Guimarães, até ao final da bienal, em 16 de Outubro.
A Contextile também cresceu em número de espaços expositivos e ocupa boa parte dos espaços culturais locais da cidade, como Centro Internacional das Artes José de Guimarães, que recebe uma exposição individual de Ilda David', ou a extensão do Museu de Alberto Sampaio, no centro histórico, onde é exposta uma retrospectiva da Bienal de Lausane, na Suíça. Nos anos 1960 esta era a principal exposição mundial de arte em tapeçaria e, até ao seu desaparecimento, em 1995, tornou-se no território privilegiado de experimentação do que hoje é chamado de arte têxtil contemporânea.
A exposição internacional competitiva continua a ser o principal centro de toda a bienal e, este ano, registou uma duplicação do número de candidaturas (544 no total). Ainda assim a organização manteve o mesmo número de propostas seleccionadas, com 54 obras de 51 artistas em exposição na galeria do Centro Cultural Vila Flor, com obras de artistas do Japão, Taiwan ou Estados Unidos, bem como uma representação nacional.