A revolução nos transportes do Grande Porto começa em Setembro
Anunciam-se mexidas no Andante para facilitar a vida aos utilizadores, que terão acesso a mais linhas de autocarro com tarifário intermodal. Mas há imensas zonas ainda a descoberto.
Setembro deve marcar o início de uma revolução no Andante, o sistema intermodal de transporte do Grande Porto, baseado num sistema tarifário e em cartões (passes e ocasionais) partilhados, até aqui, pela Metro, STCP e CP e oito empresas rodoviárias privadas. Com o regresso às aulas, mais 36 linhas de autocarros vão estar integradas no Andante, e a Área Metropolitana do Porto, que há um ano tutela o sector, vai mexer na organização das zonas e fazer uso do potencial das aplicações para telemóveis para aumentar o uso do transporte público na região.
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Setembro deve marcar o início de uma revolução no Andante, o sistema intermodal de transporte do Grande Porto, baseado num sistema tarifário e em cartões (passes e ocasionais) partilhados, até aqui, pela Metro, STCP e CP e oito empresas rodoviárias privadas. Com o regresso às aulas, mais 36 linhas de autocarros vão estar integradas no Andante, e a Área Metropolitana do Porto, que há um ano tutela o sector, vai mexer na organização das zonas e fazer uso do potencial das aplicações para telemóveis para aumentar o uso do transporte público na região.
As mudanças não vão acontecer de uma vez só, nem acabarão com um problema que existe desde a invenção do Andante. Criado com o metro, articulado com a STCP, com a CP e alguns operadores privados, o Andante vai continuar a não poder ser utilizado em 83% das linhas de autocarro existentes na região, que serão, agora, 988. É certo que estes títulos já têm 136 milhões de utilizações anuais, mas uma parte importante – e menos bem servida de transportes – do território, continua de fora deste sistema que começou a funcionar em 2002, e há quem pague um tarifário intermodal sem ter acesso, efectivamente, a mais do que um modo de transporte nas suas deslocações habituais.
A Área Metropolitana do Porto está apostada em recuperar rapidamente o tempo perdido pela inoperância a que foram votadas, durante anos, as anteriores autoridades metropolitanas de transporte. Na reunião desta sexta-feira, a equipa dos transportes, liderada por Avelino Oliveira, da Comissão Executiva do Conselho Metropolitano, vai mostrar aos autarcas o trabalho realizado até aqui, e que começou pela análise e validação de toda a oferta de transportes existente nos 17 municípios da AMP. Ao todo, 1283 linhas de 30 operadores foram passadas a pente fino (e passaram a constar de uma base de dados com geo-referenciação), o que permitiu perceber que 218 linhas não estavam a ser exploradas ou tinham desconformidades que têm ainda de ser resolvidas.
Ainda sem um estudo de mobilidade regional – essencial para se perceber as deslocações da população – a AMP está a trabalhar, para já, do lado da oferta. As 988 linhas que estão em conformidade vão manter-se, até 2019, com os respectivos operadores, e três deles, que até aqui não estavam no Sistema Andante, aceitaram aderir. As restantes novas linhas que reforçarão, já a partir de Setembro, o sistema intermodal, são operadas por empresas que já tinham outros trajectos integrados nesta intermodalidade, e que melhoram a cobertura em vários concelhos.
Só a título de exemplo, Matosinhos vai ter mais 942 km de rede a funcionar com o Andante, num aumento de 117% face à situação actual. Na Maia, os novos 1146 km percorridos por autocarros em regime intermodal representam mais 102%, e mesmo o Porto, onde toda a rede da STCP já faz parte do sistema, a entrada de 2221 km (linhas ligando a outros concelhos e garantidas por várias empresas), significa um aumento de cobertura de 66%.
Ainda do lado da oferta, a AMP assume que está a estudar, até ao final do ano, uma alteração do zonamento que o torne atraente para mais operadores, sem afastar clientes. O zonamento é uma ferramenta de fixação de tarifas e de distribuição das receitas entre as transportadoras, e neste momento algumas das empresas não aceitam fazer percursos (principalmente do interior para o litoral), por calcularem perdas de 25% no Andante em relação ao tarifário próprio que utilizam. Por isso, um habitante do interior da Póvoa de Varzim não consegue usar o seu título Andante para chegar ao Metro, por exemplo, porque as carreiras de que dispõe não o permitem.
Mas o próprio mapa das zonas, e a sua nomenclatura, tem os dias contados. O sistema parece ter sido desenhado para ser lido pelos directores de operação das empresas, e é estranho a qualquer utilizador comum, que não sabe que a Zona N6 fica no extremo Norte da AMP ou que a C16 (Central 16) se situa algures em Valongo. Num mapa a ser apresentado ainda este ano, as zonas vão ser identificadas pelos concelhos em que situam, num esforço de simplificação que se estenderá, também, aos próprios cartões, e respectivas funcionalidades.
A Área Metropolitana e a empresa Transportes Intermodais (que gere o Andante) no Porto estão a trabalhar numa aplicação que permitirá gerir e programar, em tempo real, uma viagem em transporte público na região. E, como anunciou o Ministro do Ambiente, estão a ser estudadas formas de desmaterializar, para um smartphone, os próprios títulos de viagem, poupando aos clientes o incómodo de terem de carregar o cartão se quiserem fazer uma viagem com um número de zonas diferente do que compraram anteriormente.
Os títulos ocasionais são usados em 25% das viagens na rede Andante, na qual predomina, com 75% das validações, o uso dos passes mensais. Cada cliente paga para circular por um determinado número de zonas, mas, na verdade, o que está a comprar, desde sempre, é um título mensal que só lhe permite viajar entre um ponto de origem e um ponto de destino habitual. Alguém que paga um Z3 e vive na Maia não pode, por exemplo, viajar do Porto para Gaia (título Z2). A limitação está identificada há muito mas não é apresentado, para já, um prazo para a eliminar.