“Tratamento salvou-me a vida, foi a minha prenda dos 60 anos”
Rui Reininho, 61 anos, vocalista dos GNR, conviveu 26 anos com o vírus da hepatite C.
Habituado a viver com o vírus da hepatite C ainda antes de a infecção ter sido baptizada com o nome definitivo (“chamava-se então hepatite não-A, não-B”, lembra), o vocalista dos GNR, Rui Reininho, assume que esteve bem perto de ser mais uma das vítimas mortais da doença. Ao longo de 26 anos, foi aprendendo a viver com o vírus, obrigou-se a uma vida mais cuidada, até ao momento em que os médicos o avisaram de que estava quase no limite, na fronteira entre a vida e a morte.
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Habituado a viver com o vírus da hepatite C ainda antes de a infecção ter sido baptizada com o nome definitivo (“chamava-se então hepatite não-A, não-B”, lembra), o vocalista dos GNR, Rui Reininho, assume que esteve bem perto de ser mais uma das vítimas mortais da doença. Ao longo de 26 anos, foi aprendendo a viver com o vírus, obrigou-se a uma vida mais cuidada, até ao momento em que os médicos o avisaram de que estava quase no limite, na fronteira entre a vida e a morte.
Em 2014, Rui Reininho nem sequer estava na lista de espera para transplante de fígado em Portugal, apesar de ter pensado nessa hipótese, seguindo o exemplo do que tinha feito anos antes Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, que se curou sem necessidade dos novos medicamentos. O autor de Pronúncia do Norte estava a aguardar, tal como os outros doentes, pela aprovação e disponibilização dos novos antivíricos e sublinha que o homem que, no Parlamento, pediu ao ex-ministro Paulo Macedo para não o deixar morrer “foi bastante corajoso”.
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As novas substâncias chegaram assim para Reininho, que viu amigos e conhecidos a não resistir ao vírus enquanto esperavam, precisamente “na altura certa”. Faltavam alguns dias para completar 60 anos. “Foi a minha prenda”, brinca.
Começou a tomar os comprimidos em 9 de Fevereiro de 2015 (ele faz anos a 28 desse mês) e, na primeira análise, em Março, já tinha “negativado”. Para quem tinha ponderado antes a hipótese de fazer um transplante de fígado e chegado a equacionar a possibilidade de ir à Índia comprar os medicamentos inovadores, ficar sem sinais do vírus em apenas de um mês representou “algo de extraordinário”. “Salvou-me a vida”, remata o vocalista dos GNR que, no final de 2015, foi dado como curado.
“Durante anos não tive manifestações da doença, daí o perigo. Um infectado é como uma bomba-relógio… Depois, tentei tratar-me. Negativizei por duas vezes, só que, passados meses, o vírus reapareceu.” Reininho experimentou na pele a dureza do tratamento com interferão. “Era violentíssimo”, com injecções três vezes por semana, associado à ribavirina e outras variantes, durante um processo que durava “um ano e três meses”. Sentia-se “permanentemente arrasado”.
Em 2014, admite, ficou “desmoralizado” e pensou em desistir. “Estava à espera há um ano…” Nessa altura via o futuro a desintegrar-se. Estava, sintomaticamente, a compor o álbum Caixa Negra — era essa a cor com que via o mundo. “Eu estava num limbo, reequacionei muita coisa. O disco sai numa altura em que me sentia ‘vai, não vai’”, descreve. “Mas também pensava: já vivi 60 anos, não me arrependo de quase nada a não ser da qualidade dos bagaços”, ironiza.
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Agora oficialmente curado, o lema do vocalista dos GNR é “nada de começar a estragar o fígado, de beber champanhe, acabou-se o bacalhau assado e os rojões”. Cortou completamente com o cloreto de sódio, com fritos, com carnes, tornou-se quase vegetariano. A dieta resultou. Se antes sentia “imensas dificuldades a nível orgânico”, agora consegue aguentar espectáculos “de hora e meia a duas horas com outra energia”. Os valores do fígado voltaram aos dos anos 1970. Ora, acontecer isto a alguém que tem 61 anos é fenomenal, até porque “os artistas não têm outras fontes de rendimento”, enfatiza.
A um ano de completar 40 anos de actividade, o vocalista afirma-se assim muito responsável e sabe que, apesar de considerado curado, tem que continuar com a vigilância e a cuidar de si. Até porque está a usufruir de uma espécie de segunda vida. “Agora tenho que ter muito cuidado a atravessar a rua…”