Estaremos a ajudar a criar assassinos?
Em França já se omite o nome e os rostos dos autores de atentados terroristas. Um debate relevante.
Ontem soube-se o nome do segundo atacante no infame atentado que vitimou o padre Jacques Hamel. Era um jovem de 19 anos, natural da Saboia, nordeste de França, que a polícia só conseguiu identificar comparando amostras de ADN recolhidas do cadáver (a polícia matou os dois atacantes a tiro, à saída da igreja, depois de dado o alarme por uma das freiras feitas reféns, que conseguiu fugir enquanto o padre era degolado). O agora identificado seria um jihadista procurado pela polícia há dias, depois de uma agência estrangeira lhes ter enviado uma fotografia, dizendo pertencer a um homem que estaria prestes acometer um atentado no país. O atacante tem um nome e a polícia divulgou-o (tal como fez o PÚBLICO), mas em França foi aberto um debate entre os meios de comunicação acerca dessa divulgação. O diário Le Monde, por exemplo, decidiu não publicar fotografias dos assassinos. E a Rádio Europe 1, tal como o canal de televisão France 24 e o jornal católico La Croix decidiram não apenas não divulgar fotos mas também omitir os nomes de todos os que praticarem actos de terrorismo. Há um argumento sensível e compreensível para tais decisões: nos países onde estes atentados ocorrem, a difusão do rosto e nome dos autores pode corresponder ao seu desejo de “glorificação” do crime, tido por martírio guerreiro. O Le Monde argumenta, por exemplo, com a necessidade de “evitar eventuais efeitos de glorificação póstuma” e o psicanalista francês Fehti Benslama disse a este propósito, à AFP, que “quem comete tais atentados quer ser conhecido e reconhecido publicamente”. Por isso, evitar esse “conhecimento” é também evitar o “reconhecimento”, ou seja, a satisfação dos seus pares pelo crime cometido, que será também um incentivo a replicá-lo. É uma discussão que ainda está no início. Estaremos a ajudar a criar assassinos? A resposta obriga a uma reflexão ética e jornalística, que começou e segue agora o seu curso.
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Ontem soube-se o nome do segundo atacante no infame atentado que vitimou o padre Jacques Hamel. Era um jovem de 19 anos, natural da Saboia, nordeste de França, que a polícia só conseguiu identificar comparando amostras de ADN recolhidas do cadáver (a polícia matou os dois atacantes a tiro, à saída da igreja, depois de dado o alarme por uma das freiras feitas reféns, que conseguiu fugir enquanto o padre era degolado). O agora identificado seria um jihadista procurado pela polícia há dias, depois de uma agência estrangeira lhes ter enviado uma fotografia, dizendo pertencer a um homem que estaria prestes acometer um atentado no país. O atacante tem um nome e a polícia divulgou-o (tal como fez o PÚBLICO), mas em França foi aberto um debate entre os meios de comunicação acerca dessa divulgação. O diário Le Monde, por exemplo, decidiu não publicar fotografias dos assassinos. E a Rádio Europe 1, tal como o canal de televisão France 24 e o jornal católico La Croix decidiram não apenas não divulgar fotos mas também omitir os nomes de todos os que praticarem actos de terrorismo. Há um argumento sensível e compreensível para tais decisões: nos países onde estes atentados ocorrem, a difusão do rosto e nome dos autores pode corresponder ao seu desejo de “glorificação” do crime, tido por martírio guerreiro. O Le Monde argumenta, por exemplo, com a necessidade de “evitar eventuais efeitos de glorificação póstuma” e o psicanalista francês Fehti Benslama disse a este propósito, à AFP, que “quem comete tais atentados quer ser conhecido e reconhecido publicamente”. Por isso, evitar esse “conhecimento” é também evitar o “reconhecimento”, ou seja, a satisfação dos seus pares pelo crime cometido, que será também um incentivo a replicá-lo. É uma discussão que ainda está no início. Estaremos a ajudar a criar assassinos? A resposta obriga a uma reflexão ética e jornalística, que começou e segue agora o seu curso.